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AMÉRICA DO SUL
Para porta-voz das empresas do setor, entre elas a Petrobras, propostas dos presidenciáveis são superficiais
Retórica afeta gás boliviano, diz empresário
DO ENVIADO A SANTA CRUZ
"Um mar de retórica com um
centímetro de profundidade." É
assim que a poderosa Câmara de
Hidrocarbonetos definiu a forma
como tem sido debatido o explosivo tema da exploração de gás na
Bolívia, um dos grandes pivôs da
atual crise política e parcialmente
responsável pela queda de dois
presidentes desde 2003.
"As propostas dos principais
candidatos têm sido essencialmente superficiais e são um reflexo do tipo de discussão ocorrida
na Bolívia durante os últimos três
anos. Há uma alta carga ideológica, mas, além disso, não há profundidade suficiente nas propostas para sequer fazer uma análise", disse à Folha Carlos Alberto
López, porta-voz da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, que
reúne as principais empresas do
setor no país -entre elas, a Petrobras.
Incertezas
López aponta dois principais focos de incerteza: a promessa dos
principais candidatos de alterar a
recém-aprovada Lei de Hidrocarbonetos, aprovada em maio, que
aumentou os impostos, em média, de 32% para 50%, "mas sem
dizer para qual direção", e a convocação de uma nova Assembléia
Constituinte, que também pode
modificar as regras de exploração
do gás natural.
"Nesse ambiente, houve um colapso de investimentos nos últimos anos", disse López.
Segundo a Câmara de Hidrocarbonetos, os investimentos no
setor caíram de US$ 608 milhões,
em 1998, quando atingiu o seu auge, para US$ 62,5 milhões no primeiro semestre deste ano.
"Os investimentos foram exclusivamente para que as companhias pudessem cumprir suas
obrigações contratuais, mas não
são suficientes para desenvolver
os campos de gás descobertos nos
últimos anos, e muito menos para
grandes projetos de exportação",
afirma o porta-voz.
O aumento da tributação do gás
levou a Petrobras a anunciar a paralisação do projeto de expansão
do gasoduto Bolívia-Brasil, em julho. O Brasil é o principal comprador do gás boliviano, e a Petrobras Bolívia é a maior empresa do
setor, responsável por US$ 1,6 bilhão dos US$ 3,5 bilhões dos investimentos externos.
Promessa difícil
Para o analista Carlos Miranda,
ex-superintendente de Hidrocarbonetos, a diferença entre os dois
principais candidatos, o socialista
Evo Morales e o ex-presidente Tuto Quiroga, está sobretudo na estratégia de diálogo e no papel do
Estado.
"Com Evo e seu partido, haverá
um cenário de confronto, buscando uma nacionalização direta dos
hidrocarbonetos por meio de
uma negociação dura com as empresas. Por outro lado, haverá um
cenário de negociação, de buscar
um campo para chegar a resultados razoáveis. Mas nenhuma das
forças quer uma confrontação total, o que levaria a processos de arbitragem."
Tanto Miranda quanto López
descartam como impraticável a
promessa feita por Evo Morales
ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a qual a
Petrobras teria um "tratamento
diferenciado", já que as operações
da estatal brasileira são feitas em
sociedade com outras empresas.
(FABIANO MAISONNAVE)
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