São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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Paraguai define disputa eleitoral

Partido Colorado escolhe entre ex-ministra e ex-vice-presidente candidato para eleição presidencial

Concorrência mais forte será representada por general Lino Oviedo, o "candidato verde e amarelo", e ex-bispo esquerdista Fernando Lugo

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Já cheia de tensões e reviravoltas, a campanha para as eleições de abril de 2008 no Paraguai começa para valer amanhã, quando o Partido Colorado -no poder há 60 anos, contando a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989)- escolhe seu candidato presidencial. Tecnicamente empatados, chegam como favoritos às primárias do partido o ex-vice-presidente Luis Castiglioni, 45, e Blanca Ovelar, 49, ex-ministra da Educação e indicada pelo presidente Nicanor Duarte.
O vencedor enfrentará uma disputa acirrada com dois personagens que conseguiram a duras penas lançar suas candidaturas. O primeiro é o ex-bispo Fernando Lugo, 56, da Aliança Patriótica para a Mudança (APM), que teve seu abandono da batina rechaçado pelo Vaticano. A Constituição paraguaia proíbe candidaturas de sacerdotes, mas ele diz que, por ter deixado o posto publicamente, a oposição da igreja não o impede de disputar eleições.
O segundo é o general Lino Oviedo, 58, que só recuperou seus direitos políticos no final de outubro deste ano, quando a Suprema Corte do Paraguai anulou uma condenação a dez anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 1996.
Ele também foi acusado de ligação com o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña e pela morte de oito jovens nas manifestações que se seguiram, em março de 1999. A Justiça paraguaia concedeu habeas corpus a Oviedo pelos dois processos em julho. O general concorre pelo partido Unace (União Nacional dos Cidadãos Éticos), que formou inicialmente dentro do Colorado antes de ser expulso da agremiação com o suposto golpe.
A rapidez da liberação de Oviedo para se candidatar gerou rumores de que Nicanor Duarte tramava soltá-lo para dividir a oposição e impedir a vitória de Lugo. Em texto enviado à Folha, marqueteiros da campanha do general confirmam o boato. "Foi tamanha a angústia oficial [com a popularidade do ex-bispo] que o governo colorado (...) resolveu libertar Lino Oviedo. E assim dividir os votos da oposição."
O general credita todas as acusações à "perseguição política" do ex-presidente Juan Carlos Wasmosy [1993-1998] e diz crer que elas não atrapalham sua campanha: "O povo do Paraguai, em sua maioria, nunca acreditou que eu fosse culpado", afirmou à Folha.

Verde e amarelo
O Brasil tem peso considerável na campanha paraguaia por três razões principais: o contrato de venda de energia excedente da usina de Itaipu, a situação dos 800 mil brasiguaios e o comércio na fronteira.
Um dos motes da campanha esquerdista de Lugo é rever os contratos de Itaipu e elevar o preço de venda, hoje muito abaixo do mercado, em até sete vezes. "Lugo impõe condições, ele quer fazer guerra", afirma Oviedo, sem no entanto deixar de propor mudanças radicais.
"Não vamos aumentar o preço. Mas vou gastar o excedente no Paraguai e, a longo prazo, não teremos mais nada para vender ao Brasil. É o justo. Senão o Paraguai vai acabar! A energia é nossa, e hoje só usamos 6% dela", defende.
Mas as propostas de Oviedo para parcerias com o Brasil já lhe renderam o apelido de "candidato verde e amarelo" e acusações de que, se ele vencer, o Paraguai será um novo Estado brasileiro. O general não se opõe e dá como exemplos projetos de produção conjunta de álcool e biodiesel. "Gostaria sim que o Paraguai fosse um Estado do Brasil. Se possível, o poderoso São Paulo."
O general defende ainda investimentos para integrar o ciclo energético de Itaipu com as usinas de Corpus (na Argentina) e Yacyretá (fronteira entre Paraguai e Argentina).
Outra diferença entre Lugo e Oviedo está no Mercosul -mais precisamente, na entrada da Venezuela no bloco. À Folha a campanha de Lugo se disse favorável e afirmou que o presidente Hugo Chávez mostrou a veia democrática ao aceitar o resultado do referendo que derrubou sua proposta de reforma constitucional. Já a campanha de Oviedo destacou que ele "reagiu mal-humorado às críticas de Chávez aos Parlamentos paraguaio e brasileiro pela demora na decisão que interessa à Venezuela".
O general pró-EUA ainda se mostra propenso a permitir a implantação de uma base militar americana no Paraguai, o que não entusiasma o ex-bispo.

Favoritismo
As últimas pesquisas de opinião divergem sobre a preferência dos eleitores paraguaios, ora dando a liderança a Lugo, ora a Oviedo, com o Partido Colorado geralmente na segunda colocação, independentemente do candidato. Todos os presidenciáveis contestam os resultados dos levantamentos desfavoráveis.
Ainda nas campanhas primárias do Colorado, os candidatos já denunciam o uso da máquina pública a favor de Ovelar, já que Nicanor Duarte acumula sua Presidência com o posto de chefe da campanha da ex-ministra. "Estão muito equivocados os que pensam que sou uma marionete", disse Ovelar, citada pelo jornal "ABC Color". Duarte também é candidato a senador nestas eleições.
Castiglioni, que encerrou sua campanha na última quinta-feira pedindo ajuda para "mandar Nicanor para casa", alertou contra a possibilidade de fraudes na votação do domingo. Ele convocou entre 200 mil e 300 mil partidários dentro do 1,6 milhão de filiados ao Colorado -quase 60% do eleitorado paraguaio- a ficar atentados à votação.


Com agências internacionais


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