São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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'DIÁLOGOS DE UM GOLPE'
Livro de jornalista chilena afirma que o presidente seria morto mesmo que se rendesse, em 73
Militares planejaram assassinar Allende

OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local

Os militares chilenos que depuseram o presidente Salvador Allende em 1973 pretendiam assassiná-lo mesmo que ele se rendesse e saísse do Palácio de La Moneda, onde morreu durante o golpe, provavelmente em ato suicida.
É o que afirma o livro "Interferência Secreta" (editora Sudamericana Chilena, 197 págs., tel. 00 562 274-6089), da jornalista Patricia Verdugo, recém-lançado no Chile.
O livro se baseia numa série de gravações, supostamente realizadas no dia do golpe por um autor não-identificado, que revela os diálogos por rádio entre os principais líderes da sublevação, entre eles o general Augusto Pinochet.
"Interferência Secreta" vem acompanhado de um CD, com a íntegra das gravações obtidas e divulgadas 25 anos depois.
Embora os militares tenham oferecido garantias de vida e de respeito à integridade física de Allende, no caso de ele aceitar uma rendição, as transcrições mostram que, por sugestão de Pinochet, a idéia era colocá-lo num avião que seria derrubado durante o vôo.
"Se mantém a oferta de tirá-lo do país, mas o avião cai, velho, quando estiver voando", afirmou Pinochet, então comandante do Exército, ao vice-almirante Patricio Carvejal, seu interlocutor da Marinha chilena durante a revolta militar de 11 de setembro de 1973.
Segundo o livro, a deposição do governo da União Popular, integrado pelos partidos Socialista e Comunista e presidido por Allende (eleito em 1970), se tornou um "fato consumado" dois dias antes, no domingo, 9 de setembro de 73.
Nesse dia, o general Pinochet, recém-nomeado comandante do Exército, teria aceito a proposta de participar do golpe, feita por seu colega da Força Aérea e por militares de escalões inferiores da Marinha e dos Carabineiros (polícia).
Os conspiradores não se sentiam seguros sobre o apoio de Pinochet, visto até então como um militar "profissional", leal à Constituição e à tradição legalista das Forças Armadas chilenas.
Pinochet havia sido nomeado comandante do Exército em 27 de agosto do mesmo ano, com a urgente missão de sufocar um esboço de rebelião militar abortado pelo presidente Allende.
Ele cumpriu essa primeira missão, mas, num discurso proferido a portas fechadas apenas para militares, defendeu a necessidade de "se estreitar filas tanto dentro do Exército como nos outros setores das Forças Armadas".
De acordo com a jornalista Patricia Verdugo, a declaração encorajou os conspiradores a procurarem Pinochet com o objetivo de obter seu apoio ao golpe em gestação.
No domingo, 9 de setembro, 16 horas antes do início da operação, o comandante do Exército, que se tornaria ditador do Chile por quase 17 anos, assinou a carta já firmada pelos outros conspiradores.
Na noite de segunda-feira, 10 de setembro, as primeiras tropas militares começaram a tomar posição nos arredores de Santiago, pois os militares temiam reações nos bairros mais pobres da capital.
Ao tomar conhecimento das manobras, o presidente Salvador Allende se dirigiu, ainda de madrugada, para o palácio presidencial de La Moneda, de onde pretendia liderar a resistência.
Enquanto isso, os comandantes do Exército, Augusto Pinochet, e da Força Aérea, Gustavo Leigh, e o vice-almirante Patricio Carvajal, representante do almirante JoséToribio Merino Castro (líder do golpe na Marinha), se preparavam para iniciar a rebelião.
Posicionados em diferentes prédios militares de Santiago, os três militares trocaram informações por rádio durante a operação.
Leia abaixo os principais trechos dos diálogos interceptados.



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