São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2005

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Soldados que vão ao Haiti treinam como polícia

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CAÇAPAVA

Em vez de munição de verdade, a espingarda calibre 12 dispara balas de borracha. Já as granadas de luz e som substituem os artefatos bélicos que soltam estilhaços muitas vezes mortais. É com equipamento e treinamento parecidos aos de uma tropa de choque que o quarto contingente militar brasileiro treina para a difícil tarefa de fazer a segurança da violenta e paupérrima capital haitiana, Porto Príncipe, a partir de dezembro, em plena campanha eleitoral.
"Houve um grande aumento desse tipo de treinamento. A intenção é que se obedeça ao princípio da proporcionalidade, que é o de causar menos danos", disse à Folha o tenente Borges Campos. Integrante do segundo contingente (dezembro de 2004 a junho), ontem ele instruía os futuros enviados num campo do Exército em Caçapava, sob um calor "haitiano" em torno dos 30C.
"Do segundo contingente para cá, aumentou também a variedade desse tipo de armamento. Agora, por exemplo, há granadas de efeito moral", disse o tenente.
Todos os integrantes do Batalhão Haiti, formado por 1.050 homens, treinarão com as armas não-letais. No primeiro contingente, apenas os militares vindos da Polícia do Exército tinham essa preparação. Cada contingente fica seis meses no Haiti.
A maioria do batalhão é formada por militares de São Paulo e do Rio de Janeiro.Também será enviada uma companhia de engenharia de 150 homens escolhidos de unidades da Amazônia. Ao todo, o contingente brasileiro tem 1.200 homens.
"O armamento não-letal é usado para conter manifestações e visa o processo eleitoral", disse o coronel Luiz Augusto Santiago, futuro comandante do Batalhão Haiti. "Você não leva um fuzil ao Haiti para empregar como se estivesse num combate. Não há inimigo no Haiti. Há, quando muito, uma força adversa."
O coronel Santiago, no entanto, nega que a missão brasileira tenha se transformado numa tarefa policial. "Realizamos, dentro da missão que nos foi dada, operações do tipo policial, como uma blitz. Mas, juridicamente, são atribuições diferentes."


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