São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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EUA treinam exércitos da África contra islâmicos

Americanos conduzem exercícios no Mali, que pode catalisar a estratégia antiterror na região

Democrático e com bons laços com vizinhos, país cujo norte é visado pela Al Qaeda recebe recursos militares e educacionais do Pentágono

ERIC SCHMITT
DO "NEW YORK TIMES", EM KATI, MALI

A milhares de quilômetros do Iraque e do Afeganistão, um outro lado da guerra dos EUA contra o terrorismo se desenrola neste canto remoto da África ocidental. Boinas verdes americanos treinam exércitos africanos a vigiar as fronteiras e patrulhar áreas desérticas contra a Al Qaeda, para que os EUA não precisem fazê-lo.
Um exercício conduzido recentemente por militares dos EUA em Kati, no Mali, fez parte de um plano amplo, traçado após o 11 de Setembro, para levar assistência e treinamento a países fora do Oriente Médio, como Filipinas e Indonésia. Na África, uma parceria de cinco anos e US$ 500 milhões entre os Departamentos de Estado e da Defesa abrange a Argélia, Chade, Mauritânia, Mali, Marrocos, Níger, Nigéria, Senegal e Tunísia -a Líbia está prestes a ingressar no grupo. Os esforços dos EUA para combater o terrorismo na região também abrangem programas não-militares, como formação de professores e treinamento profissional para jovens muçulmanos que poderiam ser alvos das campanhas de recrutamento de militantes.
Uma meta do programa é agir com presteza nesses países, antes que o terrorismo se entrincheire neles como já fez na Somália. E, diferentemente da Somália, o Mali se dispõe e tem capacidade para ter dezenas de treinadores militares europeus e americanos. Ex-colônia francesa, o país é uma democracia relativamente estável, embora ainda frágil, cujos líderes estão preocupados com os militantes que se refugiaram em sua desértica região norte após serem expulsos da fronteiriça Argélia.
Segundo autoridades americanas e malinesas, a maior ameaça vem de cerca de 200 combatentes da Al Qaeda no Magreb Islâmico. O Pentágono teme que um dos principais líderes do grupo, Mokhtar Belmokhtar, sofra pressão para lançar um grande ataque, possivelmente na Argélia ou na Mauritânia, para se firmar.

Capacitação
A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) deve gastar neste ano US$ 9 milhões em programas antiterrorismo no Mali. Parte do dinheiro vai ampliar um programa já existente de formação profissional para criação de pequenos negócios; outra parte ajudará a formar professores em escolas muçulmanas a fim de conter o antiamericanismo nos locais. A agência também está construindo 12 estações de rádio FM no norte do país para interligar povoados distantes, e o financiamento do Pentágono vai produzir novelas radiofônicas com mensagens de paz.
"Os jovens do norte buscam empregos ou algo a fazer com suas vidas", disse Alexander D. Newton, diretor da missão da Usaid no Mali. "Essas pessoas podem estar abertas a mensagens de segurança econômica." Diplomatas americanos e africanos disseram que o Mali é um dos poucos países da região que tem boas relações com seus vizinhos, o que o torna um catalisador da cooperação mais ampla de segurança regional que os EUA procuram fomentar.
Embora sem uma frota de helicópteros efetiva, por exemplo, o país poderia usar seus soldados em conjunto com exércitos vizinhos mais bem equipados, como a Argélia. "Se não ajudarmos esses países a trabalharem em conjunto, o problema se tornará muito pior", disse o tenente-coronel Jay Connors, oficial sênior das forças especiais americanas.
Contudo, autoridades americanas e malinesas admitem haver outros obstáculos. O Pentágono ainda precisa explicar melhor o papel de seu novo Comando África, criado em outubro para supervisionar as atividades militares no continente. As autoridades americanas dizem que sua estratégia é conter a ameaça da Al Qaeda e treinar exércitos africanos, um processo que vai levar anos.
"Este é um esforço de longo prazo", disse o coronel Connors, especialista em África. "É um processo de engatinhar, caminhar e correr, e, por ora, ainda estamos engatinhando."

Tradução de CLARA ALLAIN


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