São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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Ex-presidente reformista do Irã deve retirar candidatura

Khatami estuda renunciar em favor do ex-premiê Moussavi, que teria mais chances

Oposição a Ahmadinejad tem 3 candidatos ao pleito de 12 de junho; reunião hoje com editor Mehdi Karubi pode selar um nome único


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O ex-presidente reformista do Irã Mohammad Khatami (1997-2005) deve retirar sua candidatura às eleições de 12 de junho. Ele se encontrou na tarde de ontem em Teerã com o ex-premiê Mir Hossein Moussavi, que anunciou sua candidatura no último dia 9, depois de meses de especulação.
Khatami era considerado o favorito para conseguir derrotar o ultraconservador presidente Mahmoud Ahmadinejad, caso este confirme a candidatura à reeleição.
Moussavi, que foi primeiro-ministro entre 1981 e 1989, antes de o cargo ser extinto, deve se tornar o candidato único dos reformistas iranianos.
A campanha deve ser marcada pela crise econômica, devido à queda do preço do petróleo. A inflação está próxima de 40% e o desemprego está em alta.
Na política iraniana, não há chances de que candidatos concorram sem o consentimento do líder religioso supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Além da crise, Khamenei quer saber quem é o melhor presidente para dialogar com o governo do presidente americano Barack Obama, caso avancem os planos de aproximação entre os dois países, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Mas eles divergem sobre o porquê da decisão de Khatami de abandonar a campanha. Alguns acreditam que ele prefere que o campo reformista tenha um candidato único e que Moussavi é um nome que gera mais consenso. "Khatami fez muitos inimigos entre os conservadores", disse uma fonte.

Incógnita
Outros acham que Khatami foi surpreendido pela candidatura de Moussavi e não aceita concorrer sob o racha entre os reformistas. Na blogosfera iraniana, a intenção de Khatami já provocou lamentações -os internautas lembravam a relativa liberação dos costumes sob sua Presidência, embora muitos eleitores jovens tenham se decepcionado com a lentidão e o pequeno alcance das reformas.
Já o decorador, pintor e arquiteto Moussavi, 67, é uma incógnita para especialistas na política iraniana. Desde 1989, Moussavi se afastou da política e não faz declarações públicas.
Preside a Academia de Artes do Irã e pertence ao Alto Conselho da Revolução Cultural, mas se diz que não frequenta reuniões políticas há anos.
Seu nome já havia circulado como possível candidato reformista nas eleições de 1997 e 2005, mas ele não se apresentou "por ter recebido sinais de que não era o momento" - ele foi na época desestimulado pelo aiatolá Khamenei, que presidia o país quando Moussavi era premiê. Não se sabe como é a relação dos dois depois de tantos anos.
Há um terceiro candidato reformista, o editor Mehdi Karubi, que já foi presidente do Parlamento e que é considerado populista (ficou famoso como "senhor dos 50 mil riais", por sugerir que o governo distribuísse cédulas desse valor para estimular o consumo).
Moussavi e Khatami devem se reunir hoje com Karubi, que também poderia abandonar a candidatura para favorecer o nome único da oposição.


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