São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE ONDA DE REVOLTAS

Oposição egípcia ainda tenta se encontrar

Estagnado durante décadas, espectro político do país agora procura se adaptar aos acontecimentos pós-rebelião

ATIVISTAS DO PAÍS JÁ EXPRESSAM PREOCUPAÇÃO COM O QUE CONSIDERAM AÇÃO UNILATERAL DAS FORÇAS ARMADAS EM RELAÇÃO ÀS DEMANDAS POR REFORMAS

JACK SHENKER
DO "GUARDIAN"

Importantes ativistas políticos egípcios alertaram quanto ao perigo de que o Exército se apodere da revolução, depois de anunciados os primeiros detalhes concretos sobre o período de transição democrática no país.
O juiz Tarek al-Beshry, um pensador islâmico moderado, anunciou que havia sido selecionado pelas Forças Armadas para presidir uma comissão de reforma constitucional cujas propostas serão submetidas a referendo nacional dentro de dois meses.
A formação da comissão surgiu após oficiais de alta patente do Exército se reunirem com jovens ativistas no domingo e garantirem que a transferência do poder a um governo civil está em curso.
Mas o "Guardian" descobriu que, a despeito de pronunciamentos públicos de fé quanto às boas intenções dos militares, alguns elementos da fragmentada oposição egípcia sentem profunda preocupação quanto às declarações unilaterais de reforma por parte do Exército.
Além disso, os oficiais aparentam falta de disposição para abrir negociações sustentadas e transparentes com aqueles que ajudaram a organizar a revolução.
"Precisamos que o Exército reconheça que isso é uma revolução e que eles não podem implementar todas essas mudanças por sua conta", disse Alaa Abd El Fattah, um dos jovens ativistas mais conhecidos. "Os militares são os guardiões no estágio atual do processo, e aceitamos essa situação, mas ela precisa ser temporária."
Depois de décadas de estagnação, o espectro político do Egito está tentando desesperadamente se acomodar aos eventos das últimas semanas, que aconteceram sem lideranças formais, e acomodar as vontades dos milhões de egípcios politizados pela queda de Mubarak.
"A atual oposição não representa uma fração das pessoas que participaram da revolução, na praça Tahrir e em outros locais", diz Fattah.
"A despeito de diversas tentativas de formar uma frente unida, a essa altura não há nada que possa ser descrito assim -só fortes divisões", disse Said Hamid, especialista do instituto Brookings. "Todos querem
seu pedaço da revolução." Nesta semana, alguns partidos formais de oposição se reuniram com membros da Irmandade Muçulmana e de vários movimentos jovens.
O objetivo era eleger um comitê de orientação que dialogaria de modo unificado com os líderes do Exército e negociaria a formação de um governo de transição.
Mas esses planos foram deixados para trás devido à velocidade das proclamações independentes dos militares quanto a reformas.
Algumas figuras importantes da coalizão acreditam que o Exército promova reuniões muito alardeadas com pessoas como Wael Ghonim, executivo do Google, e Ahmed Maher, fundador do movimento 6 de Abril, em um esforço para parecer receptivo a visões alternativas. No entanto, não se desenvolve nenhum mecanismo pelo qual forças não militares possam desempenhar papel genuíno nas reformas. "As Forças Armadas estão conversando com uma ou duas das "faces da revolução", pessoas desprovidas de experiência de negociação e que não têm mandato de ninguém para falar em nome do povo", disse uma pessoa envolvida com a nova coalizão.
"É ótimo para eles fazer parecer que atendem a nossas demandas, mas por que não nos deixam participar?"


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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