|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Índia inicia eleições gerais marcadas por regionalismo
Desenvolvimento desigual dá força a legendas locais, unidas à esquerda na Terceira Frente
Partido do Congresso ainda é favorito ante os rivais nacionalistas hindus, mas vencedores só governarão aliados a grupos menores
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
Cindida por regionalismos, a
Índia dá início hoje às eleições
gerais, orgulhosamente anunciadas como a "maior eleição
do mundo". São 714 milhões de
eleitores registrados, 41 milhões a mais do que no pleito
geral indiano de 2004.
Organizar eleições na maior
democracia do mundo dá trabalho. Literalmente: o evento
mobiliza 6,1 milhões de funcionários públicos, entre civis e
militares. Dividido em cinco
jornadas regionais de votação,
o pleito vai até 13 de maio.
Na etapa de hoje, são 140 milhões de eleitores. O voto é facultativo, mas o comparecimento costuma superar os
60%. O resultado deve ser divulgado em 16 de maio.
O Partido do Congresso Indiano, legenda histórica da independência, luta para manter
a hegemonia, reconquistada
em 2004, após governo do nacionalista BJP (Partido Bharatiya Janata), seu principal rival.
Uma vitória do BJP tende a dificultar ainda mais as tensas relações com o Paquistão, acusado de acobertar terroristas.
Mas são assuntos internos
que dominam a campanha. "Os
ataques a Mumbai [em novembro] afetaram a Índia urbana,
sobretudo a classe média, mas
não os eleitores rurais, que são
cerca de 70%", comenta Ashutosh Varshney, professor da
Universidade Brown, nos EUA.
Para Varshney, especialista
em conflitos entre hindus e
muçulmanos, "o ponto central
desta eleição é como a estrutura de poder nacional acomodará a diversidade da Índia".
As atenções se voltam para as
pequenas legendas desde a formação da Terceira Frente, que
reúne partidos comunistas e
regionais, não alinhados com as
duas grandes coalizões.
"A Terceira Frente é mais um
espaço político do que propriamente uma coalizão", analisa o
cientista político Balveer Arora, da universidade Jawaharlal
Nehru, em Nova Déli. As chances de vitória oscilam entre "remotas" e "impossíveis", mas os
resultados permitirão que as
pequenas legendas negociem
em posição de força.
O partido mais votado -BJP
ou, o que é mais provável, o Partido do Congresso- não poderá
prescindir do apoio das pequenas agremiações. Acomodar
minorias em uma administração coerente será o principal
desafio do próximo governo.
Para Sumit Ganguly, autor
"O Estado da Democracia da
Índia", a política regional chegou para ficar na Índia. "O país
está crescendo em velocidades
diferentes e algumas regiões
são muito mais prósperas do
que outras. Interesses regionais vão dominar a política indiana por um bom tempo", disse à Folha, por telefone.
Há um esvaziamento do Partido do Congresso, e uma crise
sucessória na legenda, dominada pela dinastia Nehru-Gandhi, descendente do primeiro
premiê indiano, Jawaharlal
Nehru. Ainda falta ao "príncipe
herdeiro", Rahul Gandhi, 38, liderança. Os indicados para
premiê do BJP e do Partido do
Congresso têm, ambos, mais de
75 anos, e a oposição pode tentar emplacar a governadora dalit Mayawati Kumari, principal
líder da casta de "intocáveis".
Campanha
A economia vai bem -ou melhor do que a do resto do mundo. A crise reduziu o crescimento, acima de 8% do PIB, para ainda impressionantes 7%.
Quinze milhões de indianos
compraram seu primeiro telefone celular em janeiro.
Mas a desaceleração deve
continuar neste ano. E, com
300 milhões de miseráveis, a
pobreza e a fome são temas
constantes da campanha.
Tanto o BJP quanto o Partido do Congresso prometem
vender arroz quase de graça aos
pobres. Com o preço de 2 rúpias por kg (9 centavos de real),
o BJP bate o rival. O partido
propõe ainda cortes de impostos e isenções para os militares.
Aos mais devotos, o BJP acena com a proteção às vacas
-sagradas no hinduísmo, religião de 80% dos indianos. Mas
o sectarismo religioso do partido, que frequentemente adota
incendiária retórica antimuçulmana, vem perdendo apoio.
Texto Anterior: Dengue: Argentina vive surto da doença, o pior na história Próximo Texto: Irã fará proposta para romper impasse nuclear Índice
|