São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Papa se diz envergonhado por escândalos

Bento 16 faz 1ª visita de chefe da igreja aos EUA desde que casos de pedofilia entre padres custaram até US$ 2 bi ao Vaticano

Pontífice defendeu exclusão total de pedófilos do clero; para famílias de vítimas de abuso, as palavras ajudam, mas não são suficientes


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Antes mesmo de descer nos EUA, país que visita pela primeira vez como papa, Bento 16 deu o tom de sua viagem de cinco dias: reconciliação. Durante vôo entre Roma e a base aérea Andrews, na vizinhança de Washington, o líder católico se disse "profundamente envergonhado" pela série de escândalos envolvendo padres e crianças nos EUA, que explodiu em 2002 em Boston e abalou a imagem e as finanças da Igreja Católica americana.
"É um grande sofrimento para a igreja dos EUA, para a igreja em geral e para mim pessoalmente que isso tenha acontecido", disse Bento 16 a repórteres a bordo do avião papal da Alitalia que o trazia, batizado de "Shepherd One" (Pastor 1). Foi o mais amplo reconhecimento da questão feito pelo papa desde que assumiu, há três anos.
"Li histórias das vítimas e para mim é difícil entender como foi possível que padres se comportassem dessa maneira", disse. "A missão deles era levar o amor de Deus a essas crianças. Estamos profundamente envergonhados e vamos fazer o que for possível para que isso não aconteça no futuro."
Quando era o responsável por fazer valer a doutrina católica, posto que ocupou de 1981 até a morte de João Paulo 2º, o então cardeal Joseph Ratzinger visitou várias vezes os EUA para lidar especificamente com essa questão, que envolveu mais de dez mil menores e 5.000 padres dos 110 mil em atividade nos EUA -e custou aos cofres do Vaticano entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões.
Desde que foi eleito papa, Bento 16 vinha sendo mais discreto. Até ontem. Ele chegou a fazer uma distinção entre padres homossexuais e os acusados de pedofilia. "Não vou falar de homossexualidade, mas pedofilia, que é outra coisa. Devemos excluir completamente os pedófilos do santo ministério."
Continuou: "Quem é culpado de pedofilia não pode ser padre. Vamos fazer tudo o que for possível para ter um discernimento forte, porque é mais importante ter bons padres do que muitos padres." A igreja enfrenta uma hemorragia em seus quadros atualmente nos EUA: o número de padres ordenado é metade do de 1965 e 2 em cada 10 igrejas do país não têm um padre residente.
As palavras são bem-vindas, mas apenas isso não é o suficiente, segundo grupos de familiares de vítimas. Um deles, o Snap, mais atuante, planejava protestos para o dia de hoje em Washington, quando Bento 16 completa 81 anos.
Pela manhã, o papa se encontra com George W. Bush na Casa Branca, onde será homenageado. Na programação até domingo, estão missas em dois estádios, discurso na ONU e reza no Ponto Zero, em Manhattan.
No encontro de hoje, Bush dirá que "os EUA e o mundo precisam ouvir sua mensagem de que Deus é amor, que a vida humana é sagrada, que todos nós devemos ser guiados por uma lei moral comum", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.


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