São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE TUNÍSIA Protestos podem influenciar autocracias de países árabes Sucesso de manifestações deve causar impacto político no Oriente Médio
TOM PFEIFFER DA "REUTERS", NO CAIRO Os líderes árabes que se assustaram ao ver que os protestos de jovens tunisianos forçaram o envelhecido déspota do país a realizar concessões abrangentes estão tentando ponderar se será necessário mudar suas fórmulas estabelecidas de repressão política. Parece pouco provável que a violência vista na Tunísia se espalhe e derrube governos autocráticos de Rabat a Riad, em parte porque os movimentos de oposição nesses países são fracos e estão desmoralizados. Ninguém considera que Túnis seja a Gdansk do mundo árabe, e que os acontecimentos transcorridos lá venham a prenunciar uma sucessão de abalos como os que varreram a Europa Oriental em 1989. Mas há quem imagine até quando os impopulares governantes da região de monarcas absolutos a revolucionários envelhecidos que continuam aferrados ao poder serão capazes de confiar nos métodos do passado para se manterem no domínio. Os tumultos sem precedentes que abalaram a Tunísia foram acompanhados com atenção por meio dos canais regionais de TV via satélite e da internet, em todo o Oriente Médio. Na região, o desemprego alto, a preponderância de jovens na população, a inflação e a crescente disparidade entre ricos e pobres são preocupações graves. Embora nas últimas décadas a democracia tenha suplantado o despotismo em regiões que no passado eram dominadas por ditaduras, os governos do mundo árabe são quase que uniformemente autocráticos, e os países pesadamente policiados. BARREIRA PSICOLÓGICA Mas há quem acredite que o fator medo, que por muito tempo serviu para manter o descontentamento sob controle, foi atenuado. "Talvez todos os governos árabes estejam monitorando de olhos abertos aquilo que está acontecendo na Argélia e Tunísia", escreveu o colunista Abdelrahman al Rashed no jornal egípcio "Asharq al Awsat". "Muito do que serve para impedir protestos e desobediência civil consiste simplesmente de uma barreira psicológica." "O ditador da Tunísia prometeu tudo o que podia para deter as manifestações, e a Argélia reverteu suas decisões quanto a preços, mas a barreira psicológica foi removida mesmo assim." ORÇAMENTOS A resposta padronizada aos protestos de rua, no Oriente Médio e na África do Norte, onde entre metade e dois terços da população têm menos de 25 anos de idade, é oferecer empregos e alimentos baratos. Os tumultos em diversas cidades argelinas se aquietaram no final de semana passado depois que o governo prometeu que faria todo o necessário a fim de proteger os cidadãos contra a alta no custo de vida. Líbia, Marrocos e Jordânia também anunciaram planos para reduzir os preços dos produtos básicos. Mas os orçamentos desses países estão oscilando ao peso dos alimentos e do combustível importado, e isso reduz, especialmente em nações que não têm reservas de energia, a capacidade das autoridades para debelar o ressentimento popular. O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a região precisaria criar cerca de 100 milhões de empregos novos até 2020. "Existe perigo em aceitar de modo passivo demais o argumento de que os governos árabes sempre darão um jeito", afirmou Stephen Cook, do Conselho de Relações Exteriores americano, em seu blog, nesta semana. Tradução de PAULO MIGLIACCI Texto Anterior: Violência aumenta após a fuga de ditador da Tunísia Próximo Texto: Rapper defende missão da ONU contra instabilidade Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |