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Grampo derruba cúpula policial na Colômbia
Polícia Nacional fazia escutas ilegais havia dois anos de conversas de opositores, jornalistas e até de membros do governo Uribe
Prisão de governistas que mantinham ligações com paramilitares amplia crise; escândalos prejudicam relação de Uribe com EUA
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, mudou ontem o comando da Polícia Nacional do
país, após a descoberta de que
policiais grampeavam ligações
de opositores, jornalistas e até
de autoridades do governo.
No sábado, a revista "Semana", de Bogotá, revelou que há
dois anos líderes paramilitares
tinham suas conversas gravadas em prisões de segurança
máxima. Da cadeia, continuavam a dar ordens e operar negócios, ao estilo do grupo paulistano PCC.
O governo determinou investigar a procedência das gravações, e o que se descobriu, na
segunda-feira, é que os grampos atingiam políticos governistas e opositores, jornalistas
e funcionários públicos.
Para contornar o escândalo,
Uribe nomeou o general Óscar
Naranjo, diretor da Polícia Judicial, como novo chefe da Polícia Nacional. Onze generais do
atual comando tiveram que renunciar. Naranjo participou
das operações que derrotaram
os cartéis de Medellín e Cali.
Uribe já enfrentava outra crise na segunda-feira, quando a
Justiça colombiana ordenou a
prisão de vinte políticos por
vínculos com os paramilitares.
Entre eles, quatro senadores
governistas e primos da ministra das Comunicações, María
del Rosario Guerra.
Surpresa
O ministro da Defesa, Juan
Manuel Santos, disse que o governo "não sabia da existência
dos grampos policiais, nem sabe quem os ordenou".
Santos não revelou os nomes
dos alvos das escutas, mas
adiantou que o líder opositor
Carlos Gaviria foi grampeado.
Ele foi o candidato presidencial
pelo Polo Democrático Alternativo, maior partido de esquerda do país, e ficou em segundo lugar nas eleições do ano
passado, quando Uribe foi reeleito com ampla maioria.
O presidente ainda não fez
declarações a respeito dos
grampos, nem dos políticos
presos na segunda-feira. Em
entrevista exclusiva à Folha,
em março, Uribe disse que os
vínculos com os "paras" foram
descobertos graças à desmobilização desses grupos e que a
Justiça fazia a sua parte.
Infiltrados
Um dos maiores feitos de que
o governo Uribe se orgulha é o
acordo para a desmobilização
dos grupos paramilitares. Esses
grupos surgiram nos anos 80
para proteger fazendeiros das
guerrilhas de esquerda. Mas logo também se envolveram com
o narcotráfico e os seqüestros, e
são acusados de matar 10.000
pessoas.
Desde que, em 2005, convenceu 31 mil homens a entregarem as armas, em troca de penas mais leves a seus crimes,
Uribe acreditava que conseguiria convencer as guerrilhas de
esquerda a fazer o mesmo -o
que jamais aconteceu.
Para piorar, as gravações revelam que alguns paramilitares
continuaram no crime, mesmo
na cadeia. E que eles tinham relações -políticas, econômicas
ou de proteção - com políticos
conservadores que apóiam o
governo Uribe.
Essas relações salpicaram o
ministério. A chanceler Maria
Consuelo Araújo teve que renunciar em fevereiro, depois
que seu irmão foi preso por tais
vínculos.
Esses escândalos, somados a
denúncias de abusos dos direitos humanos, complicaram a
relação de Uribe com os EUA,
país que patrocina sua luta contra o narcotráfico.
Aliado incondicional do presidente americano, George W.
Bush, Uribe enfrenta duras críticas da maioria democrata do
Congresso americano, que não
quer aprovar um tratado de livre comércio entre os EUA e a
Colômbia.
Apesar dos escândalos, Uribe
conserva 75% de aprovação popular. Em agosto, ele completa
cinco anos no poder.
Com agências internacionais
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