São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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Grampo derruba cúpula policial na Colômbia

Polícia Nacional fazia escutas ilegais havia dois anos de conversas de opositores, jornalistas e até de membros do governo Uribe

Prisão de governistas que mantinham ligações com paramilitares amplia crise; escândalos prejudicam relação de Uribe com EUA

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, mudou ontem o comando da Polícia Nacional do país, após a descoberta de que policiais grampeavam ligações de opositores, jornalistas e até de autoridades do governo.
No sábado, a revista "Semana", de Bogotá, revelou que há dois anos líderes paramilitares tinham suas conversas gravadas em prisões de segurança máxima. Da cadeia, continuavam a dar ordens e operar negócios, ao estilo do grupo paulistano PCC.
O governo determinou investigar a procedência das gravações, e o que se descobriu, na segunda-feira, é que os grampos atingiam políticos governistas e opositores, jornalistas e funcionários públicos.
Para contornar o escândalo, Uribe nomeou o general Óscar Naranjo, diretor da Polícia Judicial, como novo chefe da Polícia Nacional. Onze generais do atual comando tiveram que renunciar. Naranjo participou das operações que derrotaram os cartéis de Medellín e Cali.
Uribe já enfrentava outra crise na segunda-feira, quando a Justiça colombiana ordenou a prisão de vinte políticos por vínculos com os paramilitares. Entre eles, quatro senadores governistas e primos da ministra das Comunicações, María del Rosario Guerra.

Surpresa
O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, disse que o governo "não sabia da existência dos grampos policiais, nem sabe quem os ordenou".
Santos não revelou os nomes dos alvos das escutas, mas adiantou que o líder opositor Carlos Gaviria foi grampeado. Ele foi o candidato presidencial pelo Polo Democrático Alternativo, maior partido de esquerda do país, e ficou em segundo lugar nas eleições do ano passado, quando Uribe foi reeleito com ampla maioria.
O presidente ainda não fez declarações a respeito dos grampos, nem dos políticos presos na segunda-feira. Em entrevista exclusiva à Folha, em março, Uribe disse que os vínculos com os "paras" foram descobertos graças à desmobilização desses grupos e que a Justiça fazia a sua parte.

Infiltrados
Um dos maiores feitos de que o governo Uribe se orgulha é o acordo para a desmobilização dos grupos paramilitares. Esses grupos surgiram nos anos 80 para proteger fazendeiros das guerrilhas de esquerda. Mas logo também se envolveram com o narcotráfico e os seqüestros, e são acusados de matar 10.000 pessoas.
Desde que, em 2005, convenceu 31 mil homens a entregarem as armas, em troca de penas mais leves a seus crimes, Uribe acreditava que conseguiria convencer as guerrilhas de esquerda a fazer o mesmo -o que jamais aconteceu.
Para piorar, as gravações revelam que alguns paramilitares continuaram no crime, mesmo na cadeia. E que eles tinham relações -políticas, econômicas ou de proteção - com políticos conservadores que apóiam o governo Uribe.
Essas relações salpicaram o ministério. A chanceler Maria Consuelo Araújo teve que renunciar em fevereiro, depois que seu irmão foi preso por tais vínculos.
Esses escândalos, somados a denúncias de abusos dos direitos humanos, complicaram a relação de Uribe com os EUA, país que patrocina sua luta contra o narcotráfico.
Aliado incondicional do presidente americano, George W. Bush, Uribe enfrenta duras críticas da maioria democrata do Congresso americano, que não quer aprovar um tratado de livre comércio entre os EUA e a Colômbia.
Apesar dos escândalos, Uribe conserva 75% de aprovação popular. Em agosto, ele completa cinco anos no poder.


Com agências internacionais


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