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História da reconstrução iraquiana expõe falhas e desperdício
JAMES GLANZ
T. CHRISTIAN MILLER
DO "NEW YORK TIMES"
Um histórico da reconstrução do Iraque pelos EUA mostra um esforço de US$ 100 bilhões prejudicado antes mesmo da guerra pela hostilidade
dos estrategistas do Pentágono
à idéia e arruinado em meio a
disputas burocráticas, violência e o desconhecimento de elementos básicos da sociedade e
infra-estrutura do país.
A história -um documento
não publicado de 513 páginas
que é o primeiro relato oficial
desse tipo- está circulando em
formato provisório em Washington e Bagdá entre um círculo pequeno de revisores técnicos, especialistas políticos e
funcionários do governo.
Ela conclui que, quando a reconstrução começou a atrasar,
o Pentágono divulgou medidas
de progresso infladas para acobertar as falhas. Em um trecho,
por exemplo, o ex-secretário de
Estado Colin Powell é citado
como tendo dito que, nos meses seguintes à invasão em
2003, o Departamento de Defesa "vivia inventando números
das forças de segurança iraquianas -o número aumentava em 20 mil por semana!"
Entre as conclusões gerais
está a de que, cinco anos depois
de iniciar seu maior projeto de
reconstrução no exterior desde
o plano Marshall, após a Segunda Guerra, Washington não
tem ainda nem as políticas,
nem a capacidade técnica nem
a estrutura organizacional necessárias para empreendê-lo.
A mensagem mais amarga
pode estar na conclusão do documento: as cifras sobre serviços básicos e produção industrial compiladas para o relatório revelam que, apesar do dinheiro gasto e das promessas, o
esforço de reconstrução nunca
fez muito mais do que restaurar
o que foi destruído na invasão e
na onda de saques que a seguiu.
Até o meio do ano, US$ 117
bilhões tinham sido gastos na
operação -US$ 50 bilhões vindos do contribuinte americano.
Alertas
O documento contém um catálogo de revelações que mostram o ambiente caótico e muitas vezes tóxico que prevalece
no esforço de reconstrução, inclusive com a pressão de lobistas para a rápida liberação de
verbas pelo Congresso.
Como ilustração do planejamento apressado e aleatório,
um funcionário da Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(Usaid) em dado momento teve
de determinar em quatro horas
quantos quilômetros de estradas iraquianas precisariam ser
reabertos ou reparados.
O dinheiro para muitos dos
projetos ainda em curso é dividido segundo um sistema de espólios controlado por políticos
de bairros e chefes tribais.
"O presidente de nosso conselho distrital virou um Tony
Soprano de Rasheed", disse um
funcionário da embaixada
americana que trabalha num
bairro perigoso de Bagdá. ""Ou
vocês usam meu empreiteiro
ou o trabalho não será feito"."
É possível que logo os EUA
precisem consultar esse documento, pois os contingentes de
soldados e os esforços de reconstrução no Afeganistão provavelmente serão aumentados.
A expectativa é que os especialistas em reconstrução do
governo Barack Obama foquem projetos em escala menor e dêem ênfase à reforma
política e econômica. Mesmo
assim, tais programas não trazem solução para um dos maiores problemas listados no documento: o esforço de reconstrução ruiu porque o trabalho
não ficou a cargo de uma agência única do governo dos EUA.
Intitulado "Lições Duras: a
Experiência de Reconstrução
do Iraque", o texto foi compilado pelo Escritório do Inspetor-Geral Chefe para a Reconstrução do Iraque, chefiado por
Stuart W. Bowen Jr., advogado
republicano que viaja regularmente ao país e nele mantém
uma equipe de auditores.
No final da narrativa, Bowen
cita "Grandes Esperanças", de
Charles Dickens, como epitáfio
da tentativa de os EUA reconstruírem o Iraque: "Gastamos
tanto dinheiro quanto pudemos e recebemos em troca dele
o mínimo que as pessoas puderam se convencer a nos dar".
Tradução de CLARA ALLAIN
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