São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Índia inicia eleições gerais marcadas por regionalismo

Desenvolvimento desigual dá força a legendas locais, unidas à esquerda na Terceira Frente

Partido do Congresso ainda é favorito ante os rivais nacionalistas hindus, mas vencedores só governarão aliados a grupos menores

CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

Cindida por regionalismos, a Índia dá início hoje às eleições gerais, orgulhosamente anunciadas como a "maior eleição do mundo". São 714 milhões de eleitores registrados, 41 milhões a mais do que no pleito geral indiano de 2004.
Organizar eleições na maior democracia do mundo dá trabalho. Literalmente: o evento mobiliza 6,1 milhões de funcionários públicos, entre civis e militares. Dividido em cinco jornadas regionais de votação, o pleito vai até 13 de maio.
Na etapa de hoje, são 140 milhões de eleitores. O voto é facultativo, mas o comparecimento costuma superar os 60%. O resultado deve ser divulgado em 16 de maio.
O Partido do Congresso Indiano, legenda histórica da independência, luta para manter a hegemonia, reconquistada em 2004, após governo do nacionalista BJP (Partido Bharatiya Janata), seu principal rival. Uma vitória do BJP tende a dificultar ainda mais as tensas relações com o Paquistão, acusado de acobertar terroristas.
Mas são assuntos internos que dominam a campanha. "Os ataques a Mumbai [em novembro] afetaram a Índia urbana, sobretudo a classe média, mas não os eleitores rurais, que são cerca de 70%", comenta Ashutosh Varshney, professor da Universidade Brown, nos EUA.
Para Varshney, especialista em conflitos entre hindus e muçulmanos, "o ponto central desta eleição é como a estrutura de poder nacional acomodará a diversidade da Índia".
As atenções se voltam para as pequenas legendas desde a formação da Terceira Frente, que reúne partidos comunistas e regionais, não alinhados com as duas grandes coalizões.
"A Terceira Frente é mais um espaço político do que propriamente uma coalizão", analisa o cientista político Balveer Arora, da universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Déli. As chances de vitória oscilam entre "remotas" e "impossíveis", mas os resultados permitirão que as pequenas legendas negociem em posição de força.
O partido mais votado -BJP ou, o que é mais provável, o Partido do Congresso- não poderá prescindir do apoio das pequenas agremiações. Acomodar minorias em uma administração coerente será o principal desafio do próximo governo.
Para Sumit Ganguly, autor "O Estado da Democracia da Índia", a política regional chegou para ficar na Índia. "O país está crescendo em velocidades diferentes e algumas regiões são muito mais prósperas do que outras. Interesses regionais vão dominar a política indiana por um bom tempo", disse à Folha, por telefone.
Há um esvaziamento do Partido do Congresso, e uma crise sucessória na legenda, dominada pela dinastia Nehru-Gandhi, descendente do primeiro premiê indiano, Jawaharlal Nehru. Ainda falta ao "príncipe herdeiro", Rahul Gandhi, 38, liderança. Os indicados para premiê do BJP e do Partido do Congresso têm, ambos, mais de 75 anos, e a oposição pode tentar emplacar a governadora dalit Mayawati Kumari, principal líder da casta de "intocáveis".

Campanha
A economia vai bem -ou melhor do que a do resto do mundo. A crise reduziu o crescimento, acima de 8% do PIB, para ainda impressionantes 7%. Quinze milhões de indianos compraram seu primeiro telefone celular em janeiro.
Mas a desaceleração deve continuar neste ano. E, com 300 milhões de miseráveis, a pobreza e a fome são temas constantes da campanha.
Tanto o BJP quanto o Partido do Congresso prometem vender arroz quase de graça aos pobres. Com o preço de 2 rúpias por kg (9 centavos de real), o BJP bate o rival. O partido propõe ainda cortes de impostos e isenções para os militares.
Aos mais devotos, o BJP acena com a proteção às vacas -sagradas no hinduísmo, religião de 80% dos indianos. Mas o sectarismo religioso do partido, que frequentemente adota incendiária retórica antimuçulmana, vem perdendo apoio.


Texto Anterior: Dengue: Argentina vive surto da doença, o pior na história
Próximo Texto: Irã fará proposta para romper impasse nuclear
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.