São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Premiê tem fôlego curto para sobreviver até próxima eleição

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Silvio Berlusconi ganhou ontem um novo fôlego como premiê italiano. Quase certamente, um fôlego curto.
Não só pela fragilidade da maioria de três votos -num plenário de 625 deputados-, que evitou que ele fosse defenestrado em meio ao terceiro mandato como premiê.
Mas pelos obstáculos que terá para se manter até 2013, fim da atual legislatura.
A reação nas ruas foi de intensidade inesperada. Confrontos de estudantes com a polícia não partiram só de radicais descontentes.
Refletem também uma espécie de cansaço pela insolência e incorreção pessoal de um governante "imprestável, superficial e ineficiente". Palavras coletadas por um diplomata americano e recém-vazadas pelo Wikileaks.
Há como pendência imediata a Lei do Impedimento Legítimo (sic), que suspendeu por 18 meses processos que o premiê sofre por corrupção e sonegação. A mais alta instância judicial julga em 11 de janeiro a inconstitucionalidade do texto.
Poupado pelo Parlamento, Berlusconi pode cair nas malhas dos tribunais.
Também corre, desde a última sexta-feira, inquérito na Justiça sobre a compra de deputados para inviabilizar a moção votada ontem.
Um ex-juiz e parlamentar de oposição, Antonio di Pietro, afirma ser por esse anzol que Berlusconi será fisgado.
Segundo o jornal de esquerda "La Repubblica", contratos de consultoria administrados pelo governo renderiam até R$ 276 mil a deputados hesitantes.
O atual premiê foi sobretudo beneficiado pelo consenso entre seus opositores sobre a inconveniência de legislativas antecipadas.
O bloco de centro-esquerda está dividido e não realizou primárias.
E Gianfranco Fini, ex-aliado que rompeu com Berlusconi, tirou-lhe a maioria parlamentar e provocou a atual crise, acredita ser ainda cedo para vencê-lo.
A Europa se recupera com lentidão da crise financeira de 2008. O primeiro-ministro se coloca como guardião dos interesses locais para evitar que seu país siga os passos da Grécia ou da Irlanda.
Mas é ao mesmo tempo possível que um governo fragilizado possa desencadear esse mesmíssimo roteiro.
Berlusconi, com sua vitória de ontem, não evitou uma sensação de fim de festa.
Com menos de 30% de aprovação, ele deixou de ser o personagem idolatrado pela parcela de italianos que aspira a ascensão econômica e admira os megaempresários.
Falam mais alto as gafes e o descontrole de uma vida amorosa povoada até de menores, segundo a ex-mulher.


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