São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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ITÁLIA

Candidato de centro-esquerda, que deve ter ratificada sua vitória, exorta premiê a se retratar por acusação de fraude

Berlusconi deve desculpas ao país, diz Prodi

DA REDAÇÃO

O líder do bloco de centro-esquerda, Romano Prodi, exortou ontem o atual primeiro-ministro do país, Silvio Berlusconi, a admitir a derrota nas eleições legislativas dos dias 2 e 3 e a se desculpar pela afirmação de que houve fraude na votação.
"Ele deve reconhecer como as coisas se passaram e, igualmente, deve desculpar-se sobre o que falou sobre fraude", afirmou Prodi durante entrevista concedida em Bologna, onde mora, ontem de manhã. Ainda não foram divulgados os resultados finais, pois as autoridades eleitorais ainda examinam os votos contestados.
Na semana passada, Berlusconi dissera que houve fraude nas eleições, mas rapidamente voltou atrás em seus comentários.
O premiê conservador não deu declarações públicas ontem, após definir-se, na sexta, como um "lutador" e um "otimista". Uma carta sua publicada no principal diário da Itália, o "Corriere della Sera", indica que agora ele está procurando resguardar-se.
"Pelo menos, considerando-se o voto popular, não há nem vencedor nem perdedor", escreveu na carta. Horas antes, havia afirmado que ainda tinha esperança de que fosse declarado vencedor, enquanto prosseguia a recontagem. Mas a recontagem provavelmente confirmará a apertada vitória de Prodi, depois que as autoridades reduziram sensivelmente o número de votos contestados.
O resultado oficial encerraria vários dias de impasse. Prodi obteve uma maioria mínima nas duas casas do Parlamento, mas Berlusconi apontou supostas irregularidades e pediu recontagem.
Na sexta, o ministro do Interior reduziu drasticamente o número de votos contestados -de 80 mil para 5.200-, abortando a esperança de Berlusconi de manter o poder desse modo. O ministro afirmou que a confusão foi provocada pela inclusão na contagem, por engano, de votos em branco.
Assim que a recontagem dos votos contestados estiver concluída, uma alta corte italiana, a Corte de Cassação, ratificará o resultado eleitoral. Ainda não está claro quando ela ocorrerá, mas, como amanhã é feriado nacional na Itália, será somente a partir de terça-feira que ela deverá acontecer.

Apelo à coalizão
Em sua carta, Berlusconi também renovou um apelo que fez à oposição para criar uma coalizão governamental, afirmando que "um acordo parcial, limitado no tempo e em seus objetivos, lidando com os compromissos institucionais, econômicos e internacionais, em princípio não deveria ser descartado".
O premiê já havia levantado a possibilidade de uma "grande coalizão", mas Prodi e seus aliados rapidamente rejeitaram a proposta. Prodi não precisará do apoio de Berlusconi para compor o governo, ainda que sua maioria de senadores seja de apenas dois.
Mesmo os políticos do bloco de centro-direita demonstraram ceticismo em relação à proposta de Berlusconi. Alguns chegaram a dizer que se opõem a qualquer composição com a centro-esquerda, e outros exortaram-no a admitir a derrota.
"Parece-me que a idéia de não reconhecer o resultado está perdendo terreno a cada hora", disse Franco Pavoncello, um professor de ciência política na Universidade John Cabot. Mas, para ele, o premiê está olhando para a frente.
"Berlusconi está tentando construir um papel político para si e para sua coalizão de centro-direita depois da eleição", disse.
Mesmo após a confirmação dos resultados, ainda levará semanas para que Prodi assuma. Pois cabe ao presidente em exercício, Carlo Azeglio Ciampi, autorizá-lo a formar o gabinete. Entretanto seu mandato termina em meados de maio, e Ciampi já disse que deixará a decisão para seu sucessor . O Parlamento tem até 13 de maio para eleger um novo presidente.


Com agências internacionais


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