São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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ÁSIA

Família maior passou a ser sinal de status para a elite do país

Chineses ricos pagam para driblar controle estatal e ter mais filhos

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A crescente desigualdade de renda chinesa ganhou um elemento perturbador: os ricos estão pagando multas de até US$ 20 mil (R$ 46 mil) para escapar do controle de natalidade e ter mais de um filho, colocando em xeque uma das mais rigorosas políticas do regime comunista.
Ter vários filhos passou a ser um símbolo de status entre a elite do país, de acordo com reportagem publicada ontem nos principais veículos de comunicação do Partido Comunista e do governo.
"Magnatas e estrelas do "show biz" estão encontrando várias maneiras de contornar a política de um só filho", diz o texto, reproduzido no "China Daily", publicação do gabinete chinês, no "People's Daily", porta-voz do Partido Comunista, e na "Xinhua", agência oficial de notícias.
Instituído no fim dos anos 70, o controle de natalidade teve implantação traumática em um país cuja tradição valorizava grandes famílias e no qual os filhos têm papel crucial no sustento dos pais na velhice.
A possibilidade de os ricos escaparem à restrição deve elevar a tensão decorrente do crescimento da desigualdade social que acompanhou o processo de expansão econômico dos últimos 26 anos.
A China enfrenta o aumento da distância entre ricos e pobres nas cidades, entre as zonas urbana e rural e entre as regiões leste e oeste do país. Apesar de a renda per capita dos chineses ter se multiplicado por oito desde o fim dos anos 70, os que vivem nas cidades e estão no topo da pirâmide social foram os mais beneficiados pelo espetacular crescimento de 9,4% ao ano registrado nesse período.
"Apesar de muitas pessoas terem o sonho de ter mais de um filho, só um punhado de novos ricos pode realizá-lo. Como essa iniqüidade vai afetar as famílias trabalhadoras do ponto de vista psicológico?", declarou na reportagem Zhang Yi, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, o principal instituto de pesquisa do governo.
Para amenizar o problema, Zhang propõe a elevação da multa e sua fixação de acordo com o rendimento da família.
Com 1,3 bilhão de habitantes, o equivalente a um quinto da humanidade, a China tem no controle de natalidade uma política crucial, implementada com mão de ferro pelo governo.
A percepção de que os ricos desfrutam de privilégios em uma sociedade que já prezou o igualitarismo é reforçada por declarações de um milionário identificado apenas como Yu pelos jornais chineses. "Eu respeito a tradição e a cultura chinesas, por isso é natural para mim, que tenho fama e fortuna, ter uma família maior", disse Yu, pai de duas filhas e um filho e com desejo de ter mais um descendente do sexo masculino.
A redução da desigualdade social é um dos principais objetivos do Plano Qüinqüenal chinês para o período 2006-2010. O governo enfrenta um número crescente de protestos dos que se consideram excluídos dos benefícios da expansão econômica. O mais recente, no início do mês, deixou um saldo de cerca de 20 mortos.


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