São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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Explosão deixa sangue e pedaços de corpos na rua

MARIAM KAROUNY
DA REUTERS, EM BAGDÁ

Uma idosa lavava ontem, com esguicho, o chão de um hospital de Bagdá, tentando em vão remover as poças de sangue que se formavam no local. "O sangue não pára de correr", disse a senhora, dizendo chamar-se Amina. "É a terceira vez que lavo o chão. É como um rio em tempo de cheia. O hospital inteiro está sangrando."
Com seus aventais brancos ensangüentados, médicos abriam caminho em meio aos feridos deitados em macas nos corredores do hospital de Karkh. Alguns tinham braços ou pernas faltando.
Um enorme carro-bomba explodiu num mercado lotado de Bagdá, espalhando pedaços de corpos humanos pelas ruas, derrubando árvores e saturando o ar de fumaça e do mau cheiro de carne humana queimada.
"Vi uma explosão negra, e, depois, havia corpos por toda parte", contou o garoto de 12 anos Omar Salem, que passeava calmamente de bicicleta entre os corpos queimados. "Nunca antes vi tantos cadáveres", comentou, sem dar sinal de emoção.
O cenário em volta de Omar era algo que nenhum ser humano -muito menos uma criança- deveria ser obrigado a testemunhar. Carne humana estava grudada nas paredes internas e externas das lojas.
Testemunhas disseram que centenas de pessoas estavam cuidando de seus afazeres na rua Haifa, reduto de rebeldes em Bagdá, quando pelo menos um carro-bomba explodiu, matando 47 iraquianos e deixando mais de 114 feridos, no ataque mais mortífero dos últimos seis meses na capital iraquiana. Algumas pessoas estavam trabalhando, outras faziam compras e ainda outras formavam uma fila diante de uma delegacia central de polícia para tentar ingressar na nova força policial.
Transeuntes e ambulâncias prestaram socorro, arrastando as vítimas para os veículos mais próximos. Não havia macas suficientes para todos. Os cadáveres eram deixados onde tinham caído, na calçada ou na rua.
A explosão abriu uma cratera de dois metros na rua e incendiou nove carros. Segundo testemunhas, podem ter ocorrido explosões simultâneas. No hospital, o necrotério ficou lotado.


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