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FIM DA CAÇADA
Rumsfeld diz que ex-ditador será tratado pela Convenção de Genebra; julgamento pode ocorrer no Iraque
Saddam é "prisioneiro de guerra"
DA REDAÇÃO
O ex-ditador Saddam Hussein
será tratado como prisioneiro de
guerra e está protegido pela Convenção de Genebra, informou ontem o secretário da Defesa dos
EUA, Donald Rumsfeld.
"Resolveu-se que ele terá a proteção do estatuto de prisioneiro
de guerra e será tratado de acordo
com a Convenção de Genebra",
disse Rumsfeld, durante entrevista à rede de TV CBS.
Rumsfeld disse que Saddam
"será tratado de forma humana e
profissional", mas que é "cedo demais" para tomar decisões sobre
seu destino. O secretário afirmou
que o futuro de Saddam será discutido "em alto nível" entre os
EUA e seus aliados, com a participação de advogados.
Criada em 1949 para evitar que
os horrores das grandes guerras
se repetissem, a convenção proíbe, por exemplo, que imagens de
prisioneiros sejam publicadas.
Apesar disso, imagens de Saddam
foram divulgadas pelos EUA e
mostradas à exaustão em todo o
mundo.
A convenção também prevê o
julgamento de prisioneiros por
crimes de guerra e contra a humanidade.
A primeira opção analisada pelos EUA e pelo Conselho de Governo Iraquiano seria levar Saddam para o tribunal especial, criado no Iraque na semana passada.
Os integrantes do Conselho de
Governo Iraquiano pressionam
para que Saddam compareça perante uma corte no país. "Não há
dúvida de que este será um processo iraquiano", declarou Adnan
Pachachi, um dos membros do
conselho, defendendo um julgamento público, aberto, no Iraque.
O premiê britânico, Tony Blair,
mostrou-se favorável a um julgamento no Iraque. "Caberá a eles
[os iraquianos] decidir seu futuro
[de Saddam]", declarou Blair.
Estabelecido na última quarta, o
tribunal especial julgará crimes
cometidos desde 1968 -quando
o Baath, o partido de Saddam, hoje extinto, assumiu o poder- até
1º de maio deste ano, quando o
presidente dos EUA, George W.
Bush, declarou o fim dos maiores
combates no Iraque. A corte analisará casos como as execuções
em massa de curdos nos anos 80 e
a repressão contra os xiitas logo
após a Guerra do Golfo (1991).
Segundo o atual presidente do
Conselho de Governo Iraquiano,
Abdul Aziz al Hakim, o julgamento seria aberto ao público, possivelmente televisionado.
Apesar da promessa de julgamento justo, Al Hakim sintetizou
o espírito que domina o conselho
de governo: "Queremos que Saddam tenha o que mereça. Acredito que ele venha a ser sentenciado
a centenas de penas de morte".
A pena de morte no Iraque foi
suspensa pelos EUA logo após a
queda de Bagdá, em abril. Hipoteticamente, poderá ser restabelecida pelo governo iraquiano que
vier a assumir o país em junho de
2004, prazo previsto pelo governo
americano para a devolução da
soberania aos iraquianos.
A coalizão liderada pelos EUA
mantém presas ao menos 5.500
pessoas, mas não é sabido quantos são criminosos de guerra. Entre os detidos estão o ex-vice-premiê Tariq Aziz e o ex-vice-presidente Taha Yassin Ramadan.
Tratamento justo
A entidade de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional demonstrou preocupação
quanto ao tratamento que Saddam receberá agora.
"Como qualquer suspeito, ele
[Saddam] tem de ter as garantias
previstas pelas leis internacionais.
Obviamente, também deve ter direito a um advogado de defesa e a
um julgamento justo", analisou a
porta-voz Nicole Shoueiry.
A Anistia questionou a legitimidade do tribunal especial, por ter
sido criado sem que a ONU, especialistas internacionais em direito
e a sociedade civil iraquiana fossem consultados.
Outro argumento contra o tribunal é a falta de infra-estrutura
no Iraque. "Só Deus sabe quanto
tempo será necessário para a vida
normal retornar ao Iraque e para
que pessoas competentes [para o
tribunal] sejam encontradas",
disse o advogado holandês Michail Wladimiroff, que acompanha o julgamento do ex-ditador
iugoslavo Slobodan Milosevic no
tribunal da ONU para crimes de
guerra em Haia (Holanda).
Wladimiroff propõe uma fórmula igual à adotada para julgar o
ex-presidente da Libéria Charles
Taylor. No caso, foi montada uma
corte internacional na vizinha
Serra Leoa, com participação de
juízes e advogados internacionais.
Com agências internacionais
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