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análise
Discurso contra islã radical une Bush e Bento 16
DE WASHINGTON
Apesar de discordarem em
aspectos importantes da política internacional -o papa
é crítico duro da invasão do
Iraque, por exemplo-, Bento 16 e George W. Bush pensam igual no que foi um dos
pontos centrais dos dois
mandatos do presidente
americano e deve ser o do papado atual: o combate ao radicalismo islâmico.
Embora não tenha erguido
a bandeira de forma explícita, Bento 16 vem marcando
os três anos de seu pontificado por ações planejadas -e
de resultados polêmicos-
para mostrar o que pensa a
respeito do que o ocupante
da Casa Branca chama de islamo-fascismo. Foi assim,
por exemplo, ao batizar com
alarde um conhecido jornalista italiano muçulmano
convertido na última Páscoa.
Foi assim, também, em um
sermão em 2006, na Alemanha, em que citou a frase de
um imperador bizantino do
século 15 que criticava Maomé por expandir "pela espada" a sua religião. A fala causou protestos no mundo muçulmano e custou a vida de
uma freira. Apesar de ter dito
não ser "cruzado", Bento 16
entrou na mira do terrorista
Osama Bin Laden, que em
março o acusou em vídeo de
liderar campanha antiislã.
Para George Weigel, o discurso de 2006 pode ser para
Bento 16 o equivalente à viagem à Polônia comunista,
em 1979, de seu antecessor,
João Paulo 2º: a definição da
missão de seu papado. "Se vai
ser bem-sucedido o corajoso
esforço do papa de colocar na
agenda a luta pela reforma
do islã, só vamos saber em 50
ou 100 anos", disse ele à Folha. "Mas essa conversa tinha de começar em algum
momento, e esse papa decidiu que esse momento é agora", afirmou Weigel, um dos
mais renomados teólogos católicos americanos.
É uma estratégia, sim, concorda Noah Feldman, professor de Direito da Universidade Harvard. "A prática
verbal do papa até agora tem
sido ocasionalmente, digamos, profundamente negativa sobre aspectos do islã",
disse ele em debate no Council on Foreign Relations, em
Washington. "Isso lhe trouxe
muita oposição dentro do
mundo muçulmano, mas
tem sido muito bom para ele
politicamente na Europa",
ansiosa em relação à ascensão dessa religião.
Até sobre o Iraque, as visões não são tão diferentes,
defende Weigel. "A Santa Sé
e a Casa Branca estão na
mesma página quanto ao
país hoje, diferente do que
houve em 2003", disse o teólogo. "Ambos defendem um
país estável e com liberdade
religiosa." Outro ponto em
comum é a condenação do
aborto e da pesquisa com células-tronco.
(SD)
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