São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Carro-bomba explode perto de fila de recrutamento de policiais na capital, mata 47 e fere mais de cem

Atentados e confronto matam 69 no Iraque

DA REDAÇÃO

A violência prosseguiu ontem no Iraque, com ataques terroristas e choques com forças americanas fazendo ao menos 69 mortos e 114 feridos. Em Bagdá, um carro-bomba explodiu em zona movimentada e, em Baquba, os ocupantes de uma van da polícia foram metralhados em emboscada.
O Tawhid e Jihad, grupo do terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi, ligado à rede Al Qaeda, assumiu os dois ataques.
A explosão do carro-bomba aconteceu na avenida central Haifa, a mesma onde no domingo choque entre americanos e manifestantes deixou dezenas de mortos. A região é repleta de lojas e cafés e também abriga uma sede da polícia iraquiana. Apesar de o ataque aparentemente ter tido como alvo as forças de segurança -havia uma fila com candidatos a empregos na polícia-, muitos dos 47 mortos eram pessoas que estavam fazendo compras ou tomando café da manhã.
"Segundos antes, as pessoas estavam bebendo chá ou comendo sanduíches e então eu podia ver membros pendurados nas árvores. Pessoas queimando corriam em todas as direções", disse Mahdi Mohammed, que estava do lado de fora de sua barbearia.
Enquanto os feridos eram levados para hospitais, paramédicos recolhiam pedaços de corpos e os colocavam em caixas. Depois, uma multidão se reuniu e gritou slogans contra o presidente norte-americano, George W. Bush, e o premiê iraquiano interino, Iyad Allawi, "Bush é um cachorro", dizia um dos refrões.
Em Baquba, uma emboscada matou 11 policiais e um civil. Eles tinham saído de Qanaqin para pegar passaportes e documentos para viajarem para a Jordânia, onde fariam treinamento.
"Os policiais estavam em uma van quando dois carros fecharam seu caminho. Vários homens saíram e começaram a metralhar", disse um porta-voz da polícia.
Em Ramadi, choques entre forças americanas e rebeldes causaram a morte de dez iraquianos.
As forças americanas e iraquianas começaram ontem a permitir o retorno de civis a Tal Afar. O fim do bloqueio aconteceu um dia depois de a Turquia ameaçar interromper sua colaboração com a coalizão -Tal Afar abriga uma minoria turca.
Em entrevistas a TVs árabes, o chanceler italiano, Franco Frattini, disse que seu país não dará ouvidos a ameaças. "Exigimos a libertação das reféns italianas que estavam fazendo trabalho humanitário", afirmou. A condição das duas italianas e dos dois jornalistas franceses que estão seqüestrados continua inalterada. Ontem foi divulgada na internet uma mensagem supostamente colocada pelos seqüestradores dos jornalistas que afirma que a França é "inimiga de Deus".
Em Madri (Espanha), o presidente francês, Jacques Chirac, disse que "a situação é grave e não melhora. Abrimos uma caixa de Pandora que não somos capazes de fechar". No Cairo (Egito), o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, fez declaração parecida. "As portas do inferno estão abertas no Iraque."
Apesar da posse do governo interino no final de junho, a violência dos insurgentes contra as forças americanas e iraquianas vem aumentando. De abril de 2003 a maio deste ano, 710 policiais iraquianos foram assassinados. Desde maio, pelo menos mais 180 foram mortos em ataques contra instalações da polícia.
Um advogado britânico denunciou ontem que os americanos torturaram iraquianos também em Mossul. Phil Shiner, que defende iraquianos em ação contra soldados britânicos, colheu depoimentos de prisioneiros que foram espancados. Um deles disse ter visto um rapaz de 14 anos sangrando pelo ânus. Um porta-voz militar americano se disse "surpreso": "Eu visitei a prisão e vi o bom trabalho que eles têm feito".


Com agências internacionais


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