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ÁSIA
Família maior passou a ser sinal de status para a elite do país
Chineses ricos pagam para driblar controle estatal e ter mais filhos
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A crescente desigualdade de
renda chinesa ganhou um elemento perturbador: os ricos estão
pagando multas de até US$ 20 mil
(R$ 46 mil) para escapar do controle de natalidade e ter mais de
um filho, colocando em xeque
uma das mais rigorosas políticas
do regime comunista.
Ter vários filhos passou a ser
um símbolo de status entre a elite
do país, de acordo com reportagem publicada ontem nos principais veículos de comunicação do
Partido Comunista e do governo.
"Magnatas e estrelas do "show
biz" estão encontrando várias maneiras de contornar a política de
um só filho", diz o texto, reproduzido no "China Daily", publicação
do gabinete chinês, no "People's
Daily", porta-voz do Partido Comunista, e na "Xinhua", agência
oficial de notícias.
Instituído no fim dos anos 70, o
controle de natalidade teve implantação traumática em um país
cuja tradição valorizava grandes
famílias e no qual os filhos têm
papel crucial no sustento dos pais
na velhice.
A possibilidade de os ricos escaparem à restrição deve elevar a
tensão decorrente do crescimento
da desigualdade social que acompanhou o processo de expansão
econômico dos últimos 26 anos.
A China enfrenta o aumento da
distância entre ricos e pobres nas
cidades, entre as zonas urbana e
rural e entre as regiões leste e oeste do país. Apesar de a renda per
capita dos chineses ter se multiplicado por oito desde o fim dos
anos 70, os que vivem nas cidades
e estão no topo da pirâmide social
foram os mais beneficiados pelo
espetacular crescimento de 9,4%
ao ano registrado nesse período.
"Apesar de muitas pessoas terem o sonho de ter mais de um filho, só um punhado de novos ricos pode realizá-lo. Como essa
iniqüidade vai afetar as famílias
trabalhadoras do ponto de vista
psicológico?", declarou na reportagem Zhang Yi, pesquisador da
Academia Chinesa de Ciências
Sociais, o principal instituto de
pesquisa do governo.
Para amenizar o problema,
Zhang propõe a elevação da multa e sua fixação de acordo com o
rendimento da família.
Com 1,3 bilhão de habitantes, o
equivalente a um quinto da humanidade, a China tem no controle de natalidade uma política
crucial, implementada com mão
de ferro pelo governo.
A percepção de que os ricos desfrutam de privilégios em uma sociedade que já prezou o igualitarismo é reforçada por declarações
de um milionário identificado
apenas como Yu pelos jornais chineses. "Eu respeito a tradição e a
cultura chinesas, por isso é natural para mim, que tenho fama e
fortuna, ter uma família maior",
disse Yu, pai de duas filhas e um
filho e com desejo de ter mais um
descendente do sexo masculino.
A redução da desigualdade social é um dos principais objetivos
do Plano Qüinqüenal chinês para
o período 2006-2010. O governo
enfrenta um número crescente de
protestos dos que se consideram
excluídos dos benefícios da expansão econômica. O mais recente, no início do mês, deixou um saldo de cerca de 20 mortos.
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