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Equipe de Lugo teme interferência de máfia brasileira em eleição
Para Ricardo Canese, do movimento político do ex-bispo, criminosos brasileiros com ligações com o Paraguai podem tentar interferir no processo eleitoral
DA REDAÇÃO
Além do "fator Lino Oviedo"
e das ameaças à segurança de
Fernando Lugo, o grupo seguidor do ex-bispo teme também a
interferência de "máfias estrangeiras" -inclusive brasileiras- na eleição presidencial
paraguaia. "Há muitos interesses econômicos envolvidos",
afirmou à Folha Ricardo Canese, secretário de relações internacionais do Tekojojá (movimento político criado por Lugo) e especialista no tema de
Itaipu e energia. Leia trechos
da entrevista que ele concedeu,
por telefone, de Assunção.
FOLHA - Contra que candidato colorado o sr. crê que a disputa seria
mais difícil?
RICARDO CANESE - Qualquer um.
O Partido Colorado maneja todos os recursos do Estado. É
fundamental que haja controle,
que venham observadores internacionais. Há no Partido
Colorado uma máfia que "desgoverna" nosso país há 60 anos.
Não vai ser fácil mudar isso. Há
inclusive muita relação com o
general Lino Oviedo; eles vêm
da mesma estrutura.
Oviedo tem uma imensa fortuna e é por isso um candidato
poderoso. Enriqueceu durante
a ditadura e continuou enriquecendo depois. Creio que seria bom esclarecer a origem de
sua fortuna.
FOLHA - Lugo ainda teme ser vítima de atentado ou golpe?
CANESE - Certamente. Por um
lado tentam impugnar a candidatura. Não há argumentos legais, mas a Justiça é manejada
pelos grupos dominantes. Podem empreender uma grande
fraude. E, se não conseguem, há
o risco de um atentado contra
sua vida. Não seria a primeira
vez; mataram [o vice-presidente Luis María] Argaña. Precisamos de muito controle para que
a decisão caiba aos paraguaios e
não a grupos mafiosos. Nos
preocupa a ingerência de forças
estranhas e internacionais.
FOLHA - Até do Brasil?
CANESE - A influência do governo brasileiro é positiva, assim
como de grupos como o PT e a
CUT. O que tememos é a interferência de grupos mafiosos
brasileiros que estão conectados com outros grupos paraguaios. Há muitos interesses
econômicos escusos focados
nestas eleições.
FOLHA - Qual a posição de Lugo
quanto aos produtores rurais brasiguaios?
CANESE - Aquele que produz, e
produz bem, não tem que ter
nenhum temor. Estamos falando de produção social e ambientalmente sustentável. É
preciso cumprir as legislações
ambientais, que por si já são
muito brandas. Não se pode seguir envenenando as pessoas
com agrotóxicos. Isso sim tem
que mudar, sejam brasiguaios,
sejam grandes produtores
quaisquer. Não queremos uma
produção excludente, mas sim
para o crescimento de todos.
FOLHA - Como pretendem mudar
os contratos de venda do excedente
energético de Itaipu?
CANESE - Lula disse que o Brasil
não quer crescer às custas da
miséria dos países mais pobres.
Evidentemente, vamos ajudar
o presidente Lula a cumprir este compromisso. Foi calculado
que Itaipu equivale a um poço
de petróleo de 530 mil barris
[diários]. A realidade é que só
recebemos 4% do preço de
mercado pelo que exportamos.
Mas juntos vamos chegar a
um entendimento. Em termos
de eqüidade, poderia ser uma
solução parecida com a que a
Bolívia encontrou. Apesar da
resistência inicial, a Petrobras
firmou os acordos [renegociados para exploração do gás].
Mas o caso deles é diferente, estavam em território boliviano,
e Itaipu é binacional.
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