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Igreja transferiu suspeito de abuso ao Brasil
Levantamento da Associated Press em 21 países revela 30 casos de padres mandados ao exterior após denúncias de pedofilia
Críticas a clérigo que atuou com índios após suspeita nos EUA surpreendem no Pará; padre fundador de abrigos na Bahia foi morar na África
DA REDAÇÃO
Levantamento realizado pela
agência Associated Press em 21
países revelou ontem 30 casos
de padres que, depois de sofrerem denúncias de abuso sexual
contra crianças e adolescentes,
foram para outros países. Dois
desses casos envolvem o Brasil.
O primeiro é o do padre xaveriano Mario Pezzotti, acusado
pelo americano Joseph Callander de abuso e de estupro, em
1993. Os crimes, dizia Callander, tinham ocorrido em 1959,
quando estudou em um extinto
colégio xaveriano do Estado
americano de Massachusetts.
O caso acabou num acordo indenizatório de US$ 175 mil. Na
época, num bilhete, o padre disse que achara "a cura" no Brasil.
Dez anos mais tarde, Callander descobriu que o novo trabalho do padre era com crianças
da tribo caiapó, no Pará. Ele reclamou, e o padre foi enviado à
Itália apenas para, em 2008, retornar ao Brasil. Na internet, o
padre está abraçado a crianças,
em fotos tiradas em Redenção
(PA). "Eu esperava que eles o
mantivessem distante de crianças", disse Callander à Folha.
"Ele merece ficar na cadeia, como qualquer criminoso", disse.
O padre Robert Maloney,
que atuou no acordo entre Pezzotti e Callander, disse que o
colega só pôde trabalhar com
crianças após avaliação e que
não houve queixas contra ele.
De fato, na Amazônia, a denúncia gerou surpresa. "Eu conheci
o padre Mario em 1980 e nunca
ouvir dizer algo a respeito dele.
É uma pessoa correta", disse o
padre xaveriano Renato Trevizan, 67. Os caiapós chamavam
Pezzotti de "tetukre", que quer
dizer pernas pretas, por uma
fratura que ele sofreu. Aos 75,
ele atua na sede da missão em
Parma e não fala do passado.
Outro caso é o do padre jesuíta Clodoveo Piazza, premiado por seu trabalho na Organização de Auxílio Fraterno, que
mantém abrigos em Salvador.
Italiano naturalizado brasileiro, ele chegou a ser secretário
estadual de Desenvolvimento
Social e Combate à Pobreza,
antes de ser alvo de denúncias
de abuso e exploração sexual.
Em 2009, a Promotoria acusou a ele e a um colega de ONG
com base em relatos de vítimas
segundo as quais não só ambos
abusavam como deixavam que
estrangeiros em visita ao país o
fizessem. Como as denúncias
tardaram, a maioria prescreveu, explica a promotora Maria
Eugênia Vasconcelos de Abreu.
Há sete meses, Piazza vive
em uma residência jesuíta na
cidade de Maputo, em Moçambique. Entrevistado pela Associated Press, ele negou os abusos e disse ser vítima de chantagem por parte de "círculos
políticos", que se recusa a citar.
"Isso é propaganda para ganhar dinheiro", disse. Em site,
os jesuítas italianos apoiam o
colega e comentam que a "difamação de missionários é um jogo cada vez mais popular".
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) disse
que transferências e acusações
contra padres são tratadas localmente, mas a reportagem
não conseguiu contato com as
dioceses envolvidas.
Outros casos revelados pela
Associated Press envolvem um
padre que confessou abuso em
Los Angeles e foi transferido
para as Filipinas, onde vive financiado pela igreja; e um padre condenado no Canadá que
voltou a cometer abusos na
França. Clérigos disseram que,
em alguns casos, os padres se
mudaram por iniciativa própria e, em outros, não eram culpados.
(GABRIELA MANZINI)
Com a Associated Press e a Agência Folha
Leia entrevista com
Joseph Callander
www.folha.com.br/1010514
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