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Lula tenta convencer colegas a não punir Irã
Presidente apresenta cúpulas em Brasília para defender posição brasileira ante líderes de China, Índia e África do Sul
Itamaraty diz que dirigentes mostraram ter visões sobre tema similares à brasileira; país insiste em que sanções seriam contraproducentes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou cúpulas e
reuniões bilaterais, ontem, em
Brasília, para tentar atrair o
apoio dos países emergentes à
posição brasileira contrária a
sanções e favorável à manutenção do diálogo com o Irã.
Lula e Jacob Zuma (África do
Sul) cobraram "maior transparência" do Irã quanto a seu programa nuclear, mas o Brasil
continua liderando a resistência a novas sanções ao país, impulsionadas pelos EUA.
"[Lula e Zuma] reafirmaram
posição de que o Irã também
tem que ser mais transparente
e mostrar a todos que seu processo é um processo para fins
pacíficos. [É preciso] deixar isso mais claro, inclusive na
Agência Internacional de Energia Atômica", disse o embaixador Piragibe Tarragô, subsecretário de Assuntos Políticos do
Itamaraty, que participou da
reunião reservada entre os dois
presidentes.
Segundo ele, Lula e Zuma demonstraram "sintonia" com relação ao tema, pois concordam
que o Irã tem soberania para
enriquecer urânio para fins pacíficos e que é necessário dialogar e tentar evitar que o país seja submetido a sanções.
Lula também já havia discutido a questão do Irã, mais cedo, em encontros privados com
o dirigente chinês Hu Jintao e
com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. O chanceler Celso Amorim, que participou das conversas, relatou
depois a jornalistas que Lula
igualmente percebeu uma
"grande afinidade" desses dois
países com a posição brasileira.
A China é peça-chave para a
aprovação de sanções no Conselho de Segurança da ONU, já
que detém poder de veto e vinha até recentemente resistindo até a discutir a possibilidade
de punições. Os EUA, porém,
reiteraram após encontro de
Hu com Barack Obama na segunda-feira que a China aceitara discutir o texto de novas sanções, o que Pequim não confirma oficialmente.
Flexibilidade
Nas conversas com Hu e
Singh, segundo Amorim, Lula
disse que é preciso uma "flexibilidade" iraniana na tentativa
de convencer a comunidade internacional sobre os seus objetivos nucleares, mas, mais uma
vez, disse que as sanções econômicas costumam ser "ineficazes" e "contraproducentes".
Além das reuniões bilaterais,
Lula foi anfitrião de duas reuniões de cúpula ontem em Brasília: a do Ibas (Índia, Brasil e
África do Sul) e a do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O
quinto presidente que estava
no Brasil era Dimitri Medvedev, da Rússia -que também
tem direito a veto no Conselho
de Segurança da ONU, mas que
parece já ter consolidado uma
posição pró-sanções, a exemplo
de EUA, Rússia e França.
O Brasil, que ocupa atualmente um assento provisório
no conselho, comanda, ao lado
da Tuquia, o bloco de países
mais resistentes a sanções. Na
terça, Lula e o premiê turco,
Recep Tayyip Erdogan, se reuniram com Obama à margem
da Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington. Os dois
tentaram convencer o americano a dar mais tempo ao diálogo
com o Irã -o Brasil defende
saída pela qual o país persa envie seu urânio pouco enriquecido à Turquia e receba em troca
urânio enriquecido a 20%, adequado para usos técnicos, mas
inútil para o desenvolvimento
de uma bomba.
Momentos após a reunião,
porém, Obama defendeu que o
Conselho de Segurança da
ONU seja rápido e corajoso na
aplicação de sanções ao Irã.
Hoje, o chanceler turco estará no Brasil, e o Irã deverá ser o
principal tópico de seu encontro com Amorim.
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