São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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Em meio à crise, Honduras vence no futebol

DA ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O impasse político se estende pelo menos até hoje, mas, no futebol, Honduras conseguiu vencer as circunstâncias e garantir uma vaga na Copa de 2010 depois de 28 anos.
Antes da classificação, porém, fervores de futebol e política se misturaram novamente.
No dia em que a seleção nacional jogava pela classificação e os negociadores entravam na fase final de debates para um acordo político, comentários da resistência pró-Zelaya contra a qualificação para o torneio na África do Sul foram vistos como antipatrióticos.
Desde a derrota para os EUA, no sábado, os hondurenhos se preparavam para um "tudo ou nada" ontem. Para voltar à Copa, o time hondurenho precisava vencer El Salvador fora de casa e torcer para que os EUA, já classificados, ganhassem ou empatassem com a Costa Rica. Deu empate.
Tegucigalpa amanheceu azul e branca. As cores da seleção estavam em faixas, balões, bandeiras e camisas. As empresas fecharam mais cedo para que os funcionários pudessem assistir ao jogo no início da noite.
Para um país que leva tão a sério o futebol, a torcida contra uma vitória da seleção, vinda da Frente Nacional Resistência, foi vista como uma traição.
"Sempre apoiamos a seleção, mas desta vez a vemos como um time que representa empresários golpistas. É uma arma de manipulação da população", disse Juan Barahona, um dos líderes da resistência.
Segundo ele, os jogos são uma arma do governo interino para que a população "esqueça" os problemas políticos. "Torcemos para que eles não obtenham sua vitória, a vitória da manipulação", disse.
"Não é normal que um hondurenho torça contra seu time", dizia ontem o porteiro Carlos Diaz, que trabalha em um shopping da cidade. "Não é assim que se faz política."
Para o taxista Manuel Torres, o futebol tem de servir para unir a população dividida pela política. "É um momento em que lembramos que somos todos hondurenhos, e vamos continuar a ser, apesar das divisões temporárias", afirmou.
Ontem, a confederação nacional de futebol estimou que ao menos dez ônibus deixaram o país para ir a El Salvador assistir à partida (os salvadorenhos já estavam eliminados).
O desafio esportivo invadiu ontem as negociações políticas. Jornalistas locais vestiam a camiseta da seleção. Os negociadores chegaram a marcar um pronunciamento para "uma hora e meia antes da partida".
Já o principal enviado do presidente deposto Manuel Zelaya, Victor Meza, fez questão de dizer que em tempos de crise não há distrações com futebol: "Que partida?", disse, ao ser indagado pela Folha se poderia haver um anúncio final antes do jogo decisivo.
Resolvido o futebol, os hondurenhos esperam agora ventos positivos também na política. (AF)


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