São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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"No radar" do Oriente Médio, Brasil busca influenciar

Poder de converter visibilidade em peso político é limitado

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A sequência de líderes do Oriente Médio que passará neste mês por Brasília, iniciada pelo presidente de Israel, Shimon Peres, comprova que o Brasil entrou no radar estratégico dos países da região, concordam especialistas e diplomatas. Mas a capacidade de converter essa visibilidade em peso político ainda é limitada.
Após Peres, será a vez de o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, se reunir com autoridades brasileiras, na próxima sexta-feira. Três dias depois, chega ao Brasil o controvertido presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Diante do presidente Lula, Peres elogiou a disposição do Brasil de participar do processo de paz entre israelenses e palestinos. Em entrevista a uma das principais emissoras de rádio de Israel, o chanceler Celso Amorim sugeriu que o Brasil também poderia intermediar na negociação com a Síria -mediada pela Turquia até a invasão de Gaza neste ano.

Ceticismo
Mas, no governo israelense, por trás das reações polidas ao desejo brasileiro de ganhar protagonismo na região, prevalece o ceticismo. Conforme resumiu um alto diplomata ouvido pela Folha, sob a condição de anonimato, para ter influência, "palavras não bastam".
"É preciso gastar tempo e gasolina", diz ele, em referência às muitas horas de voo exigidas nas mediações internacionais.
Para o diplomata, além de acumular mais quilometragem, o Brasil terá de mostrar "ideias concretas" se quiser ser levado a sério como mediador.
Do lado palestino, a pretensão brasileira de ter voz ativa no processo de paz é vista com muito mais simpatia.
Nimer Hamad, um dos principais assessores políticos do presidente Abbas, disse à Folha que, na conversa com Lula, será abordada a proposta brasileira de organizar uma conferência que amplie os limites da negociação além dos mediadores tradicionais.
Abbas também agradecerá o voto favorável do Brasil na ONU ao Relatório Goldstone, que acusa Israel de crimes de guerra durante a ofensiva militar na faixa de Gaza.
Se agrada em cheio aos palestinos, o apoio sistemático do Brasil às resoluções sobre o conflito propostas pelo bloco árabe-muçulmano na ONU alimenta o ceticismo entre os israelenses de que o governo Lula possa servir como mediador imparcial da disputa.
Para o palestino Samir Awad, professor de relações internacionais da Universidade Bir Zeit, o Brasil tem todas as condições para promover o "arejamento" do processo de paz, conforme a ambição já manifestada por Celso Amorim.
"É um país sem interesses diretos na região e que já provou suas intenções pacíficas ao renunciar ao uso militar da energia nuclear", diz Awad.
"Além disso, o desgaste da mediação americana abre uma janela a novos protagonistas, e o Brasil sem dúvida está entre os que podem contribuir", completa o acadêmico.


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