São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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Lula tenta convencer colegas a não punir Irã

Presidente apresenta cúpulas em Brasília para defender posição brasileira ante líderes de China, Índia e África do Sul

Itamaraty diz que dirigentes mostraram ter visões sobre tema similares à brasileira; país insiste em que sanções seriam contraproducentes


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou cúpulas e reuniões bilaterais, ontem, em Brasília, para tentar atrair o apoio dos países emergentes à posição brasileira contrária a sanções e favorável à manutenção do diálogo com o Irã.
Lula e Jacob Zuma (África do Sul) cobraram "maior transparência" do Irã quanto a seu programa nuclear, mas o Brasil continua liderando a resistência a novas sanções ao país, impulsionadas pelos EUA.
"[Lula e Zuma] reafirmaram posição de que o Irã também tem que ser mais transparente e mostrar a todos que seu processo é um processo para fins pacíficos. [É preciso] deixar isso mais claro, inclusive na Agência Internacional de Energia Atômica", disse o embaixador Piragibe Tarragô, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, que participou da reunião reservada entre os dois presidentes.
Segundo ele, Lula e Zuma demonstraram "sintonia" com relação ao tema, pois concordam que o Irã tem soberania para enriquecer urânio para fins pacíficos e que é necessário dialogar e tentar evitar que o país seja submetido a sanções.
Lula também já havia discutido a questão do Irã, mais cedo, em encontros privados com o dirigente chinês Hu Jintao e com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. O chanceler Celso Amorim, que participou das conversas, relatou depois a jornalistas que Lula igualmente percebeu uma "grande afinidade" desses dois países com a posição brasileira.
A China é peça-chave para a aprovação de sanções no Conselho de Segurança da ONU, já que detém poder de veto e vinha até recentemente resistindo até a discutir a possibilidade de punições. Os EUA, porém, reiteraram após encontro de Hu com Barack Obama na segunda-feira que a China aceitara discutir o texto de novas sanções, o que Pequim não confirma oficialmente.

Flexibilidade
Nas conversas com Hu e Singh, segundo Amorim, Lula disse que é preciso uma "flexibilidade" iraniana na tentativa de convencer a comunidade internacional sobre os seus objetivos nucleares, mas, mais uma vez, disse que as sanções econômicas costumam ser "ineficazes" e "contraproducentes".
Além das reuniões bilaterais, Lula foi anfitrião de duas reuniões de cúpula ontem em Brasília: a do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e a do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O quinto presidente que estava no Brasil era Dimitri Medvedev, da Rússia -que também tem direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mas que parece já ter consolidado uma posição pró-sanções, a exemplo de EUA, Rússia e França.
O Brasil, que ocupa atualmente um assento provisório no conselho, comanda, ao lado da Tuquia, o bloco de países mais resistentes a sanções. Na terça, Lula e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, se reuniram com Obama à margem da Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington. Os dois tentaram convencer o americano a dar mais tempo ao diálogo com o Irã -o Brasil defende saída pela qual o país persa envie seu urânio pouco enriquecido à Turquia e receba em troca urânio enriquecido a 20%, adequado para usos técnicos, mas inútil para o desenvolvimento de uma bomba.
Momentos após a reunião, porém, Obama defendeu que o Conselho de Segurança da ONU seja rápido e corajoso na aplicação de sanções ao Irã.
Hoje, o chanceler turco estará no Brasil, e o Irã deverá ser o principal tópico de seu encontro com Amorim.


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