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Em meio à crise, Honduras vence no futebol
DA ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O impasse político se estende
pelo menos até hoje, mas, no
futebol, Honduras conseguiu
vencer as circunstâncias e garantir uma vaga na Copa de
2010 depois de 28 anos.
Antes da classificação, porém, fervores de futebol e política se misturaram novamente.
No dia em que a seleção nacional jogava pela classificação
e os negociadores entravam na
fase final de debates para um
acordo político, comentários da
resistência pró-Zelaya contra a
qualificação para o torneio na
África do Sul foram vistos como
antipatrióticos.
Desde a derrota para os EUA,
no sábado, os hondurenhos se
preparavam para um "tudo ou
nada" ontem. Para voltar à Copa, o time hondurenho precisava vencer El Salvador fora de
casa e torcer para que os EUA,
já classificados, ganhassem ou
empatassem com a Costa Rica.
Deu empate.
Tegucigalpa amanheceu azul
e branca. As cores da seleção estavam em faixas, balões, bandeiras e camisas. As empresas
fecharam mais cedo para que
os funcionários pudessem assistir ao jogo no início da noite.
Para um país que leva tão a
sério o futebol, a torcida contra
uma vitória da seleção, vinda da
Frente Nacional Resistência,
foi vista como uma traição.
"Sempre apoiamos a seleção,
mas desta vez a vemos como
um time que representa empresários golpistas. É uma arma de manipulação da população", disse Juan Barahona, um
dos líderes da resistência.
Segundo ele, os jogos são
uma arma do governo interino
para que a população "esqueça"
os problemas políticos. "Torcemos para que eles não obtenham sua vitória, a vitória da
manipulação", disse.
"Não é normal que um hondurenho torça contra seu time", dizia ontem o porteiro
Carlos Diaz, que trabalha em
um shopping da cidade. "Não é
assim que se faz política."
Para o taxista Manuel Torres,
o futebol tem de servir para
unir a população dividida pela
política. "É um momento em
que lembramos que somos todos hondurenhos, e vamos continuar a ser, apesar das divisões
temporárias", afirmou.
Ontem, a confederação nacional de futebol estimou que
ao menos dez ônibus deixaram
o país para ir a El Salvador assistir à partida (os salvadorenhos já estavam eliminados).
O desafio esportivo invadiu
ontem as negociações políticas.
Jornalistas locais vestiam a camiseta da seleção. Os negociadores chegaram a marcar um
pronunciamento para "uma
hora e meia antes da partida".
Já o principal enviado do
presidente deposto Manuel Zelaya, Victor Meza, fez questão
de dizer que em tempos de crise não há distrações com futebol: "Que partida?", disse, ao
ser indagado pela Folha se poderia haver um anúncio final
antes do jogo decisivo.
Resolvido o futebol, os hondurenhos esperam agora ventos positivos também na política.
(AF)
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