|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'DIÁLOGOS DE UM GOLPE'
Livro de jornalista chilena afirma que o presidente seria morto mesmo que se rendesse, em 73
Militares planejaram assassinar Allende
OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local
Os militares chilenos que depuseram o presidente Salvador
Allende em 1973 pretendiam assassiná-lo mesmo que ele se rendesse e saísse do Palácio de La Moneda, onde morreu durante o golpe, provavelmente em ato suicida.
É o que afirma o livro "Interferência Secreta" (editora Sudamericana Chilena, 197 págs., tel. 00 562
274-6089), da jornalista Patricia
Verdugo, recém-lançado no Chile.
O livro se baseia numa série de
gravações, supostamente realizadas no dia do golpe por um autor
não-identificado, que revela os
diálogos por rádio entre os principais líderes da sublevação, entre
eles o general Augusto Pinochet.
"Interferência Secreta" vem
acompanhado de um CD, com a
íntegra das gravações obtidas e divulgadas 25 anos depois.
Embora os militares tenham oferecido garantias de vida e de respeito à integridade física de Allende, no caso de ele aceitar uma rendição, as transcrições mostram
que, por sugestão de Pinochet, a
idéia era colocá-lo num avião que
seria derrubado durante o vôo.
"Se mantém a oferta de tirá-lo do
país, mas o avião cai, velho, quando estiver voando", afirmou Pinochet, então comandante do Exército, ao vice-almirante Patricio Carvejal, seu interlocutor da Marinha
chilena durante a revolta militar de
11 de setembro de 1973.
Segundo o livro, a deposição do
governo da União Popular, integrado pelos partidos Socialista e
Comunista e presidido por Allende (eleito em 1970), se tornou um
"fato consumado" dois dias antes,
no domingo, 9 de setembro de 73.
Nesse dia, o general Pinochet, recém-nomeado comandante do
Exército, teria aceito a proposta de
participar do golpe, feita por seu
colega da Força Aérea e por militares de escalões inferiores da Marinha e dos Carabineiros (polícia).
Os conspiradores não se sentiam
seguros sobre o apoio de Pinochet,
visto até então como um militar
"profissional", leal à Constituição
e à tradição legalista das Forças Armadas chilenas.
Pinochet havia sido nomeado
comandante do Exército em 27 de
agosto do mesmo ano, com a urgente missão de sufocar um esboço de rebelião militar abortado pelo presidente Allende.
Ele cumpriu essa primeira missão, mas, num discurso proferido a
portas fechadas apenas para militares, defendeu a necessidade de
"se estreitar filas tanto dentro do
Exército como nos outros setores
das Forças Armadas".
De acordo com a jornalista Patricia Verdugo, a declaração encorajou os conspiradores a procurarem
Pinochet com o objetivo de obter
seu apoio ao golpe em gestação.
No domingo, 9 de setembro, 16
horas antes do início da operação,
o comandante do Exército, que se
tornaria ditador do Chile por quase 17 anos, assinou a carta já firmada pelos outros conspiradores.
Na noite de segunda-feira, 10 de
setembro, as primeiras tropas militares começaram a tomar posição
nos arredores de Santiago, pois os
militares temiam reações nos bairros mais pobres da capital.
Ao tomar conhecimento das manobras, o presidente Salvador
Allende se dirigiu, ainda de madrugada, para o palácio presidencial de La Moneda, de onde pretendia liderar a resistência.
Enquanto isso, os comandantes
do Exército, Augusto Pinochet, e
da Força Aérea, Gustavo Leigh, e o
vice-almirante Patricio Carvajal,
representante do almirante JoséToribio Merino Castro (líder do
golpe na Marinha), se preparavam
para iniciar a rebelião.
Posicionados em diferentes prédios militares de Santiago, os três
militares trocaram informações
por rádio durante a operação.
Leia abaixo os principais trechos
dos diálogos interceptados.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|