São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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VENEZUELA

Soldados negam entrega de equipamentos à prefeitura metropolitana; Chávez interveio na corporação em novembro

Polícia de Caracas desafia Justiça e eleva crise

DA REDAÇÃO

Soldados da Polícia Metropolitana (PM) de Caracas fecharam na madrugada de ontem os portões de delegacias em desafio à decisão da Justiça, na noite de anteontem, que devolveu o controle da corporação ao prefeito da região metropolitana da capital, Alfredo Peña, adversário político do presidente Hugo Chávez.
O governo venezuelano havia tomado o controle da PM no dia 16 de novembro, alegando medidas de segurança por causa de uma greve de 400 dos cerca de 9.000 membros da corporação. Opositores acusavam Chávez de apoiar a greve como desculpa para tirar a PM das mãos de Peña.
A decisão da Justiça aumenta a tensão no país, cujas divisões se aprofundam a cada dia, por conta da greve geral liderada pela oposição desde o dia 2 para forçar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato.
A greve provocou a redução da produção de petróleo a um terço do normal e paralisou totalmente as exportações do produto, responsável por 80% das vendas externas do país. A Venezuela é o quinto maior produtor mundial de petróleo.
A decisão da Justiça anteontem determinou a entrega, pelas Forças Armadas, de delegacias, armamento, rádios, carros e motocicletas da PM de volta para a prefeitura de Caracas. A decisão tem caráter temporário, enquanto o mérito da causa é avaliado.
Peña disse que a ordem não estava sendo seguida e que não tinha o que fazer contra isso. "Não tenho tanques, bazucas ou aviões para obrigar a cúpula militar em Caracas a obedecer a uma ordem judicial", disse.
Com o acirramento das posições, os organizadores da greve geral já exigem a renúncia imediata de Chávez e a convocação de eleições antecipadas.
O presidente, cujo mandato termina em 2007, diz que não renunciará e que cumprirá o que determina a Constituição, que só permite um referendo para a revogação de seu mandato a partir de agosto do ano que vem, quando seu governo chega à metade.
Na noite de anteontem, centenas de simpatizantes de Chávez voltaram a se manifestar em frente ao palácio presidencial de Miraflores, como já haviam feito durante o dia.
A oposição diz que o governo organizou as manifestações para criar um escudo humano e impedir que uma eventual passeata opositora chegue ao palácio.

Marchas
Na tarde de ontem, milhares de opositores se concentraram em seis pontos de Caracas para empreender a chamada "Tomada de Caracas", dispostos a percorrer até 15 km até o bairro de Altamira, onde há uma semana morreram três pessoas. O objetivo da marcha é pedir a renúncia de Chávez e a antecipação das eleições.
Com gritos de "fora, fora", os opositores elevaram bandeiras venezuelanas pedindo "eleições já". "Faremos justiça mais cedo", disse Carlos Ortega, um dos líderes da greve geral, presidente da CTV (Confederação de Trabalhadores da Venezuela).
O governo de Chávez, que só aceita se submeter a um referendo no meio do mandato, em agosto de 2003, por sua vez, convocou para a noite de ontem uma festa de Natal "bolivariana", programada para acontecer nas proximidades do palácio presidencial de Miraflores, ao som de gaitas, com tocadores de tambores e danças típicas.


Com agências internacionais

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