São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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EUA repensam sua defesa depois dos atentados

DA REPORTAGEM LOCAL

O Departamento da Defesa americano iniciou um processo de repensar a defesa da maior potência militar do planeta para enfrentar as ameaças convencionais e as chamadas "assimétricas", caracterizadas por um inimigo que usa armas radicalmente diferentes, explorando as fraquezas do adversário, como fizeram os terroristas em 11 de setembro.
No Afeganistão o desafio era único, e os americanos tinham o fracasso soviético dos anos 80 como lição. Obviamente os EUA poderiam ter tentado a mesma solução -uma maciça invasão convencional por tropas terrestres apoiadas pela aviação. Mas não se tratava apenas de invadir um país para depor um governo.
A resposta americana envolveu o que seus militares chamam de "um novo estilo" de guerra. A lição básica envolveu adaptar o enorme arsenal americano a um inimigo em parte "simétrico", em parte "assimétrico".
O fanático grupo religioso que dominava o país, o Taleban, tinha também seus tanques e soldados. Apesar desse armamento, a verdadeira força e o controle exercido sobre o Afeganistão pelo Taleban e pela rede terrorista Al Qaeda eram algo intangível, na definição do especialista americano Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
"Parecia ser uma guerra longa e difícil, dado o poderio pré-guerra do Taleban e a fraqueza da oposição. A incerteza crucial era sempre o quão leal ou hostil cada grupo étnico importante seria ao Taleban e à Al Qaeda, e o colapso catalítico do Taleban certamente ocorreu tanto por razões políticas e étnicas como pelas militares", afirmou Cordesman.
É por isso que, no seu relatório anual ao presidente e ao Congresso, recém-divulgado, o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, colocou em primeiro lugar o aspecto "multidisciplinar" do conflito.
O relatório lembra literalmente uma velha máxima, "a melhor defesa é o ataque", o mesmo que dizia no século 18 o rei Frederico, o Grande, da Prússia -"aquele que tenta tudo defender tudo perde". Por isso os americanos começaram a caçar terroristas não só no Afeganistão como em outras partes do mundo, tentando matar o mal pela raiz. Isso está por trás de deslocamentos de tropas ou assessores militares para a Ásia Central, para as Filipinas e também para a vizinha Colômbia, apesar de a guerra ao narcotráfico ter ficado em segundo lugar depois do "terror".
O relatório de Rumsfeld afirma claramente que o equipamento "high-tech" não substitui totalmente o velho e convencional e que as armas guiadas que antes eram saudadas por sua "precisão cirúrgica" só foram eficazes graças "às fora de moda botas no terreno" (isto é, os soldados em terra que apontavam os alvos para os aviões e os mísseis).
Até o final da Guerra Fria relatórios de secretários da Defesa eram obcecados pela rivalidade com a União Soviética. Páginas e páginas incluíam comparações sobre forças estratégicas, navais e terrestres da Otan (aliança ocidental) e do rival Pacto de Varsóvia.
"Estados delinquentes", na visão americana, como Iraque, Irã, e Coréia do Norte, passaram a ser os vilões depois, com ênfase nos seus programas de produção de armas químicas, biológicas, radiológicas ou nucleares. (RBN)


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