São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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Equipe de Lugo teme interferência de máfia brasileira em eleição

Para Ricardo Canese, do movimento político do ex-bispo, criminosos brasileiros com ligações com o Paraguai podem tentar interferir no processo eleitoral

DA REDAÇÃO

Além do "fator Lino Oviedo" e das ameaças à segurança de Fernando Lugo, o grupo seguidor do ex-bispo teme também a interferência de "máfias estrangeiras" -inclusive brasileiras- na eleição presidencial paraguaia. "Há muitos interesses econômicos envolvidos", afirmou à Folha Ricardo Canese, secretário de relações internacionais do Tekojojá (movimento político criado por Lugo) e especialista no tema de Itaipu e energia. Leia trechos da entrevista que ele concedeu, por telefone, de Assunção.

 

FOLHA - Contra que candidato colorado o sr. crê que a disputa seria mais difícil?
RICARDO CANESE -
Qualquer um. O Partido Colorado maneja todos os recursos do Estado. É fundamental que haja controle, que venham observadores internacionais. Há no Partido Colorado uma máfia que "desgoverna" nosso país há 60 anos. Não vai ser fácil mudar isso. Há inclusive muita relação com o general Lino Oviedo; eles vêm da mesma estrutura. Oviedo tem uma imensa fortuna e é por isso um candidato poderoso. Enriqueceu durante a ditadura e continuou enriquecendo depois. Creio que seria bom esclarecer a origem de sua fortuna.

FOLHA - Lugo ainda teme ser vítima de atentado ou golpe?
CANESE -
Certamente. Por um lado tentam impugnar a candidatura. Não há argumentos legais, mas a Justiça é manejada pelos grupos dominantes. Podem empreender uma grande fraude. E, se não conseguem, há o risco de um atentado contra sua vida. Não seria a primeira vez; mataram [o vice-presidente Luis María] Argaña. Precisamos de muito controle para que a decisão caiba aos paraguaios e não a grupos mafiosos. Nos preocupa a ingerência de forças estranhas e internacionais.

FOLHA - Até do Brasil?
CANESE -
A influência do governo brasileiro é positiva, assim como de grupos como o PT e a CUT. O que tememos é a interferência de grupos mafiosos brasileiros que estão conectados com outros grupos paraguaios. Há muitos interesses econômicos escusos focados nestas eleições.

FOLHA - Qual a posição de Lugo quanto aos produtores rurais brasiguaios?
CANESE -
Aquele que produz, e produz bem, não tem que ter nenhum temor. Estamos falando de produção social e ambientalmente sustentável. É preciso cumprir as legislações ambientais, que por si já são muito brandas. Não se pode seguir envenenando as pessoas com agrotóxicos. Isso sim tem que mudar, sejam brasiguaios, sejam grandes produtores quaisquer. Não queremos uma produção excludente, mas sim para o crescimento de todos.

FOLHA - Como pretendem mudar os contratos de venda do excedente energético de Itaipu?
CANESE -
Lula disse que o Brasil não quer crescer às custas da miséria dos países mais pobres. Evidentemente, vamos ajudar o presidente Lula a cumprir este compromisso. Foi calculado que Itaipu equivale a um poço de petróleo de 530 mil barris [diários]. A realidade é que só recebemos 4% do preço de mercado pelo que exportamos.
Mas juntos vamos chegar a um entendimento. Em termos de eqüidade, poderia ser uma solução parecida com a que a Bolívia encontrou. Apesar da resistência inicial, a Petrobras firmou os acordos [renegociados para exploração do gás]. Mas o caso deles é diferente, estavam em território boliviano, e Itaipu é binacional.


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