São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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EUROPA

Universitários saem às ruas com apoio de sindicatos e da esquerda contra lei do primeiro emprego; Chirac pede diálogo

Estudantes prevêem dia "quente" na França

Olivier Laban-Mattei/France Presse
Estudante participa de manifestação contra projeto trabalhista do governo francês, em Paris


DA REDAÇÃO

Estudantes e policiais voltaram ontem a se enfrentar em Paris, em meio aos protestos contra uma nova lei que permite contratar com maior facilidade os recém-formados, mas que, em contrapartida, não lhes dá por dois anos alguns direitos trabalhistas.
Os confrontos de ontem, diz a France Presse, ocorreram nas imediações da Sorbonne, uma das universidades públicas parisienses. Em Bordeaux, um grupo de estudantes invadiu a sede regional da UMP, partido do presidente Jacques Chirac e do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Foram desalojados pela polícia sem maiores incidentes.
A quarta-feira foi incomparavelmente mais calma que a véspera, quando nove policiais saíram feridos do confronto com 4.000 estudantes no Quartier Latin, em Paris. Uma dezena de manifestantes foi detida.
A agenda de protestos deverá se aquecer com as manifestações programadas para hoje e sábado. As centrais sindicais participarão pela primeira vez. Os partidos de esquerda, em crise de identidade, estão convocando seus militantes.
Desde a primeira onda de protestos, no último sábado, ao menos 15 das 84 universidades públicas francesas foram fechadas pelo governo, por temor de ocupação dos locais. A entidade dos estudantes acredita que greves afetem as aulas em 59 universidades.
O presidente Jacques Chirac voltou ontem a apoiar Villepin e o dispositivo legal que facilita a contratação dos jovens. Disse também que, para desarmar os ânimos, é preciso dialogar com todos os setores da sociedade.
O projeto da lei contestada, o CPE (Contrato de Primeiro Emprego), foi elaborado pelo governo e aprovado na semana passada pela Assembléia Nacional. Começaria a ser aplicado em abril.
Villepin argumentou ser preciso reduzir a taxa de desemprego dos recém-formados pelo ensino técnico e superior (22%), que é o dobro da taxa nacional. Disse também que, com isso, respondia às agitações nos subúrbios das grandes cidades francesas, em outubro do ano passado, surgidas sobretudo em razão do desemprego dos jovens.
Até mesmo na UMP, no entanto, Villepin é criticado por não ter consultado previamente todos os interessados. Os estudantes retêm da nova lei a possibilidade de serem demitidos sumariamente nos primeiros 24 meses de emprego. "Nosso destino é a lata de lixo", gritavam ontem os manifestantes.
Críticas veladas ao premiê também partem de aliados do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que disputará com ele a candidatura do bloco conservador às presidenciais de 2007.
Mas há fatores que impedem que o protesto se transforme num novo Maio de 68 -quando a França foi paralisada a partir das barricadas da Sorbonne.
O primeiro é o calendário escolar. Greves prolongadas significam exames finais em julho ou agosto, o que compromete os planos daqueles que pretendem viajar ou trabalhar durante as férias de verão. O jornal "Libération" abordou ontem o tema.
O segundo fator é a internet. Fóruns e blogs permitiram que os adversários do protesto se organizassem, sem se expor ao patrulhamento público dos estudantes dos partidos de esquerda. Esse foi um dos ângulos de reportagem do vespertino "Le Monde".

Com agências internacionais

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