São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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SOBREVIVENTES
"Vi pessoas voando", afirma albanês de Kosovo
Refugiados relatam ataque a comboio

France Presse
Corpos de refugiados mortos durante ataque da aviação da Otan a comboio em estrada para Kosovo


KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Prizren


A Folha esteve com um grupo de jornalistas estrangeiros na estrada entre Prizren e Djakovica, em Kosovo, onde o comboio de civis de origem albanesa foi bombardeado por aviões da Otan.
A reportagem viu três dos quatro comboios atacados anteontem e 20 corpos de civis mutilados.
Também foi possível ver o que restou das bombas que atingiram os comboios. Uma delas tinha número de série 962148377NY.
O grupo de cerca de 60 jornalistas foi levado ao local pelo Exército iugoslavo. As condições de segurança eram precárias, e o grupo aguardaria até a manhã de hoje para fazer a viagem de volta até Belgrado, de cerca de cinco horas.
No comboio destruído, os corpos de algumas das vítimas pareciam intocados. Um homem morto jazia sobre o volante de um trator.
Ao lado, sobre a grama, ainda estava a cabeça de um homem, ao lado de uma dezena de corpos, visivelmente mutilados.
O coronel Slobodan Stojanovic, um porta-voz militar que acompanhou a imprensa ao local, disse que a Otan lançou quatro ataques seguidos contra os civis.
No hospital de Prizren, sobreviventes feridos relatavam as cenas do ataque. "Quando as bombas caíram, vi pessoas voando vários metros no ar", disse um homem à agência "Reuters".
"Tudo o que eu podia pensar era, meu Deus, a Otan está nos bombardeando. Eu corri pelo campo como um rato. Tenho vergonha, mas estou muito velho para mentir", contou Dibran Asmani, 80.
Pelo menos 11 feridos ainda estavam internados no local ontem. Alguns relataram que estavam na fronteira com a Albânia, tentando deixar o país, quando tropas sérvias os levaram de volta ao interior da Província de Kosovo.
"Estávamos há duas semanas e meia na fronteira", disse Izmet Sulka, 46, cujos três filhos se recuperam de ferimentos. "Eles nos disseram para partir, porque o local era muito perigoso. Falaram que havia risco de bombardeios."
Os refugiados, então, formaram um comboio e começaram a vagar na estrada por entre vilarejos destruídos. "Não sabíamos para onde queríamos ir. Apenas queríamos ir", disse Djemal Rama, 58. Indagado se eles não temiam ser confundidos com um alvo militar, respondeu: "Não vi nenhum carro de polícia conosco".


Com agências internacionais

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