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AMÉRICA DO SUL
Motivo seria a atuação de Gonzalo Palacios em uma prisão clandestina na ditadura; militar pediu aposentadoria
Ministra argentina veta promoção de general
DE BUENOS AIRES
A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, impediu a promoção do general-de-brigada do
Exército Gonzalo Palacios, que,
diante da negativa, pediu aposentadoria. O motivo da recusa, que
causou mal-estar nas Forças Armadas, teria sido a atuação do general em uma prisão clandestina
durante a ditadura (1976-83).
É o primeiro gesto de repercussão da ministra, que assumiu a
pasta há duas semanas. Os militares argentinos temem que o currículo de Garré, que foi militante de
movimentos de esquerda e de direitos humanos, alimente uma
atuação "revanchista" no Ministério da Defesa.
Ontem, o jornal argentino "Clarín" afirmou que mais três nomes
das Forças Armadas teriam suas
promoções barradas. Se tivesse sido aceita a promoção, Palacios
passaria de general-de-brigada a
general-de-divisão. Seria o terceiro na hierarquia do Exército.
Inflexão
Não houve declaração oficial sobre o caso, e fontes militares negaram o mal-estar à agência oficial
de notícias, mas o discurso do
presidente Néstor Kirchner anteontem reforça os sinais de qual é
a sua orientação.
Kirchner disse que 2006, quando o golpe completa 30 anos, será
"ponto de inflexão" para a Argentina depois do regime. Pediu "rapidez" nos processos sobre tortura e violação de direitos humanos.
"Esses senhores não podem estar
livres", afirmou.
O debate sobre a atuação na ditadura também se reflete fora da
pasta da Defesa. Na semana passada, o deputado Luis Patti, eleito
em outubro, foi impedido de assumir o cargo após derrota em
votação na Câmara. Motivo: ele é
apontado como torturador.
Kirchner atacou o deputado:
"Habilitemos a [Alejandro] Biondini [líder do neonazismo argentino], ao nazismo alemão, e amanhã teremos um general presidente da Argentina".
Além do caso de Patti, o ministro da economia do regime militar José María Dagnino Pastore
foi impedido de continuar dando
aula na UBA (Universidade de
Buenos Aires). Seu passado como
ministro, entre abril e julho de
1982, retira "sua idoneidade moral", afirma aprovado por um
conselho da instituição. Ele ensinava na UBA desde 2002. Em editorial, o diário "La Nación" classificou os episódios de Patti, Pastore e Palacios como "perseguição
ideológica".
Kirchner também tem se confrontado com a Igreja Católica,
que afirma que o governo têm
uma visão "maniqueísta" da ditadura. Ontem, em sua mensagem
de Natal, bispos pediram para que
se deixassem de lado "rancores e
ressentimentos" em nome da "reconcialiação".
Em junho, foram revogadas as
chamadas "leis do perdão", que
anistiavam crimes cometidos pelos militares. Agora, espera-se que
um volume grande de processos
seja julgado.
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