São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

Após Carter pedir o fim do embargo, presidente prepara mais restrições ao regime de Fidel

Bush quer apertar ainda mais o cerco a Cuba

France Presse - 14.mai.2002
Carter e Fidel ouvem hino antes de jogo de beisebol em Havana


DA REDAÇÃO

Alheio ao pedido do ex-presidente Jimmy Carter (1977-1981) pelo fim do bloqueio americano a Cuba, anteontem, o presidente George W. Bush deve anunciar na próxima segunda-feira uma política ainda mais restritiva em relação à ilha comunista.
Segundo reportagem publicada ontem pelo jornal "The New York Times", citando funcionários do governo, Bush deve utilizar seu discurso na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, na próxima semana, para anunciar medidas para aumentar a pressão econômica sobre Cuba e o isolamento político do ditador Fidel Castro.
Carter, que visita a ilha a convite de Fidel, fez um discurso, transmitido ao vivo anteontem pela TV cubana, sem censura, no qual condenou o embargo a Cuba, vigente há quatro décadas, mas pediu a abertura política do país.
A visita, que se encerra amanhã, é a primeira de um presidente americano, no cargo ou fora dele, desde 1928.
As medidas que Bush pretende anunciar incluiriam um endurecimento nas restrições para americanos viajarem a Cuba, a ajuda a dissidentes políticos e o fortalecimento das transmissões de informações dos EUA para a ilha.
Os EUA também devem pedir a países europeus e latino-americanos, particularmente Espanha e México, uma ajuda para os cubanos críticos ao governo.
A iniciativa de Bush ocorre enquanto cerca de 40 congressistas, republicanos e democratas, preparam um projeto para relaxar as sanções impostas a Cuba.
Bush elogiou o pedido de Carter por reformas políticas em Cuba, mas defendeu o embargo comercial. "O presidente acredita que o embargo comercial seja parte essencial da política externa e de direitos humanos dos EUA em relação a Cuba", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. "O comércio com Cuba não beneficia o povo cubano. É usado para incentivar um regime repressivo."
O secretário de Estado americano, Colin Powell, também disse que o embargo não será revisto. "O presidente Carter fala sobre seus pensamentos, sobre o que ele gostaria de ver mudado, mas que não vai mudar", disse.
A política dos EUA em relação a Cuba tem sido colocada em evidência nos últimos dias por conta da visita de Carter e das acusações americanas sobre o suposto desenvolvimento de armas químicas pelo governo cubano. Carter, após visitar um centro de pesquisas de biotecnologia, na segunda-feira, afirmou que não há provas que sustentem a acusação do governo americano.

Reação
Um dia após criticar o regime político cubano, Carter almoçou ontem com o principal assessor da ilha para relações com os EUA. Não houve reação oficial ao discurso de Carter na véspera.
A imprensa cubana, controlada pelo governo, evitou publicar as críticas do ex-presidente americano. "Cuba o escutou com respeito e, de igual maneira, respondeu com sua verdade", disse o diário "Granma", órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, que não publicou a íntegra do discurso.
O jornal publicou as críticas de Carter à política americana em relação a Cuba, mas omitiu o seu pedido por abertura política.
O "Granma" também não citou as referências de Carter ao Projeto Varela, abaixo-assinado da dissidência interna cubana pedindo um referendo pela abertura democrática no país.
Na sexta-feira passada, os organizadores do Projeto Varela entregaram à Assembléia Nacional uma lista com 11 mil assinaturas, mais que o exigido pela Constituição para pedir um referendo. Até agora, o governo vem ignorando a iniciativa.
Os principais líderes dissidentes cubanos disseram que o discurso de Carter superou suas expectativas, mas que mantêm o ceticismo sobre a possibilidade de Fidel permitir mudanças no regime comunista de partido único.
"As palavras de Carter ultrapassaram todas as expectativas do movimento pelos direitos humanos e pela democracia", disse o ativista Elizardo Sánchez. "Mas eu não posso esconder meu ceticismo. O maior obstáculo é o fundamentalismo de Fidel", afirmou.
Carter deve se reunir hoje com um grupo de até 20 dissidentes.

Com agências internacionais

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