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DIÁRIO DE BAGDÁ
BUSCAS
Soldados procuravam "armas e pessoas não-amigáveis em relação aos EUA" em hotel de Bagdá
Marines invadem quartos de repórteres
JUCA VARELLA E SÉRGIO DÁVILA
ENVIADOS ESPECIAIS
No dia em que a tomada de
Bagdá completou sua primeira
semana, os marines norte-americanos baseados na capital iraquiana invadiram alguns quartos do
9º e do 17º andares do hotel Palestine, onde está hospedada a maioria dos jornalistas estrangeiros e
onde fica o comando militar provisório da capital -além dos próprios marines.
Em alguns casos, entraram chutando e arrombando a porta. Em
outros, bateram primeiro. Em todos, o hóspede tinha de ficar agachado e com as mãos na cabeça
enquanto eles revistavam o lugar.
Os soldados procuravam "armas
e pessoas não-amigáveis em relação aos Estados Unidos", segundo disse depois um dos comandantes.
A maior parte dos apartamentos invadidos era ocupada por
jornalistas.
Teriam prendido três homens,
cujos dados não foram divulgados. As acusações sob as quais foram presos também não foram
fornecidas para a imprensa.
O Palestine é o mesmo hotel cuja fachada foi atingida por um tiro
de canhão norte-americano na
terça-feira da semana passada,
matando dois cinegrafistas e ferindo outros quatro profissionais
de imprensa.
Um dos quartos invadidos foi o
do repórter português Carlos Fino, da emissora RTP. Indagado
sobre "armas escondidas", ele
mostrou sua caneta, seu bloco de
anotações e a câmera de seu cinegrafista.
"Estas são as armas neste hotel.
É por isso que, de vez em quando,
vocês dão tiros de tanque em
nós", disse ele.
Fino foi o primeiro jornalista de
todo o mundo a noticiar o começo da guerra na televisão. Por
coincidência, estava transmitindo
ao vivo da varanda de seu apartamento no exato momento em que
o primeiro míssil atingiu o primeiro prédio em Bagdá, na madrugada de 20 de março.
Folhetos
Ontem ainda os soldados norte-americanos distribuíram folhetos em inglês e árabe em que
exortavam a população bagdali a
não sair de casa depois da oração
noturna e antes da matinal -ou
seja, enquanto estiver escuro na
cidade.
"Durante esse período, forças
terroristas associadas ao antigo
regime de Saddam Hussein, assim como vários elementos criminosos, movimentam-se pela região e realizam atos hostis", dizia
o comunicado.
Realmente, a maior parte dos
embates entre a coalizão e a resistência acontece à noite. Ontem
mesmo, pelo menos dois tiros de
tanque foram disparados perto
das 20h locais (13h do Brasil).
O panfleto dava também instruções sobre como não ser confundido com um dos "elementos criminosos". "Aproxime-se das forças com extrema cautela. Deixe o
mais evidente possível que você
não representa uma ameaça. Evite carregar qualquer objeto que
possa ser confundido com uma
arma." Ordenava: "Ao ver um
comboio militar se aproximando,
tire seu carro da pista".
E concluía: "Nós estamos cientes de que somos convidados em
seu país e faremos de tudo para
manter sua confiança".
No mesmo dia, os marines e os
manifestantes civis tiveram o atrito mais forte desde a chegada das
tropas à capital. Dezenas de iraquianos tentaram forçar a entrada no hotel e foram contidos por
fuzileiros, que chegaram a ferir e
deter os mais exaltados.
Como consequência, os soldados decidiram dificultar o contato
dos jornalistas com os manifestantes. Agora, a imprensa entra
por um lado e os bagdalis ficam
do outro. "Tivemos de colocá-los
mais para trás, pois as pessoas só
se manifestam porque vocês estão
olhando", disse o coronel Zarcone.
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