São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Sob nova chefia, Itamaraty tenta superar racha

Dilma define comando com perfil menos ideológico para amenizar clima interno de divergências políticas

Estilo do chanceler Patriota e do secretário-geral Nogueira é visto como oposto ao da gestão anterior

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

A escolha da presidente Dilma Roussef para compor a nova cúpula do Itamaraty, vista como menos ideológica do que a anterior, não é somente uma mensagem dirigida a governos estrangeiros.
A nomeação de Antônio Patriota para chanceler e de Ruy Nogueira para secretário-geral do Itamaraty envia um sinal interno de conciliação em um ministério que passou os últimos oito anos sob fortes, embora silenciosas, divergências políticas.
A expectativa de diplomatas de vários escalões consultados reservadamente pela Folha é a de que Patriota e Nogueira adotarão práticas internas opostas às dos antecessores, o ex-ministro Celso Amorim e seu secretário-geral por seis anos, Samuel Pinheiro Guimarães.
As queixas mais comuns são de que a gestão anterior era doutrinária, alheia ao debate interno e revanchista.
As reclamações se concentram na figura de Pinheiro Guimarães, que, na função de secretário-geral, foi responsável até 2008 pela gestão operacional e de recursos humanos do ministério.
O embaixador é acusado de ter ordenado a maior parte das promoções e nomeações para o exterior com base em critérios de lealdade.
Boa parte dos diplomatas que formavam o alto escalão do Itamaraty antes da chegada do PT ao poder, em 2003, ocupam hoje postos de importância secundária para a diplomacia brasileira.
Um exemplo eloquente é o de José Alfredo Graça Lima, que durante o governo tucano foi nomeado subsecretário-geral e embaixador na União Europeia e hoje é cônsul-geral em Los Angeles.
Pinheiro Guimarães também é contestado por ter obrigado diplomatas a ler livros de cunho terceiro-mundista, como "Chutando a Escada", do sul-coreano Ha-Joon Chang. O secretário-geral sabatinava funcionários sobre o conteúdo das obras.
Essas decisões polêmicas são atribuídas em parte ao fato de Pinheiro Guimarães ter se sentido pessoalmente discriminado ao ser demitido pelo então chanceler Celso Lafer em 2001 de um centro de estudos do ministério por se opor à adesão do Brasil à Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ele também teria ficado irritado com o que avaliou como inércia do governo FHC diante das pressões americanas que, às vésperas da invasão do Iraque em 2003, derrubaram o brasileiro José Maurício Bustani na direção da Organização para a Proscrição das Armas Químicas.
Pinheiro Guimarães saiu do cargo para assumir o Ministério de Assuntos Estratégicos, deixando a secretaria-geral a Patriota, promovido a ministro no novo governo.
Já Amorim é criticado por ter colocado em prática uma suposta guinada doutrinária orquestrada pelo PT na política externa brasileira.
Vários diplomatas contestam essa versão e afirmam que, em qualquer tipo de organização, líderes devem imprimir sua marca.
Patriota e Nogueira foram elogiados por todos os diplomatas consultados pela Folha. Os críticos veem o estilo discreto e sóbrio dos dois líderes como aceno positivo e destacam o fato de Nogueira ser o diplomata brasileiro mais veterano, com trânsito em todas as áreas da casa.


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