São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Para Bush, "guerra não tem sido fácil"

Em visita-surpresa a Bagdá, americano defende necessidade de ação no Iraque para "segurança dos EUA e paz mundial"

A 37 dias do fim do governo, presidente firma acordo sobre retirada de tropas e sofre tentativa de agressão com sapato por jornalista

Saul Loeb/France Presse
Bush se encontra com Talabani em sua quarta visita a Bagdá

DA REDAÇÃO

Em uma visita-surpresa a Bagdá -sua quarta em cinco anos e meio de conflito-, o presidente George W. Bush disse ontem que a Guerra do Iraque foi dura, mas necessária para proteger os EUA e dar aos iraquianos um futuro pacífico.
Bush visitou o país a 37 dias de passar o poder para Barack Obama, que prometeu encerrar a guerra iniciada em 2003.
"O trabalho não tem sido fácil, mas é necessário para a segurança americana, a esperança iraquiana e a paz mundial", disse. "Sou grato por ter tido a chance de voltar ao Iraque antes do fim do meu mandato."
Mas, sob vários pontos de vista, a viagem foi uma volta olímpica sem uma vitória. Cerca de 150 mil soldados permanecem no Iraque, lutando numa guerra impopular. Mais de 4.000 militares americanos morreram, e o conflito custou aos americanos US$ 576 bilhões desde que começou.
Bush se encontrou com os principais líderes iraquianos ontem. Sua intenção era destacar a redução da violência numa nação ainda dividida entre etnias e linhas religiosas e comemorar o recente acordo de segurança entre o Iraque e os EUA, que legitima a presença das tropas americanas pelo menos até junho próximo, mas prevê sua saída em 2011.
O Air Force One, o avião presidencial americano, pousou em Bagdá ontem à tarde após partir secretamente de Washington. Bush foi recebido com uma cerimônia formal no palácio presidencial, algo que não teve nas outras três viagens.
Referindo-se ao presidente iraquiano, Jalal Talabani, e a seus dois vice-presidentes, Bush afirmou: "Conheço esses homens há tempo e os admiro por suas coragem e determinação". Talabani chamou Bush de "nosso grande amigo" que "ajudou a libertar" o Iraque.
Bush e o premiê Nuri al Maliki assinaram simbolicamente o acordo de segurança, já aprovado pelo Parlamento iraquiano.
Enquanto o americano cumprimentava Maliki, um jornalista iraquiano atirou seus sapatos contra ele -ofensa grave para um árabe-, sem acertá-lo. "É o beijo de despedida, seu cachorro", gritou. "Tudo que posso dizer é que era tamanho 41", brincou o presidente após o homem ser controlado.

Retirada de tropas
O acordo entra em vigor em 1º de janeiro e substitui resoluções do Conselho de Segurança da ONU que dão à coalizão liderada pelos EUA amplos poderes para conduzir operações militares sem serem julgadas caso cometam um crime -algo que será agora revertido.
O tratado bilateral estabelece que todas as tropas americanas saiam do Iraque até 2011, em dois estágios. Na primeira, prevê que até junho os soldados deixem Bagdá e outras cidades e se recolham a bases dos EUA.
Mas, no sábado, durante a visita de Robert Gates, secretário da Defesa de Bush que permanecerá no cargo sob Obama, o comandante americano no Iraque, general Ray Odierno, disse que "continuaremos ajudando as equipes de transição. Continuaremos dando nosso conselho às forças [iraquianas]".
"Ainda há trabalho a ser feito. A guerra não acabou", disse o presidente americano, acrescentando que o acordo coloca o Iraque em "bases sólidas".
Para Bush, a guerra é o tema que marcou seu segundo governo. Mesmo após as armas de destruição de massa, razão inicial para a invasão, não terem sido achadas, ele manteve tropas no Iraque. Obama prometeu retirá-las em até 16 meses.

Com agências internacionais


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