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China descarta "modelo do Ocidente"
País inicia hoje congresso qüinqüenal do Partido Comunista ressaltando que abertura política não está sob cogitação
Delegados do PC escolherão membros do comitê central; Constituição partidária
incluirá princípios para combater desigualdade
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
O debate sobre a adoção de
reformas democráticas estará
fora da agenda do 17º Congresso do Partido Comunista da
China, que começa hoje em Pequim e termina no próximo domingo. "Nunca iremos copiar o
modelo de sistema político ocidental", afirmou ontem o porta-voz do encontro, Li Dongsheng, ecoando a posição defendida pelo presidente Hu Jintao
e outros líderes comunistas.
Apesar de descartar mudanças que flexibilizem o sistema
de partido único, a legenda caminha para uma maior institucionalização de seus procedimentos, com a adoção de regulamentos que aumentam a previsibilidade de suas decisões
-é a esse processo que seus líderes se referem quando falam
em "democracia socialista".
Diante da maior complexidade da sociedade chinesa e do
aprofundamento dos conflitos
sociais, o partido dá alguns passos para ampliar a chamada democracia interna, mas não tem
nenhuma intenção de trilhar
um caminho que leve à pluralidade política. As escolhas, controladas pela cúpula, dão-se
dentro do partido e entre seus
74 milhões de filiados, uma fração do 1,3 bilhão de chineses.
Desse grupo saíram os 2.200
delegados que se reúnem a partir de hoje com a missão de eleger um novo comitê central, de
cerca de 350 pessoas. Estes, por
sua vez, escolherão um novo
Politburo, de 25 integrantes, e
um novo Comitê Permanente
do Politburo, o grupo de nove
pessoas que de fato manda na
China. Dos atuais membros,
devem ser modificados quatro
ou cinco. O presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen
Jiabao continuarão no comitê
permanente e no comando do
país até 2012.
Na coletiva que concedeu ontem, o porta-voz do congresso
minimizou o aumento das tensões sociais na China, decorrentes da maior desigualdade
de renda e das disparidades regionais. Os últimos anos viram
a elevação do número de protestos no país, principalmente
no interior. As principais razões são os desmandos de chefes locais do partido, a contaminação ambiental e a apropriação de áreas rurais para projetos industriais e urbanos.
Li Dongsheng afirmou que os
problemas que surgiram foram
"regionais e individuais" e já teriam sido resolvidos.
Desenvolvimento
Apesar disso, os esforços do
governo para amenizar os desequilíbrios ganharão impulso
com a aprovação de uma emenda que incluirá na Constituição
do partido o conceito de "desenvolvimento científico" promovido por Hu. Ele significa
maior preocupação com disparidades regionais e de renda, o
enfrentamento de problemas
ambientais e a busca de uma
"sociedade harmônica".
Dentro desse espírito, o discurso oficial cunhou uma expressão ideologicamente neutra para se referir aos "burgueses" -empresários e endinheirados em geral-, chamados
agora de "novo estrato social".
Mesmo com o "desenvolvimento científico", o partido deverá reafirmar seu compromisso com o processo de abertura e
reforma iniciado em 1978 sob
inspiração de Deng Xiaoping
(1904-1997).
O febril ritmo de crescimento econômico, próximo de 12%
neste ano, ameaça sair do controle em razão da enorme entrada de dólares no país. A
grande quantidade de dinheiro
em circulação na economia gera inflação e acelera o ritmo de
investimentos, realizados muitas vezes com empréstimo bancários a juros baixos. Ontem o
governo elevou pela oitava vez
no ano, para 13%, a proporção
de dinheiro que os bancos devem deixar imobilizados no
banco central.
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