São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2010

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Quer pagar quanto?

Em plena campanha eleitoral na Venezuela, Hugo Chávez ataca de garoto-propaganda de eletrodomésticos chineses a ‘preços socialistas’ em lojas subsidiadas

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Desejam uma geladeira? Uma máquina de lavar? Um ar-condicionado para o calor caribenho de Caracas?

Em plena campanha para as eleições legislativas do dia 26, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, lançou um programa para vender eletrodomésticos a "preços socialistas" que começará, "em breve", na rede estatal de supermercados.
"Tremenda máquina de lavar. Grandíssima!", disse na última sexta, ao vivo, pela TV estatal, num comando de cena que causaria inveja ao garoto-propaganda das Casas Bahia.
Logo foi a vez do reclame do ar-condicionado. Lado a lado, os aparelhos importados da China e os "capitalistas". "Abre mais a imagem, compadre, para que vejam os aparelhos completos. Para que se comparem", instruía ao câmera-man.
"Esse é dos ruins", começou Chávez, apontando para o modelo "capitalista". Em seguida, se solidarizou com o aparelho: "O pobre ar não é capitalista. Não tem culpa. É produto do trabalho do homem e transformam em mercadoria", ensinou. "Olha esse chinês-venezuelano! Tipo ventilador. Te vendo por mil bolívares."
O ar-condicionado chinês Haier custará 1.024 bolívares fortes, US$ 238 no câmbio oficial. "A economia é de 60%. Não é como esses capitalistas que dizem ofeeeeerta! E só tiram um bolívar." Palmas da plateia, na região do Petare, complexo de favelas ao leste de Caracas.
Ao fundo, cartazes exibiam o nome do programa: "Minha Casa Bem Equipada". Serão 300 mil máquinas de lavar, anunciou Chávez. "E por aí vêm o navio com as TVs!" Mais palmas.
Para ter o novo eletrodoméstico, o venezuelano usará um cartão de crédito, o "Bom Viver", a ser lançado pelo estatal Banco de Venezuela, outra oferta de campanha. O banco fechou com a brasileira Caixa Econômica Federal um convênio para se capilarizar em favelas.

REVOLUÇÃO PELA TV
Não é a primeira vez que Chávez se dedica à televenda -os celulares estatais Orinoquia, em 2008, foram um êxito. Mas não é o apelo comercial do presidente que preocupa a oposição.
Ele é o principal garoto-propaganda governista rumo à Assembleia Nacional e as pesquisas de opinião Hinterlaces e IVAD apontam repique de sua popularidade.
É Chávez que estampa cartazes e lidera as caravanas na TV. Segundo a ONG ligada à oposição Súmate, em 15 dias de campanha, ele gastou 63 horas na TV, parte delas em cadeias obrigatórias.
Segundo a Hinterlaces, o presidente passou de 39% de aprovação em março para 46% em agosto, apesar da crise econômica, de segurança e dos apagões.
É difícil fazer previsões sobre os resultados eleitorais com base em pesquisas públicas. Nas medições nacionais, oposição e governo aparecem empatados, na margem de erro.
Mesmo que ganhe em seus bastiões, porém, os opositores poderão tirar de Chávez a maioria qualificada. É improvável que capturem o maior número de cadeiras. Não à toa Chávez esmerou-se no televendas do Petare. Perdeu lá as últimas três eleições.
Não faltou a distribuição da comida da geladeira à venda. "Olha, essa geladeira está lotada. Onde estão as crianças? Que venham os meninos que eu vou distribuir iogurte [de uma fábrica nacionalizada]. Deixa! Solta o menino. Primeiro o loirinho, que chegou primeiro..."

FOLHA.com

Veja o vídeo
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