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IRAQUE NA MIRA
Texto entregue anteontem à ONU contém várias advertências aos inspetores para que respeitem a soberania do país
Carta suscita dúvida sobre posição iraquiana
DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT"
Sinais do Iraque de que suas
boas vindas aos inspetores de armas da ONU podem ser menos
do que efusivas intensificaram temores ontem de que o processo
de desarmamento do país poderia
degringolar rapidamente e dar
aos EUA justificativas para pressionar por uma invasão militar.
A preocupação foi provocada
por uma leitura mais atenta da
carta entregue anteontem a Kofi
Annan, o secretário-geral da
ONU. No texto, o Iraque afirma
aceitar a resolução do Conselho
de Segurança da ONU, aprovada
há uma semana, que exige que o
país se desarme e coopere com
inspetores de armas de destruição
em massa e mísseis de longo alcance.
Mas o documento, escrito pelo
chanceler iraquiano, Naji Sabri, é
repleto de advertências aos inspetores para que respeitem a soberania do Iraque. O primeiro grupo de técnicos da ONU, liderado
pelo chefe dos inspetores, Hans
Blix, e pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El Baradei, deve
chegar a Bagdá na segunda-feira.
"Ao lidar com os inspetores, o
governo do Iraque também levará
em consideração sua conduta, as
intenções dos mal-intencionados
entre eles e sua abordagem imprópria no que concerne à demonstração de respeito à dignidade nacional da população, à sua
independência e à sua segurança", afirmou Sabri.
E, no fim da carta, o chanceler
faz um anúncio temerário: o de
que enviará a Annan um texto
identificando "medidas e procedimentos" na resolução que o Iraque considera "contrários às leis
internacionais e à Carta da ONU.
Em uma entrevista em Washington, Annan não quis dizer se
achava que a linguagem usada pelos iraquianos era "uma indicação
de que eles vão fazer truques".
"Acho que a questão não é a aceitação, mas o desempenho. Deixemos os inspetores entrarem, e eu
exorto os iraquianos a cooperar."
Os inspetores da ONU foram
expulsos do Iraque em 1998, após
serem chamados de "espiões".
Surgiram ontem também novos
sinais de que o Iraque poderia
tentar semear a discórdia no CS.
O primeiro teste pode ocorrer
no próximo dia 8, quando Bagdá
deve fornecer uma lista de todos
os seus programas de pesquisa,
desenvolvimento e produção de
armas de destruição em massa.
Caso o país reitere alegações feitas na carta de Sabri de que não
possui armas químicas, biológicas ou nucleares, os EUA podem
interpretá-lo como uma prova de
não-cooperação e pressionar outros membros da ONU a defender
uma ação militar.
Em uma amostra do que pode
vir a ser a tática iraquiana, o jornal
"Babil", propriedade do filho de
Saddam, Uday, advertiu que a crise entre os EUA e o Iraque "ainda
não acabou e pode ter apenas começado". Além disso, o diário pediu que três dos cinco membros
permanentes do CS -França,
Rússia e China (os outros são
EUA e Reino Unido)- apóiem o
Iraque.
Os inspetores parecem estar
tentando acalmar as tensões.
Apesar de o presidente dos EUA,
George W. Bush, ter prometido
uma política de "tolerância zero"
em relação ao cumprimento da
resolução pelo Iraque, El Baradei
afirmou ontem que não pretende
relatar ao CS qualquer "omissão
menor" de Bagdá. "Se houver
uma omissão menor e claramente
não intencional, não vamos correr ao CS para dizer que é uma
violação", afirmou. "Se houver
um padrão de falta de cooperação, vamos relatá-lo ao CS, que
vai decidir se é uma violação."
Além disso, ao chegar a Bagdá
na segunda-feira, Blix deve tentar
assegurar ao Iraque que suas
equipes vão agir de forma diferente de suas predecessoras. Haverá uma mistura bem maior de
nacionalidades entre os cerca de
cem inspetores que atuarão no
país e um número menor de inspetores americanos e britânicos.
Com agências internacionais
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