São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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AMÉRICA DO SUL

Para porta-voz das empresas do setor, entre elas a Petrobras, propostas dos presidenciáveis são superficiais

Retórica afeta gás boliviano, diz empresário

DO ENVIADO A SANTA CRUZ

"Um mar de retórica com um centímetro de profundidade." É assim que a poderosa Câmara de Hidrocarbonetos definiu a forma como tem sido debatido o explosivo tema da exploração de gás na Bolívia, um dos grandes pivôs da atual crise política e parcialmente responsável pela queda de dois presidentes desde 2003.
"As propostas dos principais candidatos têm sido essencialmente superficiais e são um reflexo do tipo de discussão ocorrida na Bolívia durante os últimos três anos. Há uma alta carga ideológica, mas, além disso, não há profundidade suficiente nas propostas para sequer fazer uma análise", disse à Folha Carlos Alberto López, porta-voz da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, que reúne as principais empresas do setor no país -entre elas, a Petrobras.

Incertezas
López aponta dois principais focos de incerteza: a promessa dos principais candidatos de alterar a recém-aprovada Lei de Hidrocarbonetos, aprovada em maio, que aumentou os impostos, em média, de 32% para 50%, "mas sem dizer para qual direção", e a convocação de uma nova Assembléia Constituinte, que também pode modificar as regras de exploração do gás natural.
"Nesse ambiente, houve um colapso de investimentos nos últimos anos", disse López.
Segundo a Câmara de Hidrocarbonetos, os investimentos no setor caíram de US$ 608 milhões, em 1998, quando atingiu o seu auge, para US$ 62,5 milhões no primeiro semestre deste ano.
"Os investimentos foram exclusivamente para que as companhias pudessem cumprir suas obrigações contratuais, mas não são suficientes para desenvolver os campos de gás descobertos nos últimos anos, e muito menos para grandes projetos de exportação", afirma o porta-voz.
O aumento da tributação do gás levou a Petrobras a anunciar a paralisação do projeto de expansão do gasoduto Bolívia-Brasil, em julho. O Brasil é o principal comprador do gás boliviano, e a Petrobras Bolívia é a maior empresa do setor, responsável por US$ 1,6 bilhão dos US$ 3,5 bilhões dos investimentos externos.

Promessa difícil
Para o analista Carlos Miranda, ex-superintendente de Hidrocarbonetos, a diferença entre os dois principais candidatos, o socialista Evo Morales e o ex-presidente Tuto Quiroga, está sobretudo na estratégia de diálogo e no papel do Estado.
"Com Evo e seu partido, haverá um cenário de confronto, buscando uma nacionalização direta dos hidrocarbonetos por meio de uma negociação dura com as empresas. Por outro lado, haverá um cenário de negociação, de buscar um campo para chegar a resultados razoáveis. Mas nenhuma das forças quer uma confrontação total, o que levaria a processos de arbitragem."
Tanto Miranda quanto López descartam como impraticável a promessa feita por Evo Morales ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a qual a Petrobras teria um "tratamento diferenciado", já que as operações da estatal brasileira são feitas em sociedade com outras empresas. (FABIANO MAISONNAVE)


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