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CERCO AO EX-DITADOR
Ministro britânico permite prosseguimento do trâmite legal que pode levar à extradição do general à Espanha
Londres autoriza processo contra Pinochet
SYLVIA COLOMBO
de Londres
O ministro do Interior do Reino
Unido, Jack Straw, autorizou ontem a continuação do processo de
extradição do ex-ditador chileno
Augusto Pinochet para a Espanha,
o que impede sua volta ao Chile a
curto prazo.
É a segunda vez que o governo
britânico dá sinal verde para a extradição do general, detido em
Londres desde outubro passado a
pedido da Justiça espanhola, que
pretende julgá-lo por violações aos
direitos humanos ocorridas durante seu governo (1973-90).
Em dezembro de 98, Straw autorizou o processo com base numa
sentença da comissão jurídica da
Câmara dos Lordes (máxima instância do Poder Judiciário britânico), que negou imunidade a Pinochet enquanto ex-chefe de Estado
chileno.
Mas a sentença foi anulada porque um dos lordes possuía ligações
com a Anistia Internacional, que
participa da acusação a Pinochet.
Em março, a comissão voltou a
negar imunidade ao ex-presidente,
mas determinou que ele só poderia
ser extraditado por crimes de tortura ocorridos após 1988.
Naquele ano, a Convenção das
Nações Unidas sobre Tortura passou a vigorar no Reino Unido. A
sentença dos lordes reduziu as
acusações contra Pinochet de 32
para apenas 3. Por causa disso,
Straw também teve de rever sua
autorização.
Mais de 3.000 pessoas morreram
ou desapareceram durante o regime militar no Chile, e dezenas de
milhares foram torturadas. Mas a
maioria das violações das quais Pinochet é acusado ocorreu antes de
1988. O general deixou o poder em
março de 1990.
Em sua nova decisão, Jack Straw
seguiu à risca o veredicto dos lordes britânicos. Autorizou o processo, mas limitou as acusações.
O juiz Baltasar Garzón, responsável pelo processo contra Pinochet na Espanha, chegou a enviar
ao ministro documentos sobre
mais 43 casos de tortura que teriam ocorrido após 88.
Mas, segundo o ministro, os três
casos que sobraram no atual processo já seriam suficientes para
justificar a extradição de Pinochet
para a Espanha.
O ministro disse ter analisado a
possibilidade de extraditar o general para o Chile, onde, segundo o
governo chileno, ele poderia ser
julgado. Mas, segundo ele, isso não
foi possível.
"O Chile não apresentou nenhum pedido de extradição do general Pinochet", afirmou Straw.
"Nada, no direito internacional,
impede a Espanha de julgar o general", escreveu o ministro.
Straw também recusou as supostas "razões humanitárias" -ele
estaria velho e doente- como justificativa para permitir a volta de
Pinochet ao Chile, onde é senador
vitalício.
Processo longo
Agora, a defesa e a acusação iniciarão uma longa batalha jurídica
nos tribunais britânicos, com direito a apelação para instâncias superiores em diversas fases. Não se
sabe quanto tempo levará para que
o processo chegue ao final.
A defesa de Pinochet já conseguiu o adiamento do início das audiências para 30 de abril, sob o argumento de que precisa decidir
qual será sua estratégia.
O ex-presidente continuará detido numa casa no distrito de Surrey
(cerca de uma hora do centro de
Londres), sob vigilância policial
permanente. Ele só pode deixar o
local com ordem judicial por razões médicas.
Ontem, o porta-voz do general,
Patrick Robertson, disse que a decisão de Straw era "espantosa" e
que "agora ele pode apontar o dedo e dizer o que quiser, pois o
mundo inteiro quer transformar
Pinochet num demônio".
"Lutarei até o final para defender
a dignidade de meu país, minha
honra e a de minha instituição (o
Exército)", teria dito o general depois de saber da decisão do ministro britânico.
Foi a primeira declaração de Pinochet sobre o assunto, segundo
um de seus advogados, o chileno
Fernando Barros.
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