São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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Visão otimista ignora história dos conflitos

DA REPORTAGEM LOCAL

O Irã é o alvo que os planejadores americanos gostariam de ter tido em lugar do Iraque. Em vez de uma guerra terrestre apoiada pela aviação e seguida de ocupação, a tarefa poderia constituir apenas em uma série de ataques aéreos para destruir alvos pontuais.
Isso, claro, em um mundo ideal. Na realidade, bombardear o Irã pode criar um conflito maior e afetar radicalmente a exportação de petróleo do Oriente Médio.
O governo dos EUA achava que as tropas seriam recebidas com flores no Iraque. Do mesmo modo, alguns desses alucinados "estrategistas" acham agora que bombardear o Irã poderia causar a queda do regime dos aiatolás.
Essas visões otimistas vão contra a experiência histórica. Nem tropas de ocupação costumam ser bem-vindas, nem bombardeios quebram o moral dos bombardeados.
Mas é inegável que o Irã tem alvos bem mais fáceis que a insurgência iraquiana. Forças irregulares, guerrilhas, terroristas conseguem se esconder com facilidade. Não é o caso de uma instalação industrial de enriquecimento de urânio.
Se existe um alvo, os EUA conseguem bombardeá-lo. Com aviões baseados em países vizinhos, outros em porta-aviões, com mísseis de navios de superfície e submarinos. Basta a decisão e o programa nuclear do Irã desaparece da noite para o dia.
O problema é o que vem depois. Os aiatolás vão querer reagir contra o "Grande Satã", seja militarmente, ou apoiando ações de terror.
Com sua longa costa marítima nos golfos Pérsico e de Omã, o Irã está bem posicionado para tentar cortar o fluxo de petróleo para o Ocidente. Durante a guerra com o Iraque isso foi tentado e em parte deu certo.
A marinha dos EUA e forças navais de aliados tiveram que se envolver, escoltando petroleiros de países amigos. A guerra aeronaval em um espaço marítimo restrito é particularmente difícil, mesmo para a moderna tecnologia militar ocidental.
Se o Irã retaliar contra a navegação dos mares em seu entorno, com aviões, navios e pequenas embarcações de guerra, é difícil prever o que pode acontecer.


(RICARDO BONALUME NETO)


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