São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RÚSSIA

Mas a reação de EUA e Europa à intenção do presidente de concentrar poder é morna; Conselho da Europa quer mediar diálogo

Powell critica ação centralizadora de Putin

Serguei Grits/Associated Press
Soldado permite que crianças olhem classe em Beslan, na Rússia


DA REDAÇÃO

A intenção do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de concentrar poderes por meio de uma reforma política, que suprimirá eleições para governadores e reduzirá o número de partidos, para combater o terrorismo tchetcheno gerou preocupação na comunidade internacional. Mas as reações não foram enérgicas.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse estar preocupado com a intenção de Putin, já que, se aplicadas, as medidas propostas minariam as reformas democráticas ocorridas na Rússia desde o fim da URSS (1991).
"Realmente, as medidas representam uma reversão das reformas democráticas. Estamos preocupados com isso e queremos discutir esse tema com os russos", afirmou Powell em entrevista à agência de notícias Reuters.
Putin disse anteontem que quer a adoção de uma nova lei eleitoral para reforçar o poder do Estado no combate ao terrorismo tchetcheno. Na Rússia, seus críticos reagiram imediatamente e afirmaram que ele busca usar o trágico desfecho do seqüestro na escola de Beslan, na Ossétia do Norte, na qual 327 reféns morreram, para fortalecer sua posição.
Embora tenha reconhecido que a Rússia precisa combater com dureza o terrorismo tchetcheno, que, nos últimos 30 dias, foi responsável pela crise de Beslan, pela explosão de dois aviões Tupolev e por um ataque a uma estação de metrô em Moscou, Powell disse que a Rússia não pode esquecer as liberdades democráticas.
"Entendemos a necessidade russa de combater o terrorismo. Em seus esforços para encontrar os terroristas, porém, qualquer país deve encontrar um equilíbrio para não privilegiar uma direção que o distancie das reformas democráticas", afirmou Powell.
Já o Parlamento Europeu disse que vai acompanhar atentamente as mudanças propostas por Putin e pediu ao governo russo que respeite "as liberdades democráticas e os direitos humanos".
O Conselho da Europa, a principal organização de defesa dos direitos humanos européia, revelou que tem planos para mediar negociações entre autoridades russas e rebeldes separatistas tchetchenos, buscando reduzir a onda de violência que atinge o Cáucaso.
Segundo Andreas Goss, do Conselho da Europa, membros russos da organização estão examinando os planos, cujos detalhes não foram revelados. Vale lembrar que Moscou descarta a possibilidade de negociar com os tchetchenos, considerados majoritariamente "terroristas".
Antes do 11 de Setembro, os americanos e, sobretudo, os europeus eram muito mais enérgicos quando autoridades russas tomavam medidas que atentavam contra os direitos civis, principalmente na Tchetchênia. Depois dos atentados de 2001, Putin vem tentando associar sua luta contra o terror tchetcheno ao combate ao terrorismo internacional protagonizado pelos EUA.
A Rússia anunciou que dará mais US$ 5,4 bilhões às agências de segurança do país responsáveis pelo combate ao terrorismo, indicando que busca mostrar agilidade no tratamento do tema, considerado prioritário por Putin.
Em Londres, porém, Ahmed Zakayev, representante do ex-presidente tchetcheno Aslan Maskhadov, disse que a atual política oficial russa para a Tchetchênia provocará outras ações similares à ocorrida na escola de Beslan.

Com agências internacionais


Texto Anterior: Eleição nos EUA: Bush pratica marxismo-darwinismo, diz mexicano
Próximo Texto: Medidas são tema interno russo, afirma Amorim
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.