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Ex-premiê paquistanesa anuncia retorno
Após impasse no acordo de divisão do poder com Musharraf, Benazir diz que o povo quer a democracia
DA REDAÇÃO
A ex-premiê paquistanesa
Benazir Bhutto anunciou ontem que voltará ao país em 18
de outubro, após oito anos de
exílio. "Nosso povo está cansado e quer a restauração da democracia", disse Bhutto em entrevista à rede britânica BBC.
Os meses de longas conversas
entre Benazir e o general Pervez Musharraf, ditador do Paquistão, não levaram a um consenso sobre um possível acordo
de divisão de poder.
A ex-premiê, que nos últimos
meses vinha sendo cautelosa
em suas declarações, prometeu
liderar um movimento pela
restauração da democracia.
"Não acredito que esta política
de ameaças, intimidações e
chantagens pela apropriação
do Judiciário funcionará no Paquistão", disse Bhutto, ré em
processos por corrupção.
O governo afirmou que a líder do PPP (Partido do Povo
Paquistanês) não será deportada, como ocorreu há cinco dias
com o também ex-premiê Nawaz Sharif ainda no aeroporto,
a despeito da determinação da
Suprema Corte que garantia
seu "direito inalienável" de retorno. Benazir teria, porém,
que enfrentar os processos judiciais.
Antigos parceiros na Aliança
pela Restauração da Democracia, Sharif e Benazir adotaram
estratégias opostas para retornar ao Paquistão. Sharif, que lidera um dos partidos oriundos
da Liga Muçulmana, apostou
em confronto explícito, nas
ruas e nos tribunais. Deportado, está em prisão domiciliar na
Arábia Saudita, mas consolidou
seu nome como opositor inconteste do regime.
Encorajada por Washington,
que aposta numa aliança com o
PPP para salvar Musharraf, Benazir optou por negociar com o
ditador. As credenciais democráticas do secular PPP saíram
chamuscadas, mas ela pode esperar uma recepção menos
hostil por parte do regime na
volta para casa -a operação anti-Sharif incluiu o bloqueio do
acesso ao aeroporto, dos sinais
de celular e a prisão de centenas de apoiadores.
Em seu site, o PPP afirma
que a volta da ex-premiê não
tem relação com as negociações com Musharraf e nega que
a data tenha sido deliberadamente calculada para evitar
confronto com o regime -as
eleições presidenciais, indiretas, serão realizadas até o dia 15
de outubro, segundo Musharraf. A legitimidade de uma recondução do ditador pelo atual
Congresso, cujo mandato expira neste ano, é questionada juridicamente. Com a expulsão
de Sharif, o regime já demonstrou, porém, estar em rota de
coalizão com o Judiciário.
As eleições, legais ou não, podem ser convocadas a qualquer
momento, a partir de hoje. A
base governista tem maioria no
Parlamento, mas dificilmente
conseguirá manter a hegemonia após as eleições gerais -caso sejam realizadas, o que é incerto. Do "híbrido entre democracia e ditadura" descrito pela
revista "Economist", o regime
Musharraf converteu-se numa
forma ditatorial mais clássica.
Mais do que as urnas, as pressões internacionais ou uma
eventual convulsão social estão
entre as principais ameaças ao
regime.
Com agências internacionais
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