São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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Obama anuncia "czar da fronteira" com o México

Americano começa pelo vizinho 1ª visita à região, que culminará na Cúpula das Américas

Escolhido para o cargo é criticado por lançar ideia de muro na divisa; agenda do presidente inclui encontro com os líderes da Unasul

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Policial mexicano inspeciona cena de crime na fronteiriça Ciudad Juárez; drogas são problema maior

SÉRGIO DÁVILA
NA BASE AÉREA ANDREWS, EM MARYLAND

Quando desembarcar do Air Force One no aeroporto internacional mexicano Benito Juarez, na Cidade do México, às 13h10 locais de hoje (15h10 de Brasília), Barack Obama terá pisado pela primeira vez em um país da América Latina.
Pois a recepção será menos calorosa do que em tempos normais. Violência, drogas e crise econômica é o que espera o presidente americano em sua estreia na região. Os três temas devem dominar seu encontro com seu colega mexicano, Felipe Calderón, que desde janeiro vem elevando a retórica em relação ao parceiro mais importante do país.
Mas o democrata não chega de mãos vazias. Ontem, anunciou a criação de um posto dedicado exclusivamente às questões da fronteira sul dos EUA, sobretudo ao aumento da atuação dos cartéis de drogas mexicanos no país, o contrabando de armas americanas que os alimentam e a sempre presente questão da imigração ilegal.
Alan Bersin, ex-funcionário do Departamento da Justiça sob Bill Clinton (1993-2001) que ocupará o posto, ganhou o apelido de "czar da fronteira". Sua indicação, segundo a Casa Branca, mostra a preocupação de Obama com a questão mexicana e o reconhecimento dos esforços de Calderón.
A recepção mexicana ao anúncio obamista dá uma amostra dos ânimos no país. "EUA entregam vigilância da fronteira a criador de muro anti-imigrante", bradava o site do "El Universal", um dos principais diários locais, referindo-se à atuação de Bersin em 1994.
Na época, Bersin foi responsável pela Operação Guardião (Operation Gatekeeper), uma das primeiras a usar policiamento ostensivo e equipamentos modernos para impedir o fluxo de imigrantes ilegais e elevar a segurança. Entre outras ações, ergueu uma cerca tripla na divisão de San Diego, na Califórnia, e Tijuana, na Baja Califórnia, que muitos apontam como o precursor do muro.
A ação reduziu temporariamente o fluxo de imigrantes ilegais, mas acabou deslocando quadrilhas de coiotes para o leste, nas regiões de deserto, o que acabaria por elevar o número de mortos na travessia e render críticas de entidades de direitos humanos.
Manifestações estão previstas para a passagem de Obama pelo país, que durará pouco mais de 20 horas e contará com o recorde de 4.500 policiais na segurança. Aconselhada pela Embaixada dos EUA, a comitiva presidencial se movimentará o mínimo possível pela cidade, de trânsito caótico.
O objetivo é evitar o engarrafamento causado pela visita do último presidente americano à capital mexicana, Bill Clinton, em 1996. Então, o noticiário sobre o tráfego roubou as manchetes dos jornais do encontro entre os presidentes.
Já amanhã pela manhã, Obama parte para Trinidad e Tobago para os dois primeiros eventos da 5ª Cúpula das Américas, a abertura e um coquetel com líderes presentes no encontro.

Chávez em encontro
O americano se reunirá no sábado com os 12 líderes da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que agrupa todos os países sul-americanos (exceção é Guiana Francesa). Será o primeiro encontro multilateral de Obama com o venezuelano Hugo Chávez, muito esperado.
No domingo, será a vez de uma reunião com os líderes dos países da SICA (Sistema de Integração da América Central), formado por Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e a República Dominicana.
Acompanham Obama na viagem, parte ao México e parte à Cúpula das Américas, o assessor de Segurança Nacional, James Jones, os secretários Hillary Clinton (Estado), Janet Napolitano (Segurança Interna), Steven Chu (Energia) e Hilda Solis (Trabalho), o secretário especial de Comércio Exterior, Ron Kirk, e o economista-chefe da Casa Branca, Lawrence Summers.


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