São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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AMÉRICA DO SUL

Motivo seria a atuação de Gonzalo Palacios em uma prisão clandestina na ditadura; militar pediu aposentadoria

Ministra argentina veta promoção de general

DE BUENOS AIRES

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, impediu a promoção do general-de-brigada do Exército Gonzalo Palacios, que, diante da negativa, pediu aposentadoria. O motivo da recusa, que causou mal-estar nas Forças Armadas, teria sido a atuação do general em uma prisão clandestina durante a ditadura (1976-83).
É o primeiro gesto de repercussão da ministra, que assumiu a pasta há duas semanas. Os militares argentinos temem que o currículo de Garré, que foi militante de movimentos de esquerda e de direitos humanos, alimente uma atuação "revanchista" no Ministério da Defesa.
Ontem, o jornal argentino "Clarín" afirmou que mais três nomes das Forças Armadas teriam suas promoções barradas. Se tivesse sido aceita a promoção, Palacios passaria de general-de-brigada a general-de-divisão. Seria o terceiro na hierarquia do Exército.

Inflexão
Não houve declaração oficial sobre o caso, e fontes militares negaram o mal-estar à agência oficial de notícias, mas o discurso do presidente Néstor Kirchner anteontem reforça os sinais de qual é a sua orientação.
Kirchner disse que 2006, quando o golpe completa 30 anos, será "ponto de inflexão" para a Argentina depois do regime. Pediu "rapidez" nos processos sobre tortura e violação de direitos humanos. "Esses senhores não podem estar livres", afirmou.
O debate sobre a atuação na ditadura também se reflete fora da pasta da Defesa. Na semana passada, o deputado Luis Patti, eleito em outubro, foi impedido de assumir o cargo após derrota em votação na Câmara. Motivo: ele é apontado como torturador.
Kirchner atacou o deputado: "Habilitemos a [Alejandro] Biondini [líder do neonazismo argentino], ao nazismo alemão, e amanhã teremos um general presidente da Argentina".
Além do caso de Patti, o ministro da economia do regime militar José María Dagnino Pastore foi impedido de continuar dando aula na UBA (Universidade de Buenos Aires). Seu passado como ministro, entre abril e julho de 1982, retira "sua idoneidade moral", afirma aprovado por um conselho da instituição. Ele ensinava na UBA desde 2002. Em editorial, o diário "La Nación" classificou os episódios de Patti, Pastore e Palacios como "perseguição ideológica".
Kirchner também tem se confrontado com a Igreja Católica, que afirma que o governo têm uma visão "maniqueísta" da ditadura. Ontem, em sua mensagem de Natal, bispos pediram para que se deixassem de lado "rancores e ressentimentos" em nome da "reconcialiação".
Em junho, foram revogadas as chamadas "leis do perdão", que anistiavam crimes cometidos pelos militares. Agora, espera-se que um volume grande de processos seja julgado.


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