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Chávez acusa general boliviano de golpismo
Subindo tom de acusações, venezuelano afirma que o comandante Luis Trigo incitou subordinados a não cumprir ordens do governo
Aliado de Morales compara chefe militar ao general Augusto Pinochet antes do golpe no Chile que derrubou Salvador Allende em 1973
Dado Galdieri/Associated Press
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Armados com paus e pedras, camponeses simpatizantes do presidente Evo Morales montam guarda em bloqueio de estrada próxima a Santa Cruz de la Sierra
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A VILLAMONTES
Pelo segundo dia consecutivo, o presidente venezuelano,
Hugo Chávez, aliado estratégico de La Paz, atacou duramente
o comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Luis
Trigo, a quem acusou de desobedecer ordens do colega de
Evo Morales e o comparou a
militares venezuelanos que facilitaram a tentativa de golpe
contra ele em 2002.
Quando, ainda no sábado,
Chávez acusou Trigo de se recusar a proteger a população
boliviana diante os ataques violentos da oposição, a Folha
apurou que os comandantes da
Forças Armadas do país convocaram reunião extraordinária
para avaliar as declarações.
Ao menos uma ala dos militares exigia uma defesa pública
de Morales. Mas, até o fechamento desta edição, não havia
resposta da Presidência da Bolívia ou do comando militar.
Chávez disse ter sido informado "diretamente" que anteontem à noite o comandante
das Forças bolivianas havia ordenado que seus soldados se
recolhessem aos quartéis e
abandonassem o aeroporto de
Cobija, capital de Pando, departamento sob estado de sítio
desde sexta-feira. "Coisa estranha, general Trigo!".
Contou ainda que, "felizmente", oficiais de outras hierarquias e soldados leais ao governo estão cumprindo a ordem do presidente boliviano.
Por fim, lembrou que general
chileno Augusto Pinochet
(1973-1990) fingiu até o último
momento estar ao presidente
Salvador Allende no Chile, a
quem derrubou.
Ontem, o senador oposicionista Paulo Bravo disse que oficiais de escalão intermediário
que serviam em Cobija foram
afastados.
A ofensiva de Chávez contra
Trigo iniciou-se quando o general advertiu, em comunicado
dos militares, que não aceitaria
ingerência de qualquer origem
em assuntos do país e que defenderia o governo. O venezuelano havia repetido que daria
apoio militar à resistência a um
eventual golpe contra Morales.
Só ontem o ministro da Defesa boliviano, Walker San Miguel, referiu-se à questão, para
referendar o comandante militar. "Os bolivianos resolvemos
nossos problemas."
Crise e divisões
Chávez é o principal aliado
político e econômico de Morales, inclusive em matéria de
cooperação militar. Caracas financiou boa parte de armamentos e até prédios militares
da Bolívia. São helicópteros cedidos por Chávez, também com
militares venezuelanos, que
transportam Morales pelo país.
Fontes diplomáticas, políticos opositores e analistas concordam que o venezuelano e o
governo gozam de simpatia no
alto comando militar, até pelos
benefícios diretos do caixa
mais gordo. Mas há uma ala, em
especial de postos médios, que
sempre se mostrou insatisfeita
com a onipresença venezuelana e/ou desconfortável com o
projeto esquerdista-indigenista de Morales.
Chávez, porém, fala da discordância de Trigo e da lealdade de escalões mais baixos.
Integrantes históricos do
MAS, o partido de Morales, já
suspeitavam, nos bastidores,
do compromisso do general
com o governo. É preciso lembrar que, antes da Venezuela,
os EUA eram o parceiro principal das forças bolivianas, em especial por conta da cooperação
para combater o narcotráfico.
Os soldados rasos seriam
leais ao presidentes, ainda que
houvesse, na semana passada,
um desconforto geral pela
atuação dos militares na repressão dos ataques violentos
da oposição a prédios públicos
e infra-estruturas energéticas.
O alto comando reclamava nos
bastidores de um marco legal
para atuarem sob temor de serem processados no futuro por
eventuais mortes.
De todo modo, no núcleo político de La Paz, lamenta-se cada declaração de Chávez sobre
o país, ainda mais no contexto
de grave crise. É conhecido que
o vice-presidente, Álvaro García Linera, é crítico da "relação
carnal" La Paz-Caracas. Avalia-se que cada nova declaração, a
mais neutra que seja, vai direto
para a propaganda da oposição.
Antes do referendo, no último
dia 10, governistas pediram expressamente a Chávez que não
se pronunciasse. O venezuelano não atendeu.
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