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Paraguai define disputa eleitoral
Partido Colorado escolhe entre ex-ministra e ex-vice-presidente candidato para eleição presidencial
Concorrência mais forte será representada por general Lino Oviedo, o "candidato verde e amarelo", e ex-bispo esquerdista Fernando Lugo
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Já cheia de tensões e reviravoltas, a campanha para as eleições de abril de 2008 no Paraguai começa para valer amanhã, quando o Partido Colorado -no poder há 60 anos, contando a ditadura de Alfredo
Stroessner (1954-1989)- escolhe seu candidato presidencial.
Tecnicamente empatados, chegam como favoritos às primárias do partido o ex-vice-presidente Luis Castiglioni, 45, e
Blanca Ovelar, 49, ex-ministra
da Educação e indicada pelo
presidente Nicanor Duarte.
O vencedor enfrentará uma
disputa acirrada com dois personagens que conseguiram a
duras penas lançar suas candidaturas. O primeiro é o ex-bispo Fernando Lugo, 56, da
Aliança Patriótica para a Mudança (APM), que teve seu
abandono da batina rechaçado
pelo Vaticano. A Constituição
paraguaia proíbe candidaturas
de sacerdotes, mas ele diz que,
por ter deixado o posto publicamente, a oposição da igreja não
o impede de disputar eleições.
O segundo é o general Lino
Oviedo, 58, que só recuperou
seus direitos políticos no final
de outubro deste ano, quando a
Suprema Corte do Paraguai
anulou uma condenação a dez
anos de prisão por tentativa de
golpe de Estado em 1996.
Ele também foi acusado de ligação com o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña e pela morte de oito jovens
nas manifestações que se seguiram, em março de 1999. A Justiça paraguaia concedeu habeas
corpus a Oviedo pelos dois processos em julho. O general concorre pelo partido Unace
(União Nacional dos Cidadãos
Éticos), que formou inicialmente dentro do Colorado antes de ser expulso da agremiação com o suposto golpe.
A rapidez da liberação de
Oviedo para se candidatar gerou rumores de que Nicanor
Duarte tramava soltá-lo para
dividir a oposição e impedir a
vitória de Lugo. Em texto enviado à Folha, marqueteiros da
campanha do general confirmam o boato. "Foi tamanha a
angústia oficial [com a popularidade do ex-bispo] que o governo colorado (...) resolveu libertar Lino Oviedo. E assim dividir os votos da oposição."
O general credita todas as
acusações à "perseguição política" do ex-presidente Juan
Carlos Wasmosy [1993-1998] e
diz crer que elas não atrapalham sua campanha: "O povo
do Paraguai, em sua maioria,
nunca acreditou que eu fosse
culpado", afirmou à Folha.
Verde e amarelo
O Brasil tem peso considerável na campanha paraguaia por
três razões principais: o contrato de venda de energia excedente da usina de Itaipu, a situação dos 800 mil brasiguaios
e o comércio na fronteira.
Um dos motes da campanha
esquerdista de Lugo é rever os
contratos de Itaipu e elevar o
preço de venda, hoje muito
abaixo do mercado, em até sete
vezes. "Lugo impõe condições,
ele quer fazer guerra", afirma
Oviedo, sem no entanto deixar
de propor mudanças radicais.
"Não vamos aumentar o preço. Mas vou gastar o excedente
no Paraguai e, a longo prazo,
não teremos mais nada para
vender ao Brasil. É o justo. Senão o Paraguai vai acabar! A
energia é nossa, e hoje só usamos 6% dela", defende.
Mas as propostas de Oviedo
para parcerias com o Brasil já
lhe renderam o apelido de
"candidato verde e amarelo" e
acusações de que, se ele vencer,
o Paraguai será um novo Estado brasileiro. O general não se
opõe e dá como exemplos projetos de produção conjunta de
álcool e biodiesel. "Gostaria
sim que o Paraguai fosse um
Estado do Brasil. Se possível, o
poderoso São Paulo."
O general defende ainda investimentos para integrar o ciclo energético de Itaipu com as
usinas de Corpus (na Argentina) e Yacyretá (fronteira entre
Paraguai e Argentina).
Outra diferença entre Lugo e
Oviedo está no Mercosul
-mais precisamente, na entrada da Venezuela no bloco. À
Folha a campanha de Lugo se
disse favorável e afirmou que o
presidente Hugo Chávez mostrou a veia democrática ao aceitar o resultado do referendo
que derrubou sua proposta de
reforma constitucional. Já a
campanha de Oviedo destacou
que ele "reagiu mal-humorado
às críticas de Chávez aos Parlamentos paraguaio e brasileiro
pela demora na decisão que interessa à Venezuela".
O general pró-EUA ainda se
mostra propenso a permitir a
implantação de uma base militar americana no Paraguai, o
que não entusiasma o ex-bispo.
Favoritismo
As últimas pesquisas de opinião divergem sobre a preferência dos eleitores paraguaios,
ora dando a liderança a Lugo,
ora a Oviedo, com o Partido Colorado geralmente na segunda
colocação, independentemente do candidato. Todos os presidenciáveis contestam os resultados dos levantamentos desfavoráveis.
Ainda nas campanhas primárias do Colorado, os candidatos
já denunciam o uso da máquina
pública a favor de Ovelar, já que
Nicanor Duarte acumula sua
Presidência com o posto de
chefe da campanha da ex-ministra. "Estão muito equivocados os que pensam que sou uma
marionete", disse Ovelar, citada pelo jornal "ABC Color".
Duarte também é candidato a
senador nestas eleições.
Castiglioni, que encerrou sua
campanha na última quinta-feira pedindo ajuda para "mandar Nicanor para casa", alertou
contra a possibilidade de fraudes na votação do domingo. Ele
convocou entre 200 mil e 300
mil partidários dentro do 1,6
milhão de filiados ao Colorado
-quase 60% do eleitorado paraguaio- a ficar atentados à votação.
Com agências internacionais
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