São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Foi a frase mais contundente de Ahmadinejad sobre o genocídio dos judeus; declaração recebe repúdio internacional

Líder iraniano diz que Holocausto é "mito"

DA REDAÇÃO

O presidente Iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, qualificou ontem o Holocausto de "mito", na terceira -e mais contundente- declaração em menos de uma semana em que nega o massacre de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Ahmadinejad vem optando pelo isolamento de seu país, diante da inevitável deterioração das relações diplomáticas com governos que aceitam alguma forma de diálogo com seu regime islâmico.
As declarações de ontem foram condenadas em termos inequívocos e até agressivos na Europa, Israel e Estados Unidos.
Discursando a milhares de manifestantes na cidade de Zahedan, Ahmadinejad disse que "eles [os judeus] criaram um mito com o nome de Holocausto e o consideram superior a Deus, à religião e aos profetas". Em outubro, o presidente despertou uma onda inicial de reações ao dizer que Israel deveria ser "varrido do mapa".
Na quinta-feira passada, quando em visita à Arábia Saudita, ele exprimiu dúvidas sobre a veracidade do genocídio. Reiterou essa posição negacionista em conferência feita anteontem em Teerã.
Mas ontem foi a primeira vez que ele qualificou o Holocausto de "mito". A maior parte dos historiadores coincide ao afirmar que o nazismo matou cerca de 6 milhões de judeus. No mundo muçulmano, alguns poucos radicais negam o Holocausto como forma de atingir um alicerce político e moral da criação de Israel.
É nesse grupo que Ahmadinejad abertamente se enquadra. Ele desta vez sugeriu que Israel seja transferido para "os Estados Unidos, o Canadá ou o Alasca (sic)".
Na semana passada, o presidente iraniano afirmara que Israel deveria ser abrigado em território da Alemanha ou da Áustria.
Apesar de o Irã ser uma ditadura controlada pelo clérigo xiita, um grupo interno reformista, a Frente Iraniana de Participação Islâmica, criticou ontem Ahmadinejad, ao afirmar que os termos "provocadores" que ele emprega não ajudam as causas do país.
O porta-voz da diplomacia israelense Mark Regev disse ontem que "a reiteração das declarações ultrajantes do presidente iraniano mostra com clareza a mentalidade dominante entre os malfeitores que governam aquele país e exemplifica a política e os objetivos extremistas do regime".
Avner Shalev, diretor do Yad Vashem, o memorial ao Holocausto de Jerusalém, disse que "a comunidade internacional e as Nações Unidas devem tratar da questão mais seriamente".
Em Washington, a Casa Branca disse que, com as últimas declarações "ultrajantes" de Ahmadinejad, tem-se mais uma vez a idéia de quanto seria perigoso se o Irã possuísse uma bomba atômica.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, afirmou que "o Irã mereceria ter melhores governantes".
Douglas Alexander, ministro para Assuntos Europeus do Reino Unido, que exerce a presidência rotativa da União Européia, disse que as afirmações do presidente iraniano "são incompatíveis com um debate político civilizado".
A Alemanha disse que as novas declarações de Ahmadinejad abrem uma área suplementar de atrito na já delicada negociação de Teerã com Berlim, Londres e Paris sobre o programa nuclear iraniano. Para o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, as declarações do presidente são "chocantes". Para o presidente da Áustria, Heinz Fischer, elas são "inaceitáveis", a mesma palavra empregada pelo porta-voz da diplomacia francesa.
O Congresso Judaico Latino-Americano e a Confederação Israelita do Brasil publicaram nota em que expressam "o mais enérgico repúdio às declarações que agridem o Estado de Israel e a memória dos 6 milhões de judeus assassinados na Europa durante a Segunda Guerra Mundial".
Jayme Blay, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, qualificou Ahmadinejad de "desconectado da realidade".


Com agências internacionais

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