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"No radar" do Oriente Médio, Brasil busca influenciar
Poder de converter visibilidade em peso político é limitado
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
A sequência de líderes do
Oriente Médio que passará
neste mês por Brasília, iniciada
pelo presidente de Israel, Shimon Peres, comprova que o
Brasil entrou no radar estratégico dos países da região, concordam especialistas e diplomatas. Mas a capacidade de
converter essa visibilidade em
peso político ainda é limitada.
Após Peres, será a vez de o
presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, se reunir com autoridades brasileiras, na próxima sexta-feira. Três dias depois, chega ao Brasil o controvertido presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Diante do presidente Lula,
Peres elogiou a disposição do
Brasil de participar do processo
de paz entre israelenses e palestinos. Em entrevista a uma
das principais emissoras de rádio de Israel, o chanceler Celso
Amorim sugeriu que o Brasil
também poderia intermediar
na negociação com a Síria
-mediada pela Turquia até a
invasão de Gaza neste ano.
Ceticismo
Mas, no governo israelense,
por trás das reações polidas ao
desejo brasileiro de ganhar
protagonismo na região, prevalece o ceticismo. Conforme resumiu um alto diplomata ouvido pela Folha, sob a condição
de anonimato, para ter influência, "palavras não bastam".
"É preciso gastar tempo e gasolina", diz ele, em referência
às muitas horas de voo exigidas
nas mediações internacionais.
Para o diplomata, além de
acumular mais quilometragem, o Brasil terá de mostrar
"ideias concretas" se quiser ser
levado a sério como mediador.
Do lado palestino, a pretensão brasileira de ter voz ativa
no processo de paz é vista com
muito mais simpatia.
Nimer Hamad, um dos principais assessores políticos do
presidente Abbas, disse à Folha que, na conversa com Lula,
será abordada a proposta brasileira de organizar uma conferência que amplie os limites da
negociação além dos mediadores tradicionais.
Abbas também agradecerá o
voto favorável do Brasil na
ONU ao Relatório Goldstone,
que acusa Israel de crimes de
guerra durante a ofensiva militar na faixa de Gaza.
Se agrada em cheio aos palestinos, o apoio sistemático do
Brasil às resoluções sobre o
conflito propostas pelo bloco
árabe-muçulmano na ONU alimenta o ceticismo entre os israelenses de que o governo Lula possa servir como mediador
imparcial da disputa.
Para o palestino Samir Awad,
professor de relações internacionais da Universidade Bir
Zeit, o Brasil tem todas as condições para promover o "arejamento" do processo de paz,
conforme a ambição já manifestada por Celso Amorim.
"É um país sem interesses diretos na região e que já provou
suas intenções pacíficas ao renunciar ao uso militar da energia nuclear", diz Awad.
"Além disso, o desgaste da
mediação americana abre uma
janela a novos protagonistas, e
o Brasil sem dúvida está entre
os que podem contribuir",
completa o acadêmico.
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