São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Rapper defende missão da ONU contra instabilidade

Impedido de concorrer à Presidência do Haiti, Wyclef Jean diz representar o "subconsciente dos haitianos"

Ídolo dos jovens, ele promete abandonar a neutralidade e apoiar o cantor Martely caso este vá ao segundo turno

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA A PORTO PRÍNCIPE

Celebridade nos EUA, onde mora, e ídolo dos jovens haitianos, o rapper Wyclef Jean, 49, foi impedido de concorrer à Presidência do país, supostamente por não ter residência no Haiti nos últimos cinco anos. Mas o ex-integrante da banda Fugees não desistiu de influenciar na disputa. Em entrevista à Folha, na suíte do Karibe Hotel, o mais elegante de Porto Príncipe, ele disse que deixará a "neutralidade" e fará campanha pelo também cantor Michel Martelly -se houver um segundo turno do qual ele participe. Sem modéstia, sugere que é um líder para os haitianos, "representa o subconsciente" do povo. Evita, porém, dizer se concorrerá em 2015. "O certo é que estarei na Copa do Mundo no Brasil em 2014", diz o rapper, que fundou a ONG Yelé. Leia trechos da entrevista.

 

Folha - Em novembro, o sr. disse que o país "arderia" se não houvesse eleições livres. Qual a sua avaliação agora?
Wyclef Jean
- O importante é que o desejo dos haitianos seja respeitado. Eu concordo com o informe da OEA. Se o presidente [René] Préval não segui-lo, porá em risco a segurança do país. Eu não serei neutro no segundo turno. Eu e Micky [o cantor e candidato Michel Martelly] somos amigos há anos. Eu digo isso como um jovem haitiano que quer mudança no meu país. Eles pensavam: "Ei, Wyclef está fora. Está tudo bem". Pensavam que o Martelly era uma piada. Perderam.

O sr. vai se mudar para o Haiti para disputar a eleição de 2015?
A exigência da residência no Haiti é uma palhaçada. Eles [a autoridade eleitoral] disseram que eu não tinha residência, mas depois me deixaram voltar e votar [no Haiti não há voto de imigrantes]. Então, alguém fez algo errado e não fui eu. Quando é Copa no Brasil? 2014? Vou estar lá, mas não sei se eu disputarei de novo a Presidência.

O que o sr. vai fazer para que o povo haitiano não o veja só como um cantor, mas como uma liderança política?
Não acho que os haitianos queiram confiar em políticos. Eles querem uma mudança no sistema. O voto no Haiti é emocional. Não estou preocupado com essa questão.
Primeiro, eu tenho US$ 250 milhões na minha mão, que vieram de vários dos meus negócios. O importante é que não quero fazer dinheiro com política. Depois, o papel do presidente não é ser graduado em finanças. O papel do presidente é liderar. Pergunte à população quem é o líder. Eles sabem quem é.

O que o sr. acha da Minustah? Devem deixar o país?
Eu represento o subconsciente dos haitianos. Eles podem responder a tudo de uma maneira muito emocional. Mas o que está no subsconsciente dos haitianos é que eles querem que a Minustah treine nossas forças de segurança. Mas eles não podem ir embora agora.
Metade dos carros da polícia funciona, metade não. Metade deles come, metade não. Eles dizem para mim na rua que nem pagam salários. Se a Minustah for embora, haverá instabilidade.


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