São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

Próximo Texto | Índice

GUERRA À VISTA

No rádio, presidente dos EUA exige apoio parlamentar para ação contra o Iraque; deputado americano visita Bagdá

Bush pressiona Congresso a aprovar ataque

Faleh Kheiber/Reuters
O deputado americano Nick Rahall visita criança com leucemia e a sua mãe em hospital de Bagdá


DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, fez ontem o mais forte apelo à população americana por apoio a uma eventual ação militar contra o Iraque. Em seu programa semanal de rádio, Bush exigiu do Congresso de seu país uma posição firme contra Bagdá.
Ele repetiu os argumentos que apresentou em discurso na ONU, na quinta-feira, dizendo que uma ofensiva contra o ditador Saddam Hussein será "inevitável" se ele seguir desrespeitando resoluções do Conselho de Segurança que determinam a destruição de suas armas de destruição em massa.
"O regime de Saddam Hussein já provou ser um perigo grave e crescente. Sugerir o contrário é ter esperanças contrariando as provas", afirmou o presidente, que, pela primeira vez, dedicou todo o tempo a que tem direito no rádio para falar sobre o Iraque.
"Acreditar na boa fé desse regime seria apostar a vida de milhões e a paz do mundo. E esse é um risco que não devemos correr."
Ele disse que o Congresso deve "deixar inequivocamente claro que, quando chegar a hora de confrontar o perigo causado pelos esforços iraquianos para adquirir armas de destruição em massa, o status quo é inaceitável".
Bush pressiona o Conselho de Segurança a aprovar nova resolução com um ultimato para que o Iraque aceite a volta dos inspetores de armas. Antes de encontro com o premiê italiano, Silvio Berlusconi, Bush disse que a ONU precisa "mostrar alguma determinação" e "sua relevância". E repetiu que os EUA estão prontos para agir unilateralmente: "Não se enganem. Se tivermos de lidar com o problema, nós lidaremos."
O vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz, disse ontem que o país poderia analisar a proposta do presidente francês, Jacques Chirac, para a volta das inspeções de armas da ONU, se ele garantisse que isso impediria um ataque dos EUA. As inspeções, determinadas pela ONU após a Guerra do Golfo (1991), foram interrompidas em 1998, após o Iraque acusar os inspetores de espionar para os EUA.
"Chirac pode dar garantias de que isso evitaria a agressão? Ele nos ajudará a defender nossa soberania frente a uma agressão?", questionou Aziz em uma entrevista ontem em Bagdá. "Se estiverem dispostos a assumir sua responsabilidade até o final, poderemos examinar sua proposta."
Ministros das Relações Exteriores de países árabes advertiram ontem, após encontro nas Nações Unidas, que o Iraque deve atender as resoluções da ONU sobre inspeções para evitar um ataque.

Oposição democrata
Apesar dos chamados do governo dos EUA por uma decisão rápida sobre a necessidade de usar a força contra Saddam, senadores democratas (de oposição) pretendem adiar a votação sobre o assunto até depois das eleições para o Congresso, em 5 de novembro.
Argumentam que Bush ainda tem de explicar à população de que forma um conflito contra o Iraque afetaria a "guerra contra o terror", quem sucederia Saddam no poder e até que ponto a comunidade internacional estaria disposta a apoiar uma invasão.
Altos funcionários do governo dos EUA sustentam que Bush teria o direito de lançar campanha militar sem autorização prévia do Congresso. Politicamente, porém, interessa ao governo obter dos parlamentares um voto favorável à guerra, o que legitimaria a sua ofensiva no cenário doméstico.
O deputado americano democrata Nick Rahall iniciou ontem visita a Bagdá, onde defendeu a adoção de medidas para evitar uma guerra. "É hora de esfriar a retórica e começar um diálogo entre os dois países", disse Rahall, durante encontro com o vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz.
Rahall é o primeiro deputado dos EUA a viajar a Bagdá em vários anos. Ele visitou crianças em um hospital para observar o sofrimento causado à população por sanções econômicas impostas após o Iraque invadir o Kuait, em 1990, fato que motivou a Guerra do Golfo. Um integrante da delegação de Rahall disse que ele pediria às autoridades que aceitassem o retorno incondicional de inspetores de armas da ONU.
Ele disse concordar com o governo em que "Saddam deve partir", mas que tem "sérias dúvidas" sobre a atual política americana. "Por que agora, dois meses antes de uma eleição? Por que a ameaça é agora tão séria e não o era há um ano? Não vejo ligações entre o Iraque e o 11 de setembro", afirmou.


Com agências internacionais

Próximo Texto: Ação preventiva fere lei internacional, dizem analistas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.