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Papa se diz envergonhado por escândalos
Bento 16 faz 1ª visita de chefe da igreja aos EUA desde que casos de pedofilia entre padres custaram até US$ 2 bi ao Vaticano
Pontífice defendeu exclusão total de pedófilos do clero; para famílias de vítimas de abuso, as palavras ajudam, mas não são suficientes
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Antes mesmo de descer nos
EUA, país que visita pela primeira vez como papa, Bento 16
deu o tom de sua viagem de cinco dias: reconciliação. Durante
vôo entre Roma e a base aérea
Andrews, na vizinhança de
Washington, o líder católico se
disse "profundamente envergonhado" pela série de escândalos envolvendo padres e
crianças nos EUA, que explodiu
em 2002 em Boston e abalou a
imagem e as finanças da Igreja
Católica americana.
"É um grande sofrimento para a igreja dos EUA, para a igreja em geral e para mim pessoalmente que isso tenha acontecido", disse Bento 16 a repórteres
a bordo do avião papal da Alitalia que o trazia, batizado de
"Shepherd One" (Pastor 1). Foi
o mais amplo reconhecimento
da questão feito pelo papa desde que assumiu, há três anos.
"Li histórias das vítimas e para mim é difícil entender como
foi possível que padres se comportassem dessa maneira", disse. "A missão deles era levar o
amor de Deus a essas crianças.
Estamos profundamente envergonhados e vamos fazer o
que for possível para que isso
não aconteça no futuro."
Quando era o responsável
por fazer valer a doutrina católica, posto que ocupou de 1981
até a morte de João Paulo 2º, o
então cardeal Joseph Ratzinger
visitou várias vezes os EUA para lidar especificamente com
essa questão, que envolveu
mais de dez mil menores e
5.000 padres dos 110 mil em
atividade nos EUA -e custou
aos cofres do Vaticano entre
US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões.
Desde que foi eleito papa,
Bento 16 vinha sendo mais discreto. Até ontem. Ele chegou a
fazer uma distinção entre padres homossexuais e os acusados de pedofilia. "Não vou falar
de homossexualidade, mas pedofilia, que é outra coisa. Devemos excluir completamente os
pedófilos do santo ministério."
Continuou: "Quem é culpado
de pedofilia não pode ser padre.
Vamos fazer tudo o que for possível para ter um discernimento forte, porque é mais importante ter bons padres do que
muitos padres." A igreja enfrenta uma hemorragia em
seus quadros atualmente nos
EUA: o número de padres ordenado é metade do de 1965 e 2
em cada 10 igrejas do país não
têm um padre residente.
As palavras são bem-vindas,
mas apenas isso não é o suficiente, segundo grupos de familiares de vítimas. Um deles, o
Snap, mais atuante, planejava
protestos para o dia de hoje em
Washington, quando Bento 16
completa 81 anos.
Pela manhã, o papa se encontra com George W. Bush na Casa Branca, onde será homenageado. Na programação até domingo, estão missas em dois estádios, discurso na ONU e reza
no Ponto Zero, em Manhattan.
No encontro de hoje, Bush
dirá que "os EUA e o mundo
precisam ouvir sua mensagem
de que Deus é amor, que a vida
humana é sagrada, que todos
nós devemos ser guiados por
uma lei moral comum", disse a
porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
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