São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Texto entregue anteontem à ONU contém várias advertências aos inspetores para que respeitem a soberania do país

Carta suscita dúvida sobre posição iraquiana

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT"

Sinais do Iraque de que suas boas vindas aos inspetores de armas da ONU podem ser menos do que efusivas intensificaram temores ontem de que o processo de desarmamento do país poderia degringolar rapidamente e dar aos EUA justificativas para pressionar por uma invasão militar.
A preocupação foi provocada por uma leitura mais atenta da carta entregue anteontem a Kofi Annan, o secretário-geral da ONU. No texto, o Iraque afirma aceitar a resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada há uma semana, que exige que o país se desarme e coopere com inspetores de armas de destruição em massa e mísseis de longo alcance.
Mas o documento, escrito pelo chanceler iraquiano, Naji Sabri, é repleto de advertências aos inspetores para que respeitem a soberania do Iraque. O primeiro grupo de técnicos da ONU, liderado pelo chefe dos inspetores, Hans Blix, e pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El Baradei, deve chegar a Bagdá na segunda-feira.
"Ao lidar com os inspetores, o governo do Iraque também levará em consideração sua conduta, as intenções dos mal-intencionados entre eles e sua abordagem imprópria no que concerne à demonstração de respeito à dignidade nacional da população, à sua independência e à sua segurança", afirmou Sabri.
E, no fim da carta, o chanceler faz um anúncio temerário: o de que enviará a Annan um texto identificando "medidas e procedimentos" na resolução que o Iraque considera "contrários às leis internacionais e à Carta da ONU.
Em uma entrevista em Washington, Annan não quis dizer se achava que a linguagem usada pelos iraquianos era "uma indicação de que eles vão fazer truques". "Acho que a questão não é a aceitação, mas o desempenho. Deixemos os inspetores entrarem, e eu exorto os iraquianos a cooperar."
Os inspetores da ONU foram expulsos do Iraque em 1998, após serem chamados de "espiões".
Surgiram ontem também novos sinais de que o Iraque poderia tentar semear a discórdia no CS.
O primeiro teste pode ocorrer no próximo dia 8, quando Bagdá deve fornecer uma lista de todos os seus programas de pesquisa, desenvolvimento e produção de armas de destruição em massa.
Caso o país reitere alegações feitas na carta de Sabri de que não possui armas químicas, biológicas ou nucleares, os EUA podem interpretá-lo como uma prova de não-cooperação e pressionar outros membros da ONU a defender uma ação militar.
Em uma amostra do que pode vir a ser a tática iraquiana, o jornal "Babil", propriedade do filho de Saddam, Uday, advertiu que a crise entre os EUA e o Iraque "ainda não acabou e pode ter apenas começado". Além disso, o diário pediu que três dos cinco membros permanentes do CS -França, Rússia e China (os outros são EUA e Reino Unido)- apóiem o Iraque.
Os inspetores parecem estar tentando acalmar as tensões. Apesar de o presidente dos EUA, George W. Bush, ter prometido uma política de "tolerância zero" em relação ao cumprimento da resolução pelo Iraque, El Baradei afirmou ontem que não pretende relatar ao CS qualquer "omissão menor" de Bagdá. "Se houver uma omissão menor e claramente não intencional, não vamos correr ao CS para dizer que é uma violação", afirmou. "Se houver um padrão de falta de cooperação, vamos relatá-lo ao CS, que vai decidir se é uma violação."
Além disso, ao chegar a Bagdá na segunda-feira, Blix deve tentar assegurar ao Iraque que suas equipes vão agir de forma diferente de suas predecessoras. Haverá uma mistura bem maior de nacionalidades entre os cerca de cem inspetores que atuarão no país e um número menor de inspetores americanos e britânicos.


Com agências internacionais


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