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Indonésia assiste à agonia do ex-ditador Suharto
Corrupção, massacres e crescimento econômico caracterizam 32 anos de regime
Responsável pela morte de
500 mil, Suharto, 86, resiste
a septicemia e falência dos
órgãos; mausoléu está
pronto na ilha de Java
SETH MYDANS
DO "NEW YORK TIMES", EM SOLO,
INDONÉSIA
A tumba está pronta, em um
mausoléu no pico de uma pequena montanha no centro da
ilha de Java, cercado de plantações de arroz e não muito distante de um retiro sagrado ao
qual o ex-presidente Suharto
costumava vir para meditar.
Nos últimos 12 dias, em um
hospital de Jacarta, o coração,
pulmões e rins de Suharto -o
uso de nome único é comum na
Indonésia- entraram em colapso, e o país que ele um dia
dominou acompanha com interesse seu esforço para viver.
Os médicos apresentaram diversos relatórios - "deterioração", "muito crítico" - e a família correu por diversas vezes
para estar com ele no momento
final. Na manhã de anteontem,
ele parecia estar se recuperando uma vez mais. Hoje, os médicos anunciaram que Suharto
está com septicemia.
Suharto, 86, alterna momentos de consciência e inconsciência, e está se apegando à vida de maneira mais tenaz do
que se apegou ao poder em
maio de 1998, quando foi informado pelas Forças Armadas
que era hora de deixar o posto,
após um colapso econômico e
tumultos generalizados.
O país conduziu eleições democráticas e não faz esforços
para levá-lo à Justiça pelos casos de corrupção e violações de
direitos humanos em seus 32
anos como presidente.
Em jornais e em declarações
de funcionários do governo, há
um clima de perdão, ou ao menos de decoro. "As realizações e
obras que ele conduziu não foram poucas, mesmo que como
ser humano, a exemplo de outros líderes, tivesse algumas deficiências", disse o presidente
Susilo Bambang Yudhoyono,
após antecipar o retorno de
uma visita à Malásia para estar
ao lado do predecessor.
O partido de Suharto pediu
que o governo suspenda todos
os casos contra ele, e algumas
figuras públicas afirmaram que
o país deveria esquecer o passado e se concentrar no futuro.
No domingo, um velho amigo
de Suharto, Lee Kuan Yew, o
fundador de Cingapura, visitou-o em Jacarta. Lee afirmou
que o legado de Suharto não estava sendo honrado como deveria. "Sim, ele fez favores à sua
família e amigos, mas houve
crescimento real", disse, aparentemente disposto a perdoar
a atitude que jamais admitiu
nos ministros de seu governo.
Suharto tomou o poder em
um golpe militar em 1965, poucos anos depois de Ne Win ter
feito o mesmo na Birmânia
-atual Mianmar. "Comparem
que país se saiu melhor", disse
Lee. "Alguns bilhões de dólares
em graves excessos não são tão
importantes se comparados às
centenas de bilhões de dólares
em ativos que ele construiu."
Aqui na cidade de Solo e na
região rural vizinha, as pessoas
dizem lembrar mais do crescimento do que da corrupção ou
do governo repressivo, e tampouco do colapso econômico
que marcou o fim de seu governo ou dos massacres que caracterizam seu início, com a morte
de pelo menos 500 mil pessoas.
Os advogados de Suharto
conseguiram evitar processos
criminais, alegando que ele estava doente demais para ser julgado. Enquanto jazia no hospital, reportagens conflitantes informaram que seus seis ricos filhos negociavam para encerrar
extrajudicialmente o único
processo contra ele. O secretário da Justiça disse que Yudhoyono o instruiu a oferecer acordo em um caso que pede a restituição de US$ 1,4 bilhão supostamente roubado por meio de
uma fundação de caridade. O
presidente nega ter ordenado a
oferta e disse que este não era o
momento de falar a respeito.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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