LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "abominável" a estratégia de seqüestros usada pelas Farc para fazer pressão política, mas evitou classificar a guerrilha. Em entrevista em Cuba, um dia após encontrar os colegas Hugo Chávez (Venezuela) e Álvaro Uribe (Colômbia), Lula disse que os dois não podem fazer "cara feia" um para o outro.
Ontem, Uribe voltou a chamar as Farc de terroristas, porque a guerrilha "seqüestra e maltrata" a população civil. Na semana passada, Chávez propusera que o grupo fosse reconhecido como "força insurgente", o que irritou Bogotá.
Ontem os governos francês e alemão indicaram que não concordam com o pleito de Chávez sobre as Farc. A França exige que a guerrilha liberte todos os reféns antes de uma mudança.
Na véspera, o chanceler Celso Amorim já dissera que o Brasil discorda do venezuelano, embora não classifique a guerrilha. Assim como Lula, Amorim saudou a continuidade do diálogo, mas disse: "Isso não implica, também, dar às Farc status político que torne até difícil esse diálogo do ponto de vista do governo colombiano".
Ontem, cauteloso, Lula disse que "Chávez contribuiu, Uribe contribuiu", e emendou: "Quando você assume o papel de chefe de Estado, você tem de pensar nos interesses coletivos, nunca nos individuais, e acho que é isso que norteia" os dois.
Questionado sobre como as Farc devem ser tratadas, Lula afirmou: "Como elas são". "O Brasil não é território de classificação de tendência política ou grupo de luta armada", afirmando ainda que o país segue as orientações da ONU -que não vê o grupo como terrorista.
Deu, entretanto, um recado à guerrilha: "É abominável essa história de seqüestro, ou seja, você fazer com que pessoas inocentes paguem o preço da sua disputa política não é admissível. Eu, por exemplo, não admito a história de seqüestro. Acho que não pode ser aceito por nenhum ser humano de juízo perfeito no mundo".
E seguiu: "Está na hora de estabelecermos conversas com outros setores da sociedade. Não daremos nenhum passo sem a concordância do Uribe. Sou um otimista. Acho que o que aconteceu foi um sinal muito pequeno de coisas grandes que podem acontecer".

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O Tesouro dos EUA anunciou ontem o congelamento de bens de uma empresa financeira colombiana e de seis pessoas por suposto laço com as Farc.