São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Ex-premiê paquistanesa anuncia retorno

Após impasse no acordo de divisão do poder com Musharraf, Benazir diz que o povo quer a democracia

DA REDAÇÃO

A ex-premiê paquistanesa Benazir Bhutto anunciou ontem que voltará ao país em 18 de outubro, após oito anos de exílio. "Nosso povo está cansado e quer a restauração da democracia", disse Bhutto em entrevista à rede britânica BBC. Os meses de longas conversas entre Benazir e o general Pervez Musharraf, ditador do Paquistão, não levaram a um consenso sobre um possível acordo de divisão de poder.
A ex-premiê, que nos últimos meses vinha sendo cautelosa em suas declarações, prometeu liderar um movimento pela restauração da democracia. "Não acredito que esta política de ameaças, intimidações e chantagens pela apropriação do Judiciário funcionará no Paquistão", disse Bhutto, ré em processos por corrupção.
O governo afirmou que a líder do PPP (Partido do Povo Paquistanês) não será deportada, como ocorreu há cinco dias com o também ex-premiê Nawaz Sharif ainda no aeroporto, a despeito da determinação da Suprema Corte que garantia seu "direito inalienável" de retorno. Benazir teria, porém, que enfrentar os processos judiciais.
Antigos parceiros na Aliança pela Restauração da Democracia, Sharif e Benazir adotaram estratégias opostas para retornar ao Paquistão. Sharif, que lidera um dos partidos oriundos da Liga Muçulmana, apostou em confronto explícito, nas ruas e nos tribunais. Deportado, está em prisão domiciliar na Arábia Saudita, mas consolidou seu nome como opositor inconteste do regime.
Encorajada por Washington, que aposta numa aliança com o PPP para salvar Musharraf, Benazir optou por negociar com o ditador. As credenciais democráticas do secular PPP saíram chamuscadas, mas ela pode esperar uma recepção menos hostil por parte do regime na volta para casa -a operação anti-Sharif incluiu o bloqueio do acesso ao aeroporto, dos sinais de celular e a prisão de centenas de apoiadores.
Em seu site, o PPP afirma que a volta da ex-premiê não tem relação com as negociações com Musharraf e nega que a data tenha sido deliberadamente calculada para evitar confronto com o regime -as eleições presidenciais, indiretas, serão realizadas até o dia 15 de outubro, segundo Musharraf. A legitimidade de uma recondução do ditador pelo atual Congresso, cujo mandato expira neste ano, é questionada juridicamente. Com a expulsão de Sharif, o regime já demonstrou, porém, estar em rota de coalizão com o Judiciário.
As eleições, legais ou não, podem ser convocadas a qualquer momento, a partir de hoje. A base governista tem maioria no Parlamento, mas dificilmente conseguirá manter a hegemonia após as eleições gerais -caso sejam realizadas, o que é incerto. Do "híbrido entre democracia e ditadura" descrito pela revista "Economist", o regime Musharraf converteu-se numa forma ditatorial mais clássica.
Mais do que as urnas, as pressões internacionais ou uma eventual convulsão social estão entre as principais ameaças ao regime.


Com agências internacionais


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