São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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VERSÃO DA CASERNA
Militares justificam derrubada de Allende; segundo livro, guerrilha preparava movimento
'Presidente socialista daria autogolpe'

da Reportagem Local

Os militares que derrubaram Allende publicaram, após assumirem o comando do país, um livro com sua versão sobre os motivos do golpe, ao qual se referem como "mudança de governo".
Segundo a introdução do "Livro Branco da Mudança de Governo no Chile", o objetivo foi restaurar "a verdade sobre os sucessos do país, deliberadamente deformada perante o mundo".
"Aqueles que, dentro do país, o arrastaram para uma ruína econômica, social, institucional e moral sem precedentes, e aqueles que, fora do Chile, colaboraram para a catástrofe, têm confabulado para ocultar e falsificar essa verdade", afirma o texto da Secretaria Geral de Governo.
O livro expõe números que comprovariam a derrocada econômica do Chile, como resultado da implantação de um "governo comunista" no país.
Inflação de 300% em 1973, queda da produção industrial de 6% em relação ao ano anterior, aumento da dívida externa de 60% desde 1970 (início do governo Allende). Os dados teriam sido coletados nas Universidades Católica e do Chile.
Nas 264 páginas da publicação, encontrada apenas em segunda mão, os militares afirmam que Salvador Allende preparava um autogolpe, devido à crescente perda de apoio popular. "O autogolpe se daria em setembro (de 73) com a ação de grupos terroristas e paramilitares", afirma.
O treinamento estaria ocorrendo em "escolas de guerrilha", duas delas localizadas em casas de Allende, com auxílio de especialistas de vários países, principalmente de Cuba, da Argentina e do Brasil.
"Calcula-se que o número oscilava entre 10 mil e 13 mil."
Para garantir o sucesso do plano, teria sido introduzida no país "uma imensa quantidade de armamentos, estocada em locais impossíveis de pesquisar (como o Palácio de La Moneda e a residência do sr. Allende)".
Os equipamentos, suficientes para armar "uns 5.000 homens", seriam originários da Tcheco-Eslováquia e da União Soviética (países então sob regime comunista, dissolvidos nos anos 90).
O "Livro Branco" traz fotos de armamentos supostamente apreendidos no palácio presidencial e na casa de Allende.
"Que o mundo julgue se os chilenos tiveram ou não o direito de sacudir o jugo de um regime indigno, para iniciar o caminho da restauração nacional." (OD)



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