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EUROPA
Decisão deve ser aprovada hoje pela Assembléia Nacional; vandalismo continua a decrescer pelos subúrbios do país
França prolonga emergência por 3 meses
DA REDAÇÃO
Em reunião extraordinária, o
Conselho de Ministros francês
aprovou ontem a prorrogação
por três meses do estado de emergência, na tentativa de conter os
distúrbios provocados por jovens
desempregados em subúrbios
com forte concentração de imigrantes e seus descendentes.
O estado de emergência foi instituído por decreto na semana
passada, por um prazo de 12 dias.
Sua adoção por um novo período
depende de autorização parlamentar. A questão estará na pauta
de hoje da Assembléia Nacional
(Câmara dos Deputados), onde o
governo tem confortável maioria.
O presidente Jacques Chirac,
em seu primeiro pronunciamento sobre a crise, disse ontem, em
rede de rádio e TV, que a situação
é de "profundo mal-estar", e que a
nação deve combater com firmeza "o veneno da discriminação"
contra a população norte-africana. Mas afastou a possibilidade de
adoção de quotas para as minorias, conforme o sistema americano de ação afirmativa.
Anunciou a criação de um corpo de 50 mil voluntários para o
treinamento de jovens imigrantes
e apelou para que a mídia reflita a
diversidade étnica da França.
As 18 noites seguidas de distúrbios se iniciaram em 27 de outubro, com a morte, por eletrocução, de dois adolescentes que se
esconderam numa subestação, ao
acreditarem que estavam sendo
perseguidos pela polícia.
A agitação atingiu seu pico na
madrugada de 7 para 8 de novembro, quando cerca de 1.400 carros
foram queimados. Na noite de
domingo para segunda-feira, afirma a polícia, o vandalismo destruiu 284 veículos, 90 a menos que
na véspera e 218 a menos que de
sexta para sábado.
A confederação de companhias
de seguro, conhecida pela sigla
FFSA, calcula que os atos de vandalismo se traduzam por prejuízos de 200 milhões (R$ 272 milhões), dos quais um décimo em
razão de automóveis destruídos.
As medidas de exceção, baseadas numa lei de 1955, permitem
que as autoridades locais instituam o toque de recolher e prendam pessoas que o desobedeçam
ao sair às ruas em certos horários.
Paralelamente, o Ministério do
Interior anunciou que expulsaria
da França os estrangeiros envolvidos, mesmo que estejam com documentação regular. Cerca de 120
jovens já indiciados estão na mira
dessa decisão extrema.
Chirac, criticado por ter delegado iniciativas de pacificação ao
primeiro-ministro, Dominique
de Villepin, e ao ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, disse ontem
ao Conselho de Ministros que a
prorrogação do estado de emergência "é uma medida necessária
para que as leis sejam obedecidas", e que estará em vigor por
um período "estritamente necessário" para restabelecer a calma.
Sarkozy é pré-candidato à sucessão presidencial francesa de
2007. Pesquisas indicam que seu
estilo truculento durante a crise o
fortaleceu junto ao eleitorado
conservador. Villepin, também
pré-candidato, não teve ganhos.
Ao ser anunciado, o decreto de
estado de emergência citou 38
municípios em que ele poderia ser
aplicado. Mas foram poucos os
prefeitos que o adotaram. Uma
das exceções foi Lyon, a terceira
maior cidade francesa. A iniciativa procura demonstrar a mão firme do governo diante de uma crise surpreendente e imprevisível.
O único precedente de agitação
nos últimos 40 anos de história
francesa ocorreu em 1968, com a
revolta estudantil seguida de greves que praticamente paralisaram
o país. Mas foi um movimento
bem mais estruturado e com lideranças conhecidas, com as quais
era possível negociar.
O atual movimento, ao contrário, é espontâneo, sem uma clara
fundamentação política. Seus integrantes são em geral desempregados, empobrecidos e excluídos
dos padrões médios de consumo.
Vivem em guetos nas periferias
das grandes cidades. São ainda de
famílias muçulmanas, imigradas
de Argélia e Marrocos.
Comentários mais ou menos
unânimes indicam que a agitação
eclodiu em razão da insuficiência
ou da falência das políticas públicas destinadas e integrar essa parcela da população ao mercado de
trabalho. Especialistas também
indicam que o vandalismo não
tem motivação confessional. Não
é comandado pelas mesquitas.
O Partido Socialista, maior grupo político da oposição, se opôs
ontem à prorrogação do estado
de emergência, "medida que se
justifica apenas em circunstâncias
muito mais excepcionais", disse
Julian Dray, porta-voz partidário.
Na madrugada de ontem, 115
pessoas foram presas, informou a
polícia. No total, as prisões chegam a 2.767 desde o início dos distúrbios. Em nenhum dos 120 bairros ou municípios suburbanos foram queimados mais de cinco veículos, fato que a polícia interpreta
como indício de que o protesto se
torna agora residual.
Com agências internacionais
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