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"Israelense, iraniano e palestino quiseram vir"
Amorim diz que interesse nas visitas partiu dos líderes do Oriente Médio
Chanceler afirma não ver isolamento internacional do Irã e descarta "infiltração" do país na América Latina, o que é denunciado por Israel
DA COLUNISTA DA FOLHA
Neste trecho da entrevista,
Celso Amorim avalia a aproximação do Brasil do Oriente
Médio, evidenciada pelas visitas dos líderes israelense, iraniano e palestino ao país.
(EC)
FOLHA - O Brasil vê algum avanço
nas negociações do Oriente Médio
com a troca de Bush por Obama?
AMORIM - Para falar a verdade,
não temos visto avanços, não.
Pelo contrário, o anúncio da renúncia de Mahmoud Abbas
[presidente da Autoridade Nacional Palestina, de buscar a
reeleição] é sinal de fadiga de
alguns líderes que estão perseguindo justamente a linha pacífica e do diálogo.
FOLHA - Qual a pretensão do Brasil
ao receber no mesmo mês Shimon
Peres (Israel), Mahmoud Abbas e
Mahmoud Ahmadinejad (Irã)?
AMORIM - Não se trata de pretensão. Eles têm interesse em
vir porque acham que o Brasil
pode ter um papel no Oriente
Médio. E há também interesses
bilaterais. O nosso comércio
com Israel passou de US$ 1 bilhão, e eles têm interesse inclusive na área aeronáutica. Com o
Irã, chegou a US$ 2 bilhões, antes de cair, porque todos caíram
com a crise. No caso da Autoridade Nacional Palestina, o interesse comercial é modesto, mas
queremos ter boas relações
com eles, queremos ajudá-los.
FOLHA - Como o Brasil, tão longe,
fora do eixo de poder, pode se meter
no Oriente Médio?
AMORIM - Tem de perguntar
para eles, porque eles é que vieram aqui. Se o Brasil estivesse
dando uma de oferecido, nem
ia ser recebido tão bem. Eles diriam "bye bye, tchau", não precisariam estar se deslocando para discutir, entre outras coisas,
o Oriente Médio.
O Brasil é um país grande,
com peso no sistema multilateral, e há também a figura do
presidente Lula, que é visto como conciliador, tem carisma.
FOLHA - O que o Brasil lucra recebendo o presidente do Irã, que sofre
isolamento internacional e fortes
reações internas?
AMORIM - Não vejo nenhum
isolamento internacional. Ao
contrário, pela primeira vez, os
americanos estão sentando à
mesa com os iranianos, inclusive para debate nuclear. Quanto
às questões internas, não nos
cabe fazer nenhum juízo de valor sobre o presidente do Irã.
Eles têm muito interesse na
área de energia, do biocombustível a hidrelétricas, e nós, na
área de alimentos, de agricultura, de cooperação. E podemos
conversar sobre vários temas
internacionais, sobretudo sobre o Oriente Médio mesmo. O
Irã é um ator importante na região, com 80 milhões de habitantes e uma história grande.
Não é uma questão que dependa de a pessoa gostar ou não.
FOLHA - Como dialogar com Ahmadinejad sobre a região, após ele
pregar "varrer Israel do mapa"?
AMORIM - As pessoas mudam.
Podem notar que tais afirmações não beneficiam seu país.
FOLHA - O governo monitora as
manifestações contra ele, no dia 23?
AMORIM - Não sei de nada. A
única coisa que vi foi uma faixa
lá no Rio que deduzi ser do movimento gay, e acho muito bom.
O Brasil é uma democracia, todos têm direito a se manifestar.
FOLHA - Já Israel diz que há uma
"infiltração iraniana" na América do
Sul, a partir da Venezuela.
AMORIM - É que as pessoas precisam viver sempre com um pesadelo. Antigamente, era a infiltração soviética. Agora, como
não existe mais URSS, é o iraniano, não sei mais quem. Nada
disso tem procedência nem
ameaça o Brasil.
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